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SUDÃO SUL: “Apesar da presença de tantas armas” é possível o “caminho da paz”, afirma o novo Bispo de Rumbek
O Sudão do Sul vive um tempo muito especial. No espaço de poucas semanas, foi ordenado o Bispo de Rumbek, a 25 de Março, depois de ter sido ferido num ataque no ano passado, e no domingo, 3 de Abril, o presidente Salva Kiir e o seu rival Riek Machar assinaram um acordo que faz renascer as esperanças de uma paz duradoura para este país que vai ser visitado pelo Santo Padre entre os dias 5 a 7 de Julho. Uma visita que vai ser seguramente acompanhada com muita emoção por D. Christian Carlassare.
Numa entrevista ao secretariado espanhol da Fundação AIS, o missionário italiano que o Papa Francisco colocou à frente da diocese católica de Rumbek fala dos problemas que o Sudão do Sul enfrenta e também do atentado que sofreu. E tem palavras de esperança para o futuro para o mais jovem país do mundo. “A população sofre devido aos conflitos, à instabilidade, à pobreza endémica e à falta de serviços. A Igreja sofre das mesmas feridas que a população, como a pobreza e as cicatrizes da violência. O ataque que sofri foi um sinal claro disto”, diz D. Carlassare.
A notícia do atentado de que foi vítima correu mundo e adiou durante quase um ano a sua ordenação como Bispo de Rumbek. Ainda hoje, diz, recorda o que se passou como “um grande choque”. “Estive em muitas situações perigosas no Sudão do Sul, mas nunca me senti em perigo, porque estava protegido pelo povo. Mas naquele dia [na madrugada de 25 para 26 de Abril de 2021], deparei-me com dois jovens que me apontavam armas, durante a noite, e sem ter para onde fugir. Eles atiraram em mim, mas felizmente o Senhor guiou as balas e eu não fiquei muito ferido. Atingiram os músculos das minhas pernas, mas falharam em áreas vitais. Este foi um momento de graça, porque me deu a humildade de ser como o povo, carregando as mesmas feridas que o povo”, diz em entrevista a Raquel Martin, da Fundação AIS de Espanha.
Para o novo Bispo de Rumbek há um sinal entre o que lhe aconteceu e o caminho que o Sudão do Sul tem também de percorrer. “Eu interpreto isto como um sinal para me recompor e mostrar que também eles podem voltar a pôr-se de pé, apesar das feridas causadas por um conflito interminável, apesar da presença de tantas armas, tantos territórios ocupados por milícias e pessoas deslocadas. Quando confrontados com este desespero, temos de dar esperança de que as suas feridas podem ser curadas, que podemos voltar a pôr-nos de pé e caminhar pelo caminho da paz”, afirmou o prelado.
FUTURO INCERTO
O futuro é incerto no Sudão do Sul. Se olharmos apenas para o seu passado mais recente, houve mais tempo em conflitos e guerras do que em paz. A crise humanitária é brutal. Os números, na sua frieza, dizem tudo. O Sudão do Sul é um dos países com a maior crise de deslocados e refugiados do continente africano. Actualmente, estão cerca de 2,2 milhões de sul-sudaneses refugiados em países da região, nomeadamente a Etiópia, Sudão e Uganda. Dentro de fronteiras, como deslocados internos, serão 1,6 milhões. Cerca de 60 por cento da população do país sofre, segundo as Nações Unidas, de “insegurança alimentar”. E na frieza destes números não é possível esconder os cerca de 400 mil mortos da guerra que começou pouco depois da independência.
Por tudo isto, pode dizer-se que o Sudão do Sul vive um tempo especial. O aperto de mãos no domingo, 3 de Abril, entre o presidente Salva Kiir e o seu rival Riek Machar faz renascer as esperanças numa paz que tarda. Em causa está a criação de um exército comum, ultrapassando rivalidades entre os dois líderes e abrindo caminho para um tempo de concórdia que o Sudão do Sul nunca conheceu desde que ganhou a sua emancipação do vizinho do norte, o Sudão, vai fazer 11 anos a 9 de julho.
O aperto de mão entre os dois homens é um sinal também positivo para a visita do Santo Padre ao país, agendada para os dias 5 a 7 de Julho, quase um prelúdio para os festejos desse dia da independência. Para D. Christian Carlassare é preciso apoiar a cooperação com África, para que o desenvolvimento ajude a combater as desigualdades que são também fonte de discórdia e de violência. “Mantenhamo-nos unidos no amor que temos por este continente, África, que certamente tem grandes dons para dar ao mundo, e a uma Europa envelhecida e necessitada do vigor e da vida juvenil que África pode proporcionar” disse o novo Bispo de Rumbek à Fundação AIS.
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