A guerra civil continua a fazer vítimas no Sudão, com os combates entre o exército e as milícias da RDF a atingirem populações civis. Um missionário católico enviou uma curta mensagem para a Fundação AIS Internacional a pedir as orações de todos pela paz e explicando que a situação no terreno continua muito grave, referindo ter havido explosões perto da casa onde se encontra e que uma mulher ficou mesmo gravemente ferida…
O Sudão está a ferro e fogo, com combates ferozes desde 15 de Abril entre o exército sudanês e as Forças de Apoio Rápido (RSF), um grupo paramilitar. É uma dramática luta pelo poder, uma luta entre dois generais, Abdel Fattah al-Burhan, o actual presidente, que tem o exército sob as suas ordens, e Mohammed Hamdan Daglo, o então vice-presidente, também conhecido por Hemedti, e que controla a RSF, as Forças de Apoio Rápido.
Desde o início das hostilidades calcula-se que mais de cinco mil pessoas perderam já a vida e há cerca de quatro milhões de deslocados ou refugiados, segundo as Nações Unidas, com muitos sudaneses a fugiram rumo a países vizinhos. Neste contexto de grande violência e enorme incerteza, a Igreja Católica continua presente junto das populações, apesar do enorme risco que a situação de guerra provoca. Isso mesmo foi testemunhado por um missionário que enviou uma mensagem para a Fundação AIS Internacional e em que dá conta de um bombardeamento muito perto da casa onde vive.
Por óbvias questões de segurança, o nome do missionário e a localização em que se encontra não podem ser revelados. “Hoje, houve explosões a cerca de 150 metros da nossa casa, quando as RSF tentaram bombardear duas ou três casas onde o exército estava a actuar! Uma senhora ficou com o corpo todo ferido com objectos cortantes provocados pela explosão.”
Apesar da violência descrita, o missionário explica que a comunidade continua unida e a rezar em conjunto. “Tivemos a Eucaristia dominical na capela das Irmãs. Cerca de trinta fiéis participaram na mesma.” A mensagem termina com um apelo às orações de todos para que a guerra possa chegar ao fim neste país de África. “Por favor, continuem a rezar pela paz no Sudão!”
ONU pede ajuda
Com os combates a decorrer e que impossibilitam, muitas vezes, o acesso de ajuda humanitária, a situação no terreno tem vindo a agravar-se com problemas também ao nível sanitário, com altas taxas de malnutrição e epidemias de cólera e de sarampo.
Perante este cenário, a ONU, através do ACNUR, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, informou, no dia 4 de Setembro, que precisa de mais recursos para apoiar as pessoas que se encontram sem assistência. “Os parceiros no terreno fazem o possível para apoiar aqueles que chegam e os seus anfitriões, mas sem recursos suficientes por parte dos doadores, estes esforços vão ser severamente reduzidos”, alerta o ACNUR.
Igreja presente
De facto, o conflito armado no Sudão não tem poupado nada nem ninguém. Os cristãos têm sido vítimas também desta guerra que tem vindo a provocar morte e destruição em larga escala desde Abril.
O Padre Jorge Carlos Naranjo, um missionário comboniano espanhol que trabalhou durante vários anos no Sudão – e que se encontrava de férias em Espanha quando os combates tiveram início – explicou recentemente à Fundação AIS que “algumas igrejas foram atacadas pelas Forças de Apoio Rápido, incluindo a catedral copta de Cartum, que foi ocupada e transformada num centro de comando”.
O Padre Naranjo disse ainda que “a catedral copta de Omdurman também foi atacada e saqueada”, tal como a catedral Episcopal de Todos os Santos, em Cartum, “que também foi atacada por soldados da RSF”. “Algumas das nossas igrejas também foram saqueadas”, acrescentou o missionário.
Segundo o padre comboniano espanhol, a maioria dos cristãos sudaneses é das montanhas Nuba e alguns voltaram para lá, por causa da guerra, mas “outros permaneceram em El-Obeid” e alguns que estavam em Cartum “ainda estão por lá”. O missionário espanhol explicou que neste país existe uma grande comunidade de cristãos coptas ortodoxos. Segundo o sacerdote, todos os que permanecem nas áreas de conflito, cristãos ou não, enfrentam dificuldades tremendas e isso inclui escassez de alimentos, água potável e electricidade, o que torna a vida quotidiana muito complicada.
Apesar das dificuldades de contacto com os responsáveis de projectos no terreno, a Fundação AIS continua empenhada no apoio às comunidades cristãs no Sudão e procura também alertar o mundo para que esta não seja mais uma guerra esquecida em África.