SUDÃO DO SUL: “Não estamos sozinhos, ficou essa esperança”, diz religiosa portuguesa no final da visita do Santo Padre

SUDÃO DO SUL: “Não estamos sozinhos, ficou essa esperança”, diz religiosa portuguesa no final da visita do Santo Padre

“Aqui já é de noite e o Papa já chegou a Roma, mas ainda vivemos o rescaldo destes três dias em que o Papa esteve aqui connosco e fez ver ao mundo inteiro que o Sudão Sul tem coisas muito boas, muito boas…” A Irmã Beta Almendra, uma comboniana portuguesa em missão no Sudão do Sul, descreveu assim, já ao fim do dia de ontem, uma primeira impressão desta viagem do Santo Padre ao mais novo país do mundo.

Numa mensagem enviada para a Fundação AIS em Lisboa, a irmã – que desenvolve o seu trabalho com jovens, em especial raparigas, na Diocese de Wau – salientou a importância desta viagem de Francisco pois ajudou a colocar o Sudão do Sul no centro da actualidade, lembrando ao mundo que este “é um país que sofre com insegurança, com as consequências de uma guerra, pois ainda há gente que sofre e que morre”.

De facto, a viagem do Papa ficou marcada pelos apelos ao fim da violência, à concórdia, à superação das antipatias e aversões, mas também a um desafio concreto para os cristãos, que representam cerca de 50% da população do país, serem agentes dessa mudança. “O Papa foi muito, muito assertivo, muito directo, dizendo: ‘se és cristão, se és de Cristo, não és do mal. Ou uma coisa ou outra. Se és cristão não matas, se és cristão dás paz ao teu povo”, sintetizou a religiosa.

Beta Almendra acredita que as palavras do Papa vão ter um enorme eco no país e traduzem uma certeza reconfortante: a de que o Sudão do Sul não está esquecido, não foi abandonado. “Foi uma mensagem de grande esperança, de grande convicção, , as também com recados muito directos a todos”, diz Beta Almendra. “A mensagem do Papa ficou gravada no nosso coração”, acrescenta ainda a religiosa, referindo-se ao “amor que o Papa teve por nós”, mas também a certeza “de que toda a Igreja está connosco”. Por tudo isto, a irmã conclui: “Não estamos sozinhos, ficou essa esperança!”.

Independente desde 2011, mas em guerra após 2013, a curta história do Sudão do Sul está carregada de sofrimento e violência. E o Papa fez questão de lançar um veemente apelo à deposição das armas, à construção real da paz. “Em nome de Jesus, das suas Bem-aventuranças, deponhamos as armas do ódio e da vingança para abraçar a oração e a caridade; superemos as antipatias e aversões que, com o passar do tempo, se tornaram crónicas e correm o risco de levar à contraposição de tribos e de etnias; aprendamos a colocar nas feridas o sal do perdão”, disse ontem, durante a homilia da Missa a que presidiu no recinto do memorial a John Garang, em Juba.

Este desafio para que os cristãos assumam com as suas próprias mãos o desafio da construção da paz no Sudão do Sul, foi algo que contagiou a multidão que acompanhou sempre o Santo Padre e que a Irmã Beta Almendra sentiu também nas pessoas com quem se cruzou nestes dias de festa em que o mais novo país do mundo acolheu não só o Papa Francisco mas também o arcebispo Justin Welby, primaz da Igreja Anglicana, e o pastor Iain Greenshields, moderador da Igreja da Escócia.

A urgência do fim da guerra, que deu origem a uma crise humanitária brutal – que o Papa denunciou como “a maior crise de refugiados do continente” africano –, é algo que, para a irmã Almendra não merece qualquer dúvida. “Todos me dizem o mesmo: querem a paz, querem um país com paz, com segurança, pois tudo isso traz melhor qualidade na educação, melhores serviços primários, nos hospitais, nos serviços sociais… tudo isso é muito, muito importante.”

Não é fácil traduzir-se uma viagem tão significativa numa curta frase, mas, para a Irmã Beta Almendra, há uma expressão bem portuguesa que sintetiza o que lhe vai na alma: “As pessoas ficaram de coração cheio, contentes por estarem com o Papa e de rezarem com ele…Que Deus oiça as suas orações, que Deus iça as nossas orações para que a paz seja realmente um caminho possível”.

PA | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

Relatório da Liberdade Religiosa

Dado que a grande maioria da população é cristã, os incidentes de violência registados contra fiéis cristãos estiveram menos relacionados com a liberdade religiosa do que com outras questões. Não obstante, foram registados ataques de extremistas islâmicos nas regiões do Norte que sofrem uma invasão islâmica. A situação da liberdade religiosa deve continuar sob observação.

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