O Dicastério para a Causa dos Santos, no Vaticano, vai receber o pedido formal para a abertura do processo para a causa da canonização das vítimas dos atentados de Domingo de Páscoa de 2019. A Igreja Católica do Sri Lanka avança com este processo no próximo dia 21, data em que se assinalam exactamente os cinco anos dos ataques terroristas em três igrejas e três hotéis que causaram 279 mortos e mais de meio milhar de feridos.
A Igreja Católica do Sri Lanka vai avançar no próximo dia 21 de Abril com o pedido formal para o arranque do processo para a canonização dos fiéis que morreram em consequência dos brutais atentados terroristas de há cinco anos, no Domingo de Páscoa de 2019. O pedido será submetido ao Dicastério para as Causas dos Santos.
Os atentados terroristas, que foram prontamente reivindicados pelo Daesh, o grupo jihadista Estado Islâmico, causariam 279 mortos e mais de 500 feridos com explosões em três Igrejas e três hotéis. Destes, 171 eram fiéis católicos que participavam na Missa da Ressurreição nas Igrejas de São Sebastião de Negombo e Santo António de Kochchikade – extremamente popular no país. Houve também vítimas mortais na igreja evangélica de Sião de Batticaloa.
Todas as explosões ocorreram num espaço de tempo relativamente curto o que levou de imediato as autoridades a concluírem que se tratou claramente de um atentado coordenado. No entanto, apesar de o Daesh ter assumido a autoria dos ataques, as autoridades do Sri Lanka atribuíram a responsabilidade a um grupo radical local, conhecido como National Thowheeth Jama’ath, que teria recebido apoio do exterior.
Para a Igreja, o apuramento da verdade sobre os terríveis acontecimentos que enlutaram do Domingo de Páscoa de há cinco anos é algo de absolutamente crucial. O cardeal Malcolm Ranjith, da Arquidiocese de Colombo, tem sido uma das vozes mais activas neste processo, tendo reclamado uma investigação completa às autoridades, tanto mais que foram reveladas informações que apontavam para uma atitude negligente por parte dos serviços de segurança.
Também o Papa Francisco tem pedido às autoridades o apuramento do que se passou, quem arquitectou os atentados e se houve ou não conivência com os terroristas. Em Abril de 2022, o Santo Padre pediu mesmo o esclarecimento definitivo da verdade. “Por favor e por uma questão de justiça, por amor ao seu povo, que fique definitivamente esclarecido quem foi o responsável por estes acontecimentos. Isto trará paz à sua consciência e à nação”, disse o Papa.
O SANGUE DAS VÍTIMAS CLAMA POR JUSTIÇA
Há dois anos, em entrevista a Mark von Riedmann, director de Relações Internacionais da Fundação AIS, o Arcebispo de Colombo, de visita à sede da instituição, na Alemanha, falou sobre as investigações que, entretanto, foram sendo promovidas sobre os atentados e que resultaram em cerca de 23 mil acusações sobre 25 pessoas.
No entanto, disse na ocasião, há ainda muitas perguntas sem resposta e o sangue de todas as vítimas “clama aos céus por justiça”. Até porque, diz, “alcançar de alguma forma a justiça para o nosso povo não significa a vingança, mas descobrir quem realmente fez isso e porquê… Não houve nenhuma provocação. As vítimas nunca fizeram nada de prejudicial a ninguém”, afirmou o Cardeal, pedindo a todos os fiéis em todo o mundo que rezem pelos cristãos do Sri Lanka.
“A coisa mais importante é orar porque o Senhor é mais poderoso do que qualquer outra pessoa. O Senhor pode-nos dar justiça através da oração. A oração contínua é importante para nós. E, também, um espírito de solidariedade e compreensão de que nesses ataques não apenas cingaleses, mas também vários americanos e europeus foram mortos. Houve 47 mortos de 14 países e 82 crianças. O sangue de todas essas pessoas clama aos céus por justiça. E como pastor dessas pessoas, eu represento Deus. Eu tenho que ficar do lado de Jesus Cristo e do lado dos pobres e dos sem voz pela justiça, e é por isso que estou pedindo a todos que rezem por nós e estejam connosco em solidariedade.”
Cardeal Malcolm Ranjith
SOLIDARIEDADE DA FUNDAÇÃO AIS
Desde o primeiro momento, logo após os atentados terroristas, a Fundação AIS manifestou a sua profunda proximidade para com a comunidade católica local, o que tem sido reconhecido pela Igreja do Sri Lanka.
Logo no ano seguinte, em 2020, o Cardeal Ranjith fez questão de gravar até uma mensagem de agradecimento por tudo o que estava a ser feito, por toda a solidariedade dos benfeitores e amigos da Ajuda À Igreja que Sofre em todo o mundo para com a pequena comunidade local, especialmente as vítimas dos atentados e seus familiares:
“Foi difícil enfrentar os desafios que se seguiram imediatamente aos atentados, principalmente ajudar estas pessoas a reconstruir as suas vidas. Não foi difícil reconstruir as igrejas, tarefa em que o nosso Governo participou generosamente, mas foi mais difícil para nós reconstruir as vidas das pessoas afectadas por esta violência. Por isso, a vossa ajuda, a vossa oração, a vossa proximidade connosco constituiu uma enorme ajuda, pelo que agradeço a cada um de vós. Gostaria de vos pedir que continuem a ajudar-nos através da vossa oração e generosidade, mesmo no futuro. Desejo a todos as bênçãos de Deus”, disse o Cardeal de Colombo.
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt