Portugal foi dos primeiros secretariados da Fundação AIS a avançar com um apelo aos seus benfeitores e amigos para um gesto de solidariedade para com os cristãos de Alepo, a segunda cidade da Síria que caiu, na semana passada, nas mãos de grupos rebeldes antigovernamentais. “Estamos em contacto com padres e irmãs que nos dizem que as pessoas estão assustadas e que não sabem o que fazer”, diz Catarina Bettencourt, directora da AIS. Ajuda para a sobrevivência das pessoas deslocadas, com alimentos, colchões e cobertores, são algumas das prioridades.
Estavam a amassar pão para distribuir pela população quando dois mísseis russos atingiram, no domingo, 1 de Dezembro, o terreno do colégio dos franciscanos em Alepo. Os dois frades que estavam em casa “milagrosamente” sobreviveram, mas ficaram “em estado de choque”.
Este incidente, que o padre Firas Lufti, superior dos franciscanos para a Síria, Jordânia e Líbano, classificou como “inaceitável”, é um sinal da situação extremamente grave que se vive nesta cidade. Desde que os militantes jihadistas tomaram conta de Alepo, no final da semana passada, calcula-se que já terão morrido várias centenas de pessoas, mais de 350, segundo o Vatican News, e há já milhares de deslocados, de pessoas que procuram fugir da região.
Neste contexto de enorme incerteza e medo, a Fundação AIS acaba de lançar um apelo urgente aos seus benfeitores e amigos em Portugal e em todo o mundo para rezarem pela paz e para ajudarem a comunidade cristã que reside na região de Alepo. São cerca de 25 mil cristãos e estão agora como que encurralados na cidade que se poderá transformar num feroz campo de batalha.
Estamos em contacto com padres e irmãs que nos dizem que as pessoas estão assustadas e cansadas e que não sabem o que fazer, pois temem que a cidade de Alepo volte a ser bombardeada, volte a ser destruída como já aconteceu durante os anos mais ferozes da guerra civil.
Catarina Martins de Bettencourt, directora da Fundação AIS em Portugal
“E de Alepo, da Síria, estamos a receber mensagens, apelos por ajuda. Pedem-nos que rezemos pela paz, para que o tormento da guerra civil não volte de novo a sacrificar ainda mais a Síria, e pedem-nos ajuda. Neste momento, toda a ajuda é bem-vinda”, acrescenta Catarina Bettencourt. Face a tudo isto, a Fundação AIS em Portugal avançou já com uma campanha ‘online’ de apoio aos cristãos de Alepo, de apoio aos cristãos da Síria.
CAMPANHA GLOBAL
A iniciativa da AIS de Portugal insere-se na campanha global lançada a nível internacional pela fundação pontifícia em que se procura dar uma resposta de emergência para as situações mais urgentes, nomeadamente ao nível da assistência médica para doentes idosos e crónicos, assim como para a sobrevivência no imediato das pessoas deslocadas, através do fornecimento de alimentos, colchões e cobertores para as famílias tanto em Alepo como noutras zonas.
“A situação é mesmo crítica”, reforça Catarina Bettencourt. “Ninguém sabe como tudo isto vai evoluir, mas a comunidade cristã tem sido terrivelmente penalizada pela guerra que começou em 2011 e, como se está a ver agora, com este avanço jihadista na região de Alepo, ainda não terminou”, diz ainda a responsável do secretariado nacional da AIS.
HOMS ACOLHE REFUGIADOS
D. Jacques Mourad – que sabe como poucos o que significa a violência jihadista pois foi, ele próprio, sequestrado por um comando jihadista em Maio de 2015 tendo suportado longos meses de cativeiro – denunciou ontem, dia 3 de Dezembro, que há já um número elevado de refugiados oriundos de Alepo.
Em declarações à agência Fides, o arcebispo sírio-católico de Homs referiu que muitos refugiados, “também cristãos”, chegaram a Homs nos primeiros dias após o ataque dos grupos armados. “Não estávamos preparados para tudo isto”, explicou o prelado, que enfatizou a ajuda que a Igreja está a receber de organizações como a Fundação AIS.
“Organizámos dois pontos de acolhimento com a ajuda dos Jesuítas e contando também com a disponibilidade de apoio manifestado pela Ouvre d’Orient e pela Ajuda à Igreja que Sofre. Para ajudar os refugiados são necessários alimentos, colchões, cobertores e diesel”, acrescentou D. Jacques Mourad.
“AS PESSOAS ESTÃO ENCURRALADAS”
Os relatos que chegam da cidade de Alepo ajudam a explicar o medo que os cristãos estão a sentir em todo o país e as preocupações dos responsáveis da Igreja como o arcebispo sírio-católico de Homs.
Marielle Boutros, coordenadora de projectos da Fundação AIS para a Síria e Líbano, descreve o ambiente em Alepo com a chegada dos militantes jihadistas.
Os serviços básicos estão paralisados, com apenas dois hospitais a funcionar para casos críticos. As reservas alimentares são insuficientes, os preços subiram e a população enfrenta a dupla ameaça dos bombardeamentos e da insegurança no terreno. O clima de medo é constante. As pessoas estão encurraladas; ninguém pode entrar ou sair da cidade.
Marielle Boutros
“Um médico arménio foi morto por um franco-atirador e um autocarro que tentava partir para Hassake foi também atacado”, disse Boutros. “Os serviços básicos entraram em colapso: as escolas não estão a funcionar e os bancos deixaram de funcionar, deixando as pessoas sem acesso aos seus salários”, acrescentou a coordenadora local de projectos da AIS.
IGREJA AO LADO DOS QUE MAIS SOFREM
No entanto, apesar deste ambiente de medo e de incerteza, quando se espera que a cidade se venha a transformar num campo de batalha com as forças do exército sírio a tentaram desalojar os militantes jihadistas, a Igreja permanece junto das populações a “trabalhar incansavelmente para consolar e ajudar os mais vulneráveis”, como explicou já Maria Lozano, directora Internacional de comunicação da Fundação AIS.
Também o Secretário-Geral da Fundação AIS Internacional sinaliza o momento extremamente grave que se está a viver. “Os ataques aéreos, juntamente com o controlo rigoroso das facções rebeldes que tomaram a cidade, transformaram a sobrevivência numa luta diária. Este é um momento de unidade e de acção. A Fundação AIS exorta a comunidade cristã de todo o mundo a unir-se em oração por Alepo, pedindo paz, protecção e esperança para todos os cidadãos.”
A Síria é um dos países prioritários para a Fundação AIS. Exemplo disso, ao longo dos últimos seis anos, houve sempre, em Portugal, uma campanha ou uma iniciativa especial durante a época de Natal em apoio à sofrida comunidade cristã. “Este ano, por causa do que está a acontecer em Alepo, é mais do que uma simples campanha de Natal. É mesmo uma campanha de emergência humanitária”, sublinha Catarina Bettencourt.
AJUDA DE EMERGÊNCIA
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Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt