SÍRIA: “O futuro é sombrio, não sabemos o que vamos fazer”, diz Bispo de Alepo pedindo o fim das sanções ao país

No primeiro aniversário do brutal terramoto que atingiu o norte da Síria, o bispo arménio ortodoxo de Alepo, Magar Ashkarian, apelou, através da Fundação AIS, ao fim das sanções económicas impostas ao país, dizendo que a situação está a tornar-se “intolerável” para as famílias. Também o responsável de projectos da AIS para a Síria, Stephen Bisits, sublinha a urgência da ajuda à comunidade cristã, lembrando que o norte do país, mais afectado pelo sismo, tem “uma das populações civis mais vulneráveis do mundo…”

Depois do alerta da irmã Maria Lúcia Ferreira, uma religiosa portuguesa que vive num mosteiro em Qara, para as condições difíceis em que se encontram as populações mais atingidas pelo violento sismo que abalou o norte da Síria no dia 6 de Fevereiro do ano passado, o Bispo arménio ortodoxo de Alepo, Magar Ashkarian diz que a situação no país está a ficar “intolerável”. Uma realidade que se agravou com o terramoto.

O prelado afirma, em declarações à Fundação AIS Internacional, que “a maioria das pessoas está a deixar o país em resposta às sanções” económicas impostas ao regime de Damasco. Esta realidade, diz o prelado, “coloca, especialmente as minorias, como os Cristãos, perante grandes desafios”, e é necessário que a comunidade internacional “faça todos os esforços, morais e financeiros, para ajudar a reforçar a presença dos Cristãos no Médio Oriente, e na Síria em particular”.

SISMO, PONTO DE VIRAGEM

De facto, o sismo que abalou o norte e o oeste da Síria há um ano foi já considerado como o mais violento terramoto a atingir o país desde meados do século XIX. Calcula-se que terão morrido mais de 6 mil pessoas e muitos milhares ficaram feridos.

Um ano depois, segundo Xavier Bisits, responsável de projectos da AIS na Síria, “a vida está gradualmente a voltar ao normal”, embora reconheça que se pode falar no dia 6 de Fevereiro de 2023 como “um ponto de viragem na vida da maioria das famílias do norte da Síria”, uma das zonas mais atingidas pela catástrofe natural. “Nunca esquecerei as cenas dos dias e semanas que se seguiram ao terramoto”, diz Bisits.

Mas, no terreno, aos poucos, as obras de reconstrução dos edifícios ligados à Igreja vão acontecendo.

Com a ajuda de Deus, a AIS tem sido capaz de avaliar e reparar grande parte das infra-estruturas comunitárias pertencentes à Igreja. Foram concluídos projectos de reforço e reparação não só de escolas e jardins-de-infância, mas também de salões paroquiais e centros de juventude. A vida pastoral e social regular da Igreja regressou lentamente. O nosso programa de reforço das casas, para que as pessoas possam regressar em segurança, continua também.”

UMA AJUDA DE 1,3 MILHÕES DE EUROS

O sismo, que abalou a Síria a 6 de Fevereiro do ano passado, mobilizou logo desde as primeiras horas a Fundação AIS a nível global, com os diversos secretariados, nomeadamente em Portugal, a lançarem campanhas de ajuda de emergência.

No conjunto, a fundação pontifícia disponibilizou mais de 1,3 milhões de euros em projectos para as 14 dioceses mais afectadas. Um apoio que se revelou fundamental, mas que, como sublinha Xavier Bisits, é insuficiente para inverter a situação de extrema necessidade em que se encontram as populações sírias.

“A vida não é normal”, diz o responsável de projectos da AIS. “O norte da Síria tem uma das populações civis mais vulneráveis do mundo, com mais de 90% da população a viver na pobreza. Estamos empenhados em apoiar a longo prazo os grupos vulneráveis, incluindo retiros para lidar com o trauma, ajuda médica e ajuda ao sistema educativo católico. Infelizmente, a emigração nos últimos 12 meses, especialmente em Alepo, acelerou dramaticamente, com muitas famílias a partirem para o Canadá. Esta é a realidade. No entanto, como fundação pontifícia, estamos determinados a garantir que aqueles que querem ficar na sua terra natal tenham as ferramentas para o fazer”, acrescentou Xavier Bisits.

“MUITA GENTE NÃO TEM COMO VIVER…”

A questão da emigração de que fala o responsável de projectos da Fundação AIS para a Síria, foi também destacada pela irmã Maria Lúcia Ferreira, mais conhecida como Irmã Myri.

Numa mensagem enviada para a Fundação AIS em Lisboa, a propósito das consequências do terramoto do ano passado, a irmã refere que tudo se agravou na vida das famílias, a tal ponto que fazer as malas e partir é algo que passou a ser considerado como normal hoje em dia. As pessoas, diz a religiosa, “procuram um lugar onde ao menos sabem que podem ter uma vida um bocadinho melhor e, se não o conseguirem, [pelo menos] inscrevem-se junto dos governos e sempre têm alguma ajuda que, aqui, já não há”, descreve a irmã Myri.

A religiosa portuguesa, que vive no Mosteiro de São Tiago Mutilado, na vila de Qara, e pertence à Congregação das Monjas de Unidade de Antioquia, fala da Síria de 2024 num imenso contraste com o país que existia antes de a guerra ter começado, há cerca de uma dúzia de anos. “Antes da guerra, a Síria era um lugar fácil para se viver. Havia poucos pobres, etc., agora tudo é dificílimo, tudo é muito difícil.” Uma realidade que o sismo, de há um ano, veio ainda acentuar…

Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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