PORTUGAL: “Vale pouco a vida em África”, afirma o Bispo Auxiliar de Bangassou na ‘Via Sacra’ que escreveu para a Fundação AIS

PORTUGAL: “Vale pouco a vida em África”, afirma o Bispo Auxiliar de Bangassou na ‘Via Sacra’ que escreveu para a Fundação AIS

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PORTUGAL: “Vale pouco a vida em África”, afirma o Bispo Auxiliar de Bangassou na ‘Via Sacra’ que escreveu para a Fundação AIS

Quinta-feira · 11 Março, 2021

São 14 textos de denúncia de uma realidade brutal que atinge milhões de pessoas em África. O Bispo Auxiliar de Bangassou, na República Centro-Africana, fala sobre um continente escravizado pela ganância, violentado pelo terrorismo, mergulhado tantas vezes numa pobreza quase obscena. D. Jesús Ruiz Molina aceitou escrever uma “Via Sacra” para a Fundação AIS para dizer ao mundo, como num clamor, que a vida humana “vale pouco” nesta região do globo.

Em nome dos sem voz
O texto, que é proposto aos portugueses para oração na Quaresma, mostra a sangue-frio uma realidade que muitas vezes parece longínqua ou desconhecida. Uma realidade que atravessa fronteiras, que ultrapassa grupos étnicos, que atinge praticamente todas as nações. Apesar de centrar a sua atenção essencialmente no seu país, a República Centro-Africana, D. Ruiz Molina fala em nome de todo o continente, dos sem voz, dos excluídos, dos mais pobres. E denuncia as situações mais dramáticas.

O drama da fome
A começar na fome. Comer uma vez por dia, diz o prelado, “é uma aventura que muitos não se podem permitir”. O olhar recai sobre os inúmeros campos de refugiados onde estão milhares de pessoas desesperançadas. “Dentro e fora destes campos, há crianças com fome, jovens com fome, adultos com fome, idosos com fome. Roubam por causa da fome, matam por causa da fome. Que má conselheira é a fome! Quantos caem por causa dela!”

PORTUGAL: “Vale pouco a vida em África”, afirma o Bispo Auxiliar de Bangassou na ‘Via Sacra’ que escreveu para a Fundação AIS
São 14 textos de denúncia de uma realidade brutal que atinge milhões de pessoas em África.

O sofrimento das mulheres
Há a fome de alimentos e também a fome de justiça. Especialmente para as mulheres vítimas da guerra, da violência, da brutalidade dos conflitos. Mulheres que sofrem e que estão sós. Mulheres que são das principais vítimas dos conflitos sem fim que polvilham a história deste continente. Mulheres brutalizadas “Mulheres que sofrem a infâmia humana, a arma letal de todos os conflitos bélicos em África. Violar mulheres e meninas para destruir o inimigo. Violar mães e adolescentes, rasgar esses corpos que deram vida; manchá-los com a morte… As mulheres tornaram-se o alvo da brutalidade dos homens armados sem piedade.”

As crianças-soldado
E também há a fome da felicidade. África parece ser um continente sempre em guerra. Grupos armados, terroristas, bandos de malfeitores, há demasiadas armas à solta em África. E demasiadas crianças sem futuro por causa disso. Como sonhar um futuro assim? “Muitas crianças nasceram na guerra, crescem na guerra… A guerra roubou-lhes a inocência e foram-se embrutecendo… Não foram poucos os que descobriram que a única saída era alistar-se como soldados de um lado ou do outro, seja qual for a facção. Primeiro, deram-lhes uma espingarda de madeira tosca…, depois uma verdadeira… Obrigaram-nos a matar o seu melhor amigo, ou um dos seus familiares…, e desde então vão semeando a morte.”

Pesadelo para milhões
África vive uma Via Sacra permanente. Uma realidade brutal que, escreve o Bispo Auxiliar de Bangassou, não deixa quase ninguém de fora. D. Jesús Ruiz Molina fala essencialmente de países da África subsariana [Nigéria, Mali, Burkina Faso, Níger, Chade, Camarões, Moçambique, República Democrática do Congo, República Centro-Africana…] e descreve um verdadeiro pesadelo que é o dia-a-dia de milhões de pessoas. Todos, no seu sofrimento, fazem-lhe lembrar a paixão de Jesus. E D. Ruiz Molina faz uma pergunta arrepiante: “Há vida antes da morte?”

Ler e rezar
Esta Via Sacra, que a Fundação AIS propõe este ano como reflexão para a Quaresma, deixa interrogações que perturbam as consciências. A consciência dos líderes do mundo Ocidental, dos países ricos, das potências económicas. A consciência de quem olha para África como um lugar subalterno. “Em quase todos os países da África subsariana, a esperança média de vida da população não chega aos 60 anos”, lembra D. Luiz Molina. “No país onde vivo, a República Centro-Africana, é de uns escassos 50 anos. Morre-se antes do tempo e vive-se tão precariamente que muitas vezes me pergunto: será que há vida antes da morte? Como vale pouco a vida em África…” Um texto para ler, reflectir e rezar. As receitas da venda do livro “Via Sacra África”, com a proposta da Fundação AIS para esta Quaresma, vão reverter na totalidade para projectos de apoio a milhares de cristãos neste continente, vítimas de perseguição e intolerância religiosa e que dependem totalmente da Igreja.

PA | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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