Com o custo de apenas um café, cerca de 65 cêntimos, é possível dar educação durante um mês a uma criança cristã que vive num dos vários campos de deslocados internos no Burquina Fasso, onde se concentram milhares de pessoas vítimas do terrorismo. Este é apenas um exemplo do desafio que a Fundação AIS lançou aos portugueses numa carta que está a chegar por estes dias a casa de centenas de benfeitores no nosso país. Um desafio em que se procura aliviar o sofrimento de uma comunidade religiosa ameaçada por diversos grupos jihadistas que actuam impunemente na região do Sahel, em África…
“Em nome da Igreja que sofre no Burquina Fasso, agradeço toda a sua ajuda. Por favor, reze por estes homens, mulheres e crianças que carregam uma cruz tão dolorosa.” É assim que termina a carta assinada por Catarina Martins de Bettencourt, directora do secretariado português da Fundação AIS, e que está por estes dias a chegar a casa de centenas de benfeitores e amigos da instituição no nosso país. O pedido de ajuda destina-se aos cristãos que têm vindo a ser um dos alvos preferenciais dos vários grupos terroristas que desde há vários anos sobressaltam o Burquina Fasso e vários outros países da região do Sahel, em África. De forma acentuada desde 2015, o Burquina tem-se tornado num ponto de encontro de grupos extremistas, com destaque para o autoproclamado Estado Islâmico da Província da África Ocidental, e o Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (grupo ligado à Al-Qaeda do Magrebe Islâmico). A situação é deveras dramática. O mais recente Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, publicado em Junho do ano passado pela Fundação AIS, revela-o em toda a sua dimensão. “O impacto sobre a população civil tem sido catastrófico”. “Mais de dois milhões de pessoas foram deslocadas, o que representa um aumento de mais de 7 mil por cento desde Agosto de 2018”, ou seja, uma das taxas que mais rapidamente cresceu no mundo, juntamente com Moçambique e a Ucrânia. “Muitas crianças estão a ser recrutadas à força como crianças-soldado”, pelos militantes jihadistas, pode ler-se ainda no relatório.
Em nome da Igreja que sofre no Burquina Fasso, agradeço toda a sua ajuda. Por favor, reze por estes homens, mulheres e crianças que carregam uma cruz tão dolorosa”
Catarina Martins de Bettencourt
“MAIS DE 2 MIL ESCOLAS ENCERRADAS…”
A Igreja, presente nas regiões onde o terrorismo tem estado mais activo, tem procurado alertar o mundo, nomeadamente através da Fundação AIS, para as consequências da violência jihadista junto das populações. É o caso do testemunho do Padre Wenceslau Belem, que em Abril do ano passado esteve em Madrid, na Catedral de Almudena, numa iniciativa do secretariado espanhol da AIS. “Desde que o terror começou, mais de 2 mil escolas foram encerradas. Atacam igrejas católicas matando ou raptando cristãos, especialmente catequistas, padres e outros leigos empenhados; e querem impor o uso de véus de rosto inteiro a todas as mulheres. Muitas raparigas cristãs têm de ir à escola com o véu para evitarem ser marcadas, caluniadas, espancadas ou mesmo raptadas…” A ameaça não podia ser mais explícita. É a tal ponto que, contou o Pe. Wenceslau Belem, perante uma audiência atenta, “aos domingos e dias de festa, a polícia, os militares ou voluntários, cercam as igrejas para que possamos rezar e celebrar a Santa Missa sem perigo”. Todo o seu depoimento foi assim, descrevendo um país que caiu nas malhas do terror jihadista.
A ORAÇÃO É A ÚNICA ARMA QUE RESTA
A maioria da população do Burquina Fasso é muçulmana, cerca de 60%. Os católicos são menos de metade, cerca de 19%. Contrariar a ameaça jihadista requer coragem e até imaginação. “Quando vemos enfermeiras católicas que se confiam à misericórdia de Deus, se disfarçam de muçulmanas e vão às aldeias, atravessando zonas perigosas, passando por terroristas para salvar vidas, para cuidar de pessoas doentes que não puderam fugir, é encorajador e dizemos que é Deus quem salva”, disse também o Pe. Wenceslau. O testemunho deste sacerdote, que é também agora recordado na carta enviada por Catarina Bettencourt aos benfeitores portugueses da Fundação AIS, terminou de forma emotiva, lembrando que os cristãos do Burquina Fasso enfrentam todos os dias uma ameaça brutal e precisam urgentemente de ajuda. “Obrigado à Ajuda à Igreja que Sofre. Estamos convencidos de que o mal não terá a última palavra. Continuaremos com esperança a lutar contra o terrorismo com a nossa única ‘Kalashnikov’, a nossa arma invisível, mas muito eficaz: a oração.”
EDUCAR UMA CRIANÇA PELO PREÇO DE UM CAFÉ
É neste cenário que surgiu o desafio da Fundação AIS aos benfeitores portugueses. Um desafio de solidariedade para com esta comunidade cristã tão ameaçada, mas que, apesar disso, tem dado tantas provas de coragem. São quatro projectos, quatro formas objectivas de se ajudar os cristãos do Burquina Fasso que vivem desde há alguns anos um verdadeiro tempo de terror com a violência cada vez mais acentuada de grupos jihadistas. “Educação”, “alimentação”, “acompanhamento espiritual” e “cuidados de saúde”, são as áreas em que é possível ajudar de forma directa estes cristãos. Num destes projectos, o da “educação”, explica Catarina Bettencourt, a directora do secretariado português da Fundação AIS, “é possível ajudar uma criança que vive num campo de deslocados a ter acesso ao ensino por apenas 65 cêntimos por mês, ou seja, o valor, aproximadamente, de um café”. “O objectivo, neste caso, é o de se conseguir que pelo menos 100 crianças possam continuar a estudar, apesar da situação muito precária em que se encontram, em campos de acolhimento”, acrescenta. Mas as propostas da Fundação AIS vão para outras áreas também significativas e que fazem a diferença para estas populações que foram forçadas a fugir, que são vítimas da intolerância religiosa. É o caso da “alimentação”, em que com 481 euros por mês se pode auxiliar 26 famílias. Ou nos “cuidados de saúde”, em que, com 153 euros por mês, se pode dar assistência médica a 180 doentes… Todos estes homens, mulheres e crianças carregam, como diz a directora da Fundação AIS de Portugal, “uma cruz dolorosa”. Nesta Quaresma, o desafio é rezar por eles, por todos eles, e ajudá-los. A nossa oração e solidariedade podem fazer toda a diferença.
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt