“Os cristãos não devem ter vergonha de dizer que o são”, afirma Nuno Rogeiro que vai apresentar hoje, dia 21, em Lisboa, o Relatório da Fundação AIS sobre a Liberdade Religiosa no Mundo. O especialista em política internacional sublinha a importância deste documento que ajuda a perceber a amplitude da perseguição aos cristãos nos dias de hoje e destaca o trabalho da fundação pontifícia nesta matéria. “Os cristãos já não vivem nas catacumbas de Roma, mas vivem noutro tipo de catacumbas e todos os dias têm de ser lembrados”, diz.
Nuno Rogeiro, figura bem conhecida do grande público como comentador de política internacional, vai apresentar hoje, dia 21 de Outubro, no Centro Nacional da Cultura, em Lisboa, o mais recente Relatório produzido pela Fundação AIS sobre a Liberdade Religiosa no Mundo. Um Relatório que ajuda a compreender a realidade por vezes complexa do que se passa no planeta quando falamos de perseguição por motivos religiosos.
E se no mapa do mundo há regiões que se destacam, como por exemplo África, outras há que parecendo menos expostas também merecem atenção. É o caso da Europa. E Nuno Rogeiro está atento ao que se passa no Velho Continente, às notícias de vandalismo, de destruição de símbolos religiosos, por vezes, de incêndios criminosos em Igrejas… Mas é preciso olhar para esses sinais com prudência.
“Saber se na Europa o movimento, que muitas vezes detectamos, de destruição, de vandalismo, de cemitérios, de igrejas, de outro tipo de lugares sagrados, se se entronca dentro do problema geral da perseguição religiosa, eu diria que por um lado sim, por outro lado não”, diz. Por um lado, sim, na medida em que é um exemplo concreto de intolerância e desrespeito pela fé dos outros. Por outro lado, não, na medida em que, em grande medida, a Europa é ainda um sítio onde o cristianismo faz parte das raízes e faz parte também das asas e do progresso e das novas ideias”, esclarece. Ou seja, “temos que misturar juntamente com uma grande vigilância, também uma grande dose de esperança”.
Financiamento dos grupos jihadistas
Se a situação na Europa, no que diz respeito à perseguição religiosa, nomeadamente aos cristãos, merece “vigilância”, em África, é com enorme preocupação que se acompanham as notícias de crescente violência em alguns países. E há uma palavra que sobressai: o jihadismo.
Nuno Rogeiro tem-se dedicado a estudar esta questão. É dele, por exemplo, o livro “O Cabo do Medo”, sobre a situação em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, onde desde 2017 grupos armados filiados no Daesh, a organização extremista Estado Islâmico, têm levado a cabo uma onda de violência que se traduz já em mais de 6 mil mortos e mais de 1 milhão de deslocados. Uma das questões que se coloca com frequência sobre este fenómeno terrorista, que infesta já uma parte considerável do continente africano, prende-se com o financiamento destes grupos armados.
Como é que eles conseguem os meios suficientes para promoverem campanhas de terror em tantos países e regiões? “Não há ideias claras sobre as fontes de financiamento dos grupos, sobretudo os que neste momento infestam África. Não parece que se possa falar de financiamento de Estados organizados, sobretudo de Estados com assento na ONU, mas pode-se falar de financiamento através de poderes locais, de poderes económicos locais, de poderes clânicos e famílias locais, também das chamadas fraternidades e movimentos de solidariedade em vários países árabes, que não representam os Estados, não representam os governos, mas representam determinados interesses e que olham o cristianismo [como] uma ameaça”, diz à Fundação AIS.
Combater o bom combate
De qualquer forma, Rogeiro explica que há quem separe “o chamado jihadismo pacífico ou meramente reflexivo”, do movimento jihadista armado. Mas, independentemente disso, é um facto – e o Relatório da Fundação AIS documenta-o exaustivamente – que as comunidades cristãs estão na mira dos grupos armados que reclamam um Islão mais extremista e que se tem vindo a verificar um aumento desta onde de violência, com especial incidência no continente africano.
Para Nuno Rogeiro, que tem uma carreira feita na comunicação social como jornalista e também como comentador, é muito importante que as pessoas, os cidadãos possam agir, denunciando a violência contra os crentes como algo de essencial. E lembra até uma frase de São Paulo…
E, relação ao que cada um pode fazer e o que deve ser feito através dos meios de mídia, é a velha expressão que nos vem de uma voz célebre, é preciso combater o bom combate. E o bom combate combate-se não apenas com actos, combate-se também com palavras e combate-se com a manifestação de uma consciência. Ou seja, os cristãos não devem ter vergonha de dizer que o são.”
Nuno Rogeiro
Perseguição “não é coisa do passado”
O Relatório da Fundação AIS sobre a Liberdade Religiosa no Mundo vai ser divulgado oficialmente hoje, dia 21 de Outubro, em Lisboa, tal como nas principais capitais europeias. O lançamento vai ocorrer no Centro Nacional de Cultura – mesmo ao lado do Teatro Municipal de São Luiz –, pelas 16:30.
É um trabalho publicado de dois em dois anos e realizado por uma equipa internacional de especialistas, académicos e jornalistas. Para Nuno Rogeiro, este Relatório, como o trabalho de todos os dias da fundação pontifícia, “é importante”.
“A Fundação AIS é praticamente uma voz que clama no deserto no que toca à denúncia dos ataques aos cristãos no mundo”, diz. Um relatório que, acrescenta, “tenta mostrar que a perseguição não se trata de uma coisa do passado”. “Os cristãos aparentemente já não vivem nas catacumbas de Roma, mas vivem no outro tipo de catacumbas que têm todos os dias que são lembradas e que têm todos os dias que ser denunciadas”, conclui.
O lançamento do Relatório tem o Alto Patrocínio do Presidente da República e a cerimónia contará com a participação de D. Rui Valério, sendo que o Patriarcado de Lisboa também se associa formalmente a esta iniciativa da Ajuda à Igreja que Sofre, tal como a Brotéria e a Agência Ecclesia.
O lançamento deste Relatório, cuja primeira edição foi publicada em 1999, assinala os 25 anos de compromisso permanente da Fundação AIS na defesa da liberdade religiosa no mundo.
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt