PORTUGAL: “É cada vez mais difícil a vida dos cristãos no Paquistão”, denuncia Arcebispo de Lahore em evento da AIS

D. Sebastian Shaw denunciou este fim-de-semana, em Coimbra, na apresentação do Relatório da Fundação AIS sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, a situação dos cristãos no Paquistão, vítimas, por exemplo, da Lei da Blasfémia, e pediu a solidariedade dos portugueses para com as crianças órfãs da sua diocese. O evento contou também com a presença de D. Virgílio Antunes. O Bispo de Coimbra, referindo-se à celebração este ano do cinquentenário do 25 de Abril, defendeu que “a liberdade religiosa não pode ser um parente pobre das liberdades”…

O Paquistão, um dos países assinalados a vermelho no mapa sobre a perseguição religiosa no mundo, esteve em foco no passado sábado, dia 20, em Coimbra. A apresentação nesta diocese do relatório da Fundação AIS sobre a liberdade religiosa contou com a presença de D. Sebastian Shaw, Arcebispo de Lahore.

O prelado, que esteve de passagem por Portugal, falou sobre a situação dos cristãos no seu país – apenas 2 por cento da população – e lembrou que a violência por motivos religiosos é uma realidade concreta e cruel.

É cada vez mais difícil a vida dos cristãos no Paquistão. Há ataques, estamos a viver tempos difíceis. Em Agosto do ano passado houve um ataque de grupos radicais e 24 igrejas foram queimadas assim como mais de 100 casas de cristãos.”

D. Sebastian recordou este episódio, ocorrido a 16 de Agosto de 2023 na cidade de Jaranwala, no Punjab, que provocou também a fuga de milhares de pessoas, homens, mulheres e crianças que tiveram as suas vidas em risco face à violência desencadeada por uma acusação de blasfémia contra um cristão. Bastou isso para acender uma vez mais o rastilho da violência.

CRISTÃOS E A LEI DA BLASFÉMIA

A Lei da Blasfémia, introduzida no Código Penal do Paquistão em 1986, e que pode dar origem a prisão ou até a pena de morte por insultos ao Corão ou ao profeta Maomé, transformou-se numa ameaça permanente para os cristãos e membros de outras minorias religiosas neste país. “Os cristãos são vítimas desta Lei”, explicou D. Sebastian Shaw no seminário de Coimbra, onde decorreu a apresentação do Relatório da Fundação AIS. “Alguns são presos e outros até são queimados vivos”, acrescentou.

A Lei da Blasfémia não estava prevista no início, quando o Paquistão foi fundado em 1947, no rescaldo da divisão do Império Britânico. Era, então, a República do Paquistão, um país, recordou ainda o prelado, “onde todas as religiões tinham o seu espaço”. Mas isso mudou. Anos mais tarde, “grupos radicais mudaram o nome do país para República Islâmica do Paquistão”. E começaram os problemas. “Em 1972 as escolas foram tiradas à Igreja e os missionários passaram a ter muitas dificuldades na renovação dos seus vistos”, disse D. Sebastian Shaw.

ESTADOS UNIDOS E NICARÁGUA

As palavras do Arcebispo de Lahore foram escutadas por cerca de meia centena de pessoas que se deslocaram ao belíssimo seminário da Diocese de Coimbra onde decorreu mais uma sessão da divulgação pública do Relatório da Fundação AIS sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, evento que foi transmitido em directo para as redes sociais da Fundação AIS e do Seminário Maior de Coimbra.

A sessão juntou ainda, além de D. Sebastian Shaw, o Bispo de Coimbra, D. Virgílio Antunes, e Catarina Bettencourt, a directora do secretariado nacional da Fundação AIS, que incentivou os presentes “a ajudarem a divulgar mais a missão desta instituição” que se tem revelado essencial para a vida de milhões de cristãos em inúmeros países do mundo. Uma ideia também repetida pelo Bispo de Coimbra que agradeceu à fundação pontifícia o trabalho realizado no mundo em apoio aos cristãos perseguidos. 

D. Virgílio, durante a sua intervenção, manifestou a sua preocupação pela denúncia, recente, por parte dos bispos dos Estados Unidos, de que este país atravessa “uma onda” de intolerância “que põe em causa a própria segurança dos locais de culto, nomeadamente as igrejas”. E falou também da Nicarágua, lembrando a libertação, dia 14 de Janeiro, de D. Rolando Álvarez, Bispo de Matagalpa e administrador apostólico da diocese de Estelí. Este Bispo, recorde-se, esteve detido durante 16 meses e havia sido condenado pelo regime de Manágua a 26 anos de prisão.

D. Virgílio Antunes afirmou que para D. Rolando será, seguramente, “mais duro perceber que há um regime que impede a liberdade de culto do que ter passado pela prisão e estar agora no exílio…” E acrescentou: “Privar alguém da liberdade é sempre mau, mas quando se trata de algo nuclear, como a liberdade religiosa, é bem pior”.

50 ANOS DE 25 DE ABRIL

Recordando que este ano se assinada o 50º aniversário do 25 de Abril, o Bispo de Coimbra deixou o desejo de que essa celebração “seja também marcante em relação a esta questão, para que a liberdade religiosa nunca seja um parente pobre das liberdades em que queremos viver”.

No final da sessão, em entrevista à Fundação AIS, o Bispo de Coimbra referiria ainda o facto de as questões relacionadas com a violência contra os cristãos serem ignoradas, muitas vezes, do espaço público, nomeadamente pela comunicação social. “Esse silêncio é perturbador”, disse D. Virgílio comentando o caso recente, ocorrido durante as festividades de Natal, em que cerca de 200 cristãos foram assassinados na Nigéria. 

Sobre o trabalho, a missão da Ajuda à Igreja que Sofre em Portugal e no mundo, D. Virgílio disse ser “um belíssimo serviço”, no “auxílio aos cristãos em regiões, países e lugares onde estão sofrimento por causa da perseguição”, mas também “pelo alerta sobre a liberdade religiosa no mundo, algo que é essencial e que eu não vejo outra instituição a fazer com  a mesma atitude, de forma activa, de forma convicta tanto no que diz respeito à tomada de consciência das pessoas como no que diz respeito à solidariedade para com os que estão em dificuldade”.

AJUDAR CRIANÇAS ÓRFÃS DE LAHORE

O encontro da Fundação AIS com a Diocese de Coimbra terminou já ao princípio da noite com a celebração da Missa na Igreja de Santo António dos Olivais, que contaria com a presença também do Arcebispo de Lahore que aproveitaria a ocasião para falar uma vez mais da situação em que se encontram os cristãos no seu país e para apelar à solidariedade dos portugueses, nomeadamente para com as crianças mais necessitadas da sua diocese.

Temos várias crianças órfãs e criámos vários orfanatos. Às vezes perguntam-me o que é que os cristãos portugueses podem fazer por nós no Paquistão. Podem ajudar estas crianças, por exemplo. Com apenas cerca de 10 euros por mês, é possível alimentar estas crianças, vesti-las, ajudá-las na sua educação, impedindo-as, assim, de caíram nas ruas, na violência, dando-lhes um futuro.”

E lembrou ainda que, apesar de Paquistão e Portugal serem dois países muito distantes um do outro, as pessoas, os cristãos, estão próximos, pois estão “unidos pelo coração”.

Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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