PORTUGAL: Arcebispos de Braga e Évora destacam missão da Fundação AIS na denúncia da perseguição aos cristãos

“Quebrar a indiferença”, “situações intolerantes”, “desafio” e “solidariedade”, foram expressões escutadas na passada sexta-feira, 24, em Braga e em Évora, duas cidades distantes uma da outra (cerca de 460 quilómetros) mas que estiveram unidas pela “Red Week”, a Semana Vermelha da Fundação AIS, e a urgência da denúncia da perseguição religiosa e da ajuda à Igreja que sofre em muitos países no mundo.

Foi um dia em cheio. Um dia apenas de uma semana dedicada à chamada de atenção da sociedade para a falta de liberdade religiosa, para a perseguição aos crentes em inúmeros países do mundo.

Em Portugal, a ‘Red Week’, a Semana Vermelha, serviu também de mote para a divulgação em várias dioceses dos dados mais recentes sobre esta questão compilados pela Fundação AIS. Foi o que aconteceu na sexta-feira, 24 de Novembro. De manhã, em Braga, e à tarde, em Évora.

Em ambas as Arquidioceses, realizaram-se duas sessões de apresentação do Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, em que a directora do secretariado português da Fundação AIS apresentou junto de plateias muito interessadas os dados mais relevantes deste documento produzido a nível internacional por uma equipa pluridisciplinar de especialistas.

Em ambas as sessões – no centro pastoral, em Braga, ou na Igreja de Santa Clara, em Évora – participaram os bispos de ambas as arquidioceses, respectivamente D. José Cordeiro e D. Senra Coelho. Ambos sublinharam a importância do Relatório por denunciar ao mundo a realidade, tantas vezes ignorada, da perseguição religiosa. Ambos enalteceram também o trabalho desenvolvido em Portugal e em todo o mundo pela Ajuda à Igreja que Sofre pela materialização da solidariedade para com os cristãos vítimas de intolerância por causa da sua fé. 

UMA DIFERENÇA QUE CHOCA

José Cordeiro mostrou-se mesmo chocado com a realidade que é revelada no Relatório da Fundação AIS. “Quase um terço dos países do mundo estão a sofrer de perseguição religiosa, ou seja, onde a liberdade religiosa não é respeitada como direito fundamental do ser humano”, disse o prelado. “O que mais choca é a indiferença, é isto não ser notícia”, acrescentou o Arcebispo de Braga.

O prelado mostrou-se incomodado também face aos factos descritos no Relatório. “Impressiona-me a própria estatística. Impressiona-me haver também cada vez mais casos da chamada ‘perseguição educada’, normalizam-se esses ataques”, disse, lembrando que “há também formas subtis de perseguição”, quando ocorrem de forma generalizada, referindo, por exemplo, o que acontece na Nigéria, “raptos de pessoas de uma determinada comunidade religiosa, ou casos de violência e até de violência sexual”.

Tudo isto representa um retrato alarmante dos dias de hoje em demasiados países do mundo e não pode ser ignorado.

Bem basta a fome, a miséria por que passam, por exemplo, tantos povos em África, ainda têm de lidar com a perseguição religiosa. Isto é também um desafio enorme para nós que vivemos num ambiente de liberdade. É preciso quebrar a indiferença.”

Na sua intervenção, ao fim da manhã de sexta-feira, o Arcebispo de Braga fez questão ainda de enaltecer o trabalho e a missão da Fundação AIS em Portugal e no mundo. “Sem a ajuda da AIS, não seria possível a vida da Igreja” em muitos países, disse.

“A AIS ABANA A NOSSA INDIFERENÇA”

Em Évora, apesar do frio que se fazia sentir, foram várias as pessoas que se deslocaram até à Igreja de Santa Clara para a apresentação, também nesta cidade alentejana, do Relatório da Fundação AIS sobre a Liberdade Religiosa no Mundo. E tal como já tinha acontecido de manhã em Braga, também em Évora se escutaram palavras fortes de apreensão perante a realidade que vem descrita no documento.

D. Senra Coelho comparou mesmo os perseguidos pela sua fé dos dias de hoje com Jesus Cristo, que também “foi ignorado no seu sofrimento”.

Dá a impressão de que experimentam a mesma atitude de Cristo. E a mim impressiona-me ver que são os mais pobres que sofrem. Este testemunho supremo de fé não vem dos intelectuais, dos teólogos, vem dos pobres, dos que não têm sequer sapatos, dos que vivem com menos de 1 dólar por dia.”

Para o arcebispo de Évora, é imperativo estar atento a “todas estas situações intolerantes”, a todos os que sofrem a violência por causa da sua fé. Estar atento e ser solidário para com eles. Esse foi o “desafio” que deixou a todos os que participaram em Évora neste evento da Red Week, a Semana Vermelha.

“Nós procuramos Cristo nos sinais dos tempos, na Igreja, mas temos também de procurar Cristo no pobre que está ao nosso lado e também nestes irmãos que são a Igreja perseguida. Mas ainda não temos esta cultura de encontrar Cristo nesta Igreja que sofre”, alertou. D. Senra Coelho teve também palavras de grande afecto para com a Fundação AIS, não só pela sua missão de solidariedade para com a Igreja perseguida no mundo, mas também pelo facto de estar presente com um núcleo em Évora, precisamente na Igreja de Santa Clara, onde decorreu a sessão.

“Quero saudar esta Fundação, a AIS, pois estando em Évora presta-nos também um serviço. Vocês são um sino que toca, uma luz que acende no meio da noite e que nos abana, que abana a nossa indiferença”, afirmou. “Quero agradecer também à AIS por vocês não se cansarem… Apoiar esta Fundação é apoiar a Igreja que Sofre”, disse a terminar a sua intervenção.

UMA SEMANA VERMELHA GLOBAL

A Semana Vermelha da Fundação AIS ficou marcada, em Portugal, também pela iluminação de vermelho de diversas igrejas e monumentos, assinalando-se assim, para toda a comunidade, a importância de se falar da perseguição religiosa no mundo.

O Monumento ao Cristo-Rei, em Almada, pela sua simbologia, tornou-se quase no ‘ícone’ deste evento no nosso país, mas houve dezenas de localidades onde foi possível ver outros templos e edifícios cobertos de vermelho, representando a cor do sangue dos mártires. E foi também assim um pouco por todo o mundo.

Em Itália, Espanha, França, Colômbia, Alemanha, México, Austrália, e em outros países, foi possível ver, por estes dias, capelas, igrejas, catedrais e santuários iluminados de vermelho. Calcula-se que, no total, terão participado nos eventos organizados pela Fundação AIS a nível internacional cerca de 10 mil pessoas numa dezena de países. Foi um gesto a nível global para lembrar que a liberdade de pensamento, de consciência e de religião é violada em cerca de um terço dos países do mundo, afectando cerca de 4,9 mil milhões de pessoas.

Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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No período em análise não se registaram casos significativos de discriminação por motivos religiosos nem abusos da liberdade religiosa que pudessem ser imputáveis ao Estado ou a outras entidades governamentais. Além disso, certos fenómenos nas sociedades ocidentais chegaram a Portugal, nomeadamente a progressiva marginalização da religião na vida pública e a legalização de certas práticas, como a eutanásia, que são contrárias aos princípios de várias religiões.

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