O Tribunal Antiterrorista de Sargodha “concedeu fiança a todos os acusados” no ataque e brutal agressão a 25 de Maio em Sargodha, de que resultou a morte do cristão Nazir Masih. Entretanto, a Comissão Nacional de Justiça e Paz, da Igreja Católica, apresentou recomendações às autoridades para uma melhor protecção das populações consideradas “mais vulneráveis”.
“O Tribunal Antiterrorista de Sargodha concedeu fiança a todos os acusados do incidente na colónia de Mujahid, em Sargodha, envolvidos no assassínio brutal do falecido Sr. Nazir Masih. Ordem de libertação imediata da prisão.” A mensagem, em estilo telegráfico, foi enviada por Joel Amir Sahotra, um destacado membro da comunidade cristã paquistanesa que tem estado a acompanhar para a Fundação AIS em Lisboa o grave incidente ocorrido em 25 de Maio, em Sargodha, de que resultou o espancamento e posterior morte, a 3 de Junho, no hospital, de Nazir Masih. “Há alguns dias – acrescentou Amir Sahotra – 47 já tinham sido libertados pelo tribunal.”
Este caso ganhou nova actualidade na semana passada com a notícia de que a viúva, Alla Rahki, que se encontrava num estado de profunda depressão, tinha também falecido. O incidente ocorrido no bairro Mujahid, em Sargodha, é um sinal inquietante da situação de grande vulnerabilidade em que se encontra a comunidade cristã paquistanesa, situação que tem merecido diversos alertas por parte dos responsáveis da Igreja.
Ainda recentemente, num relatório enviado à Fundação AIS Internacional, a Comissão Nacional Justiça e Paz da Igreja Católica (CNJP) fez eco de um comunicado emitido pela Conferência dos Bispos Católicos do Paquistão condenando o assassinato e o “persistente uso indevido das leis da blasfémia”. O relatório afirma ser necessário uma “justiça rápida e imparcial para restaurar a confiança no sistema jurídico… e responsabilizar os agentes da polícia pela sua inacção”. No documento pede-se ainda para não serem “registadas falsas acusações de blasfémia contra nenhum cristão e que lhes seja assegurada protecção.”
INDEMNIZAÇÕES PARA AS VÍTIMAS
O relatório aborda o caso que acabou por vitimar Nazir Masih e afirma que os seus vizinhos “alegadamente tinham rancor contra a família de Nazir, que é relativamente abastada, e que o seu negócio de calçado estava a correr bastante bem. Havia também alguma inveja em relação a esta família cristã.”
Esta versão vem corroborar o depoimento que já anteriormente Joel Amir Sahotra tinha enviado para Fundação AIS. Segundo o antigo deputado do parlamento provincial do Punjab, Nazir Gill Masih tinha uma pequena fábrica de calçado e por ser cristão e “para impedir o negócio, os seus rivais acusaram-no de ter queimado o Corão”.
O CNJP, parceiro de longa data da Fundação AIS, apresentou também uma série de recomendações às autoridades paquistanesas com o objectivo de prevenir incidentes semelhantes no futuro, melhorar os protocolos de aplicação da lei e promover o diálogo inter-religioso. Entre essas recomendações, conta-se a exigência de um inquérito judicial para apurar a responsabilidade pelo ataque, a concessão de uma indemnização financeira imediata, apoio jurídico e aconselhamento em caso de trauma para a família de Masih.
O relatório apela também à implementação de medidas de segurança para proteger a comunidade cristã e evitar que, no futuro, sejam apresentadas falsas acusações de blasfémia contra ela. O CNJP concluiu afirmando que a organização “continua empenhada em garantir a justiça e a paz, apelando às comunidades locais e internacionais para que apoiem os seus esforços na protecção das populações vulneráveis.”
O CASO DE JARANWALA
Os incidentes envolvendo cristãos e falsas acusações de blasfémia ganham, por vezes, uma dimensão enorme, como aconteceu em Agosto do ano passado em Jaranwala, no distrito industrial de Faisalabad. Na ocasião, alguns cristãos foram acusados de blasfémia, por ter alegadamente arrancado folhas de um exemplar do Corão, atirando-as para o chão.
Esse episódio iria degenerar em actos descontrolados de violência, com uma multidão de muçulmanos enfurecidos e armados com bastões e pedras a atacar igrejas e casas de cristãos. Mais de duas dezenas de igrejas e centenas de casas foram destruídas. Milhares de pessoas tiveram de fugir. Até um cemitério foi atacado e profanado. A situação foi tão grave que exigiu mesmo uma resposta ao nível humanitário. A Fundação AIS Internacional, por exemplo, avançou logo com um pacote de ajuda de emergência com a distribuição de primeiros socorros para cerca de 500 famílias cristãs vítimas dos ataques.
D. Sebastian Shaw, Arcebispo de Lahore, visitou o bairro de Jaranwala logo após o ataque de 16 de Agosto de 2023 e falou em “destruição terrível”. O trabalho da Comissão Nacional Justiça e Paz dos bispos católicos no Paquistão há muitos anos que é apoiado de perto pela Fundação AIS. Este apoio inclui o pagamento de honorários em processos judiciais, a reabilitação e reintegração de cristãos vítimas de violência e projectos de apoio a medidas de protecção de raparigas cristãs em risco.
Paulo Aido e Daniel Beurthe
Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt