A Fundação AIS recebeu com profunda dor a notícia do falecimento de Alla Rakhi, viúva de Mazir Masih, o cristão que morreu no hospital a 3 de Junho em consequência das brutais agressões de que foi vítima dias antes em Sargodha por causa de uma falsa acusação de blasfémia.
Três semanas após o falecimento de Nazir Masih no hospital, em consequência das brutais agressões de que foi vítima no bairro Mujahid, em Sargodha, onde morava, por causa de uma falsa acusação de blasfémia, a viúva, Alla Rahki, morreu também deixando a comunidade cristã local novamente enlutada.
A tragédia que atingiu a família Masih está a ter profundas repercussões a nível local. As famílias continuam deslocadas e as lojas e empresas encerradas, perdendo-se assim muitos postos de trabalho o que faz aumentar as dificuldades no dia-a-dia e o desespero da comunidade cristã. O incidente que vitimou Masih e em consequência a viúva, que estava em profunda depressão, é mais um sinal inquietante da situação de enorme vulnerabilidade em que se encontram os cristãos no Paquistão, assim como todas as comunidades religiosas minoritárias neste país.
Ainda recentemente, em mensagem enviada para Lisboa, para a Fundação AIS, Joel Amir Sohatra, um destacado dirigente cristão paquistanês, dizia que é preciso apoiar “todas as vítimas da intolerância religiosa”, deixando escapar o desabafo de que este tipo de incidentes tem “aumentado de dia para dia”… Na referida mensagem, Sohatra diz mesmo, revelando um profundo sentimento de impotência nessas palavras, que “só Deus pode fazer algo por nós”.
“É FÁCIL ACUSAR ALGUÉM…”
O caso de Nazir Gill Masih, que a Fundação AIS reportou, ocorreu a 25 de Maio, quando uma multidão enfurecida espancou este cristão depois de ter corrido pelo bairro a notícia de que teria queimado páginas do Corão, o livro sagrado dos muçulmanos. Levado para o hospital, acabaria por não resistir aos ferimentos, morrendo no dia 3 de Junho.
Uma multidão violenta cercou as casas de cristãos na sequência de alegações de que um homem cristão tinha queimado o Corão. Este incidente resultou no espancamento brutal. A multidão, incitada por estas acusações, tentou queimar as casas e prejudicar a comunidade cristã.”
Joel Amir Sohatra
Nazir Gill Masih tinha uma pequena fábrica de calçado. Por ser cristão, e “para impedir o negócio, os seus rivais acusaram-no de ter queimado o Corão”, explicou o responsável. Na mensagem enviada para Lisboa, Joel Amir Sohatra diz ainda que “é muito fácil acusar alguém e depois matá-lo”. “Isto continua a acontecer e os incidentes aumentam de dia para dia. Sinceramente, não há segurança para as minorias religiosas. Nem sequer há esperança de protecção no futuro”, afirma ainda o antigo deputado provincial, concluindo que, face a tudo isto e à sucessão de casos envolvendo membros da comunidade cristã, “a situação continua a ser de pânico em todo o país”.
Paulo Aido e Maria Lozano
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