TERRA SANTA: Papa denuncia assassinato a tiro de mãe e filha em ataque à Paróquia da Sagrada Família, em Gaza

Francisco denunciou ontem o assassinato a tiro de duas mulheres cristãs, mãe e filha, por militares de Israel num ataque à Paróquia da Sagrada Família, na Faixa de Gaza. Mais sete pessoas foram também baleadas. O ataque ocorreu neste sábado. No mesmo dia, vários ‘rockets’ atingiram também o convento das Missionárias da Caridade, que albergava mais de meia centena de pessoas com deficiência. O Santo Padre mostra-se perplexo pelo que aconteceu, pois ali, diz, não havia terroristas, “mas famílias, crianças, pessoas doentes, freiras”.

Duas mulheres cristãs, Samar Kamal Anton e sua mãe Nahida Khalil Anton, foram mortas a tiro no sábado, 16 de Dezembro, atingidas por um atirador das Forças de Defesa de Israel quando tentavam encontrar um lugar seguro no edifício paroquial da Sagrada Família. Sete outras pessoas ficaram feridas.

O incidente foi denunciado ontem domingo, pelo Santo Padre, depois da oração do Angelus no Vaticano. “Continuo a receber notícias muito graves e dolorosas de Gaza”, disse Francisco. Antes de explicar a tragédia que aconteceu no complexo paroquial da Sagrada Família, o Papa lembrou que civis indefesos estão a ser alvo de bombardeamentos e de disparos.

E foi isso que ocorreu no sábado, nas instalações da Igreja. “Isto aconteceu até mesmo dentro do complexo paroquial da Sagrada Família, onde não há terroristas, mas famílias, crianças, pessoas doentes e com deficiência, freiras…” Perante a multidão presente na Praça de São Pedro, o Papa Francisco referiu então o assassinato das duas mulheres cristãs, mãe e filha. “Uma mãe e sua filha, Sra. Nahida Khalil Anton e sua filha Samar Kamal Anton, foram mortas e outras pessoas feridas por atiradores de elite, enquanto iam à casa de banho…”

‘ROCKETS’ ATINGEM O CONVENTO

Ainda no sábado, vários ‘rockets’ atingiram também o convento das Missionárias da Caridade, a congregação fundada pela Santa Madre Teresa de Calcutá, que albergava na ocasião mais de 50 pessoas com deficiência.

Nesse ataque contra o convento foi destruído, entre outras coisas, o gerador de energia que se encontrava no local. O impacto dos ‘rockets’ provocou ainda um incêndio que atingiu alguns quartos. O edifício está agora inabitável, tendo as religiosas e as pessoas que estavam à sua guarda conseguido fugir para um lugar seguro.

O Papa Francisco referiu também este ataque.

Alguém diz: ‘É o terrorismo, é a guerra’. Sim, é a guerra, é o terrorismo. É por isso que as Escrituras afirmam que ‘Deus faz cessar as guerras... ele partiu os arcos e quebrou as lanças’. Rezemos ao Senhor pela paz.”

Antes do ataque que vitimou as duas mulheres cristãs, ocorreu um outro incidente também nas imediações da paróquia. A Fundação AIS Internacional apurou, junto de fontes locais, que na quinta-feira, 14 de Dezembro, dois trabalhadores que procuravam reparar os tanques de água do edifício paroquial e que tinham sido danificados pelo rebentamento de granadas, foram também atingidos mortalmente a tiro.

“TRAGÉDIA SEM SENTIDO”

A Fundação AIS Internacional recebeu, entretanto, a informação de que os funerais das duas mulheres cristãs, mãe e filha, “decorreram debaixo de muito medo e tristeza”, sendo que “as suas famílias não puderam assistir à cerimónia de despedida”. Enquanto isto, agravou-se também o estado de saúde de dois dos sete feridos. Ambos “necessitam de hospitalização imediata, pois correm risco de vida”.

Apesar disso, apurou ainda a Fundação AIS, “a Cruz Vermelha não pôde transferi-los para o hospital mais próximo pois o local está rodeado de atiradores furtivos e considerado demasiado perigoso”. Este grave incidente mereceu também uma tomada de posição do Patriarcado Latino de Jerusalém.

Num comunicado emitido no fim-de-semana e enviado para a Fundação AIS, fala-se mesmo em “tragédia sem sentido”.

Em oração com toda a comunidade cristã, expressamos a nossa proximidade e condolências às famílias afectadas por esta tragédia sem sentido. Ao mesmo tempo, não podemos deixar de expressar que não conseguimos compreender como tal ataque poderia ser levado a cabo, ainda mais quando toda a Igreja se prepara para o Natal”

A SOLIDARIEDADE DA AIS

A paróquia da Sagrada Família é a “casa” dos cristãos católicos romanos na Faixa de Gaza, e congrega cerca de mil crentes. De acordo com relatos locais, há actualmente várias centenas de pessoas refugiadas no recinto da igreja, incluindo crianças, idosos e pessoas com deficiência.

Em cooperação com o Patriarcado Latino de Jerusalém, a Fundação AIS está a apoiar a comunidade cristã na Faixa de Gaza com a aquisição de alimentos e também de medicamentos. Os cristãos em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia, bem como os trabalhadores migrantes cristãos em Israel, todos eles também fortemente afectados pela guerra entre Israel e o Hamas, estão a ser igualmente auxiliados graças à generosidade dos benfeitores da fundação pontifícia.

Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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