Na primeira mensagem após ter sido libertado no domingo, 26 de Novembro, enviada para o cardeal Jean Zerbo, Arcebispo de Bamako, o padre Joachim Lohre fala dos 371 dias de cativeiro que passou e agradece as orações de todos que tornaram possível o “milagre” da sua libertação. Entretanto, a presidente executiva internacional da Fundação AIS alerta para o facto de haver “muitos homens e mulheres que continuam raptados ou são simplesmente perseguidos pelas suas crenças em todo o mundo”.
O sacerdote alemão Hans-Joachim Lohre, conhecido como o padre “Ha-Jo”, foi libertado domingo, dia 26 de Novembro, após ter sido sequestrado a 20 de Novembro do ano passado perto da escola onde trabalhava, em Bamako, a capital do Mali.
Na sexta-feira, a ECF-TV, [Eglise Communion Fraternelle Télévision], o canal de televisão católico do Mali, divulgava a mensagem que o padre Lohre tinha enviado para o cardeal Jean Zerbo, Arcebispo de Bamako, agradecendo tudo o que tinha sido feito pela sua libertação. Foi a primeira mensagem conhecida do sacerdote alemão após a experiência de cativeiro. Ele refere que está em casa da família, em Hövelhof, e que foi no computador da sobrinha que escreveu o texto.
“Estou a passar muito bem depois do meu retiro espiritual de 371 [dias], dos quais passei 368 em profunda paz interior e consolação”, diz o padre Joachim tal como foi divulgado pela televisão católica do Mali. “Não foi por acaso que o Senhor me deu esta experiência do Seu Amor e da Sua Providência. Estou em casa, em Hövelhof, com a minha família, ainda ‘escondido’ da imprensa… e gostaria de agradecer a cada um de vós pelas vossas orações, que tornaram possível o milagre da minha libertação ao fim de apenas 1 ano, tal como eu passava 4 a 5 horas por dia a rezar por vós, pela missão da Sociedade dos Missionários de Africa e pelo mundo.”
Não foi por acaso que o Senhor me deu esta experiência do Seu Amor e da Sua Providência. Estou em casa, em Hövelhof, com a minha família, ainda ‘escondido’ da imprensa... e gostaria de agradecer a cada um de vós pelas vossas orações, que tornaram possível o milagre da minha libertação ao fim de apenas 1 ano, tal como eu passava 4 a 5 horas por dia a rezar por vós, pela missão da M Afr. e pelo mundo.”
Padre Hans-Joachim Lohre
APOSTA NO DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO
O Padre Hans-Joachim, um parceiro de projectos da Fundação AIS, estava há mais de três décadas no Mali e desenvolvia na altura em que foi raptado um importante trabalho ao nível do diálogo inter-religioso, sempre movido pelo desejo de contribuir para melhorar as condições de vida neste país africano e de ajudar a pequena comunidade cristã local.
Desde o dia do sequestro, 20 de Novembro de 2022, quando ia celebrar uma missa em Bamako – o seu automóvel foi encontrado abandonado e a cruz que ele trazia sempre consigo estava no chão – que a Fundação AIS manifestou a sua preocupação e apelou às orações de todos pela sua libertação. Agora, a notícia do fim do cativeiro foi recebida naturalmente pela fundação pontifícia com muita alegria.
“Estamos muito aliviados e felizes por saber que o Padre Ha-Jo foi libertado depois de uma experiência que deve ter sido muito dura. Ao longo dos anos, trabalhámos juntos e a Fundação AIS viu em primeira mão como ele sempre teve em mente o bem-estar do povo do Mali, independentemente da sua religião. De facto, ele estava profundamente empenhado no diálogo inter-religioso no país de maioria muçulmana, que considerava fundamental para a paz e o desenvolvimento”, afirma Regina Lynch, Presidente Executiva da AIS Internacional.
NÃO ESQUECER OS CRISTÃOS PERSEGUIDOS
A responsável da Fundação AIS alerta, contudo, para o facto de haver ainda muitas pessoas que continuam em cativeiro, que também foram raptadas tal como aconteceu com o padre Joachim, e que há muitas comunidades cristãs vítimas de perseguição no mundo, especialmente em África, por causa das suas crenças.
“Apesar da nossa alegria neste momento, não podemos esquecer que há muitos homens e mulheres que continuam raptados ou são perseguidos pelas suas crenças em todo o mundo, mas especialmente no Mali, Níger, Nigéria e Burkina Faso, e as nossas orações e pensamentos estão também com eles neste momento.” Regina Lynch fala mesmo em “angústia” ao lembrar a situação das comunidades cristãs em determinadas regiões, especialmente no Sahel, em África, onde os grupos terroristas actuam com grande impunidade submetendo populações inteiras a uma violência extrema.
Continuamos a acompanhar, com grande angústia, a situação dos cristãos, em particular na região do Sahel, onde todos os dias os cristãos são expulsos das suas aldeias, morrem à fome sob a pressão de grupos terroristas ou são simplesmente massacrados porque querem usar uma cruz ao pescoço ou rezar. Só no Burkina Faso e no Níger, segundo os bispos locais, há mais de 100 processos de beatificação em curso devido a esta nova vaga de perseguição, que quase não é noticiada no mundo ocidental”
Regina Lynch
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt