Trinta e nove cristãos foram mortos numa série de novos ataques na região central da Nigéria desde o dia 1 de Abril, no estado de Plateau. O Padre Andrew Dewan, director de comunicação da Diocese de Pankshin, falou à Fundação AIS sobre esta nova onda de violência e pediu ao governo mais acção na defesa da comunidade cristã. Entretanto, o secretariado britânico da AIS levou a questão da violência na Nigéria ao Parlamento do Reino Unido.
Pelo menos 39 cristãos foram mortos em diversos ataques a aldeias no estado de Plateau, situado no chamado Cinturão Médio da Nigéria. Os ataques começaram na segunda-feira de Páscoa, dia 1 de Abril, e prolongaram-se durante as duas semanas seguintes. Os incidentes mais graves ocorreram na Diocese de Pankshin.
Durante três dias, 12, 13 e 14 de Abril, homens armados atacaram diversas aldeias, nomeadamente Kopnanle, Mandung e Bokkos Town, matando 29 cristãos, ferindo dois e incendiando ainda diversas casas e igrejas.
Em declarações à Fundação AIS, o director de comunicações da Diocese descreveu o que aconteceu e manifestou a sua preocupação pela situação de profunda insegurança em que se encontra a comunidade cristã. “Os ataques começaram na sexta-feira [dia 12 de Abril] e prolongaram-se por sábado e domingo. Ao contrário do que é costume, no domingo, os ataques ocorreram pela manhã e à tarde. Isso representa, uma mudança nos métodos dos agressores, que geralmente atacam apenas à noite. Agora, os ataques ocorrem à luz do dia, quando são menos esperados”, disse.
Estes ataques visam expulsar os proprietários das terras para que extremistas muçulmanos possam assumir o seu controle. Afinal a área é predominantemente habitada por cristãos, e os agressores militantes buscam espaço para propagar as suas crenças religiosas.”
Padre Andrew Dewan
O Padre Andrew faz questão de sublinhar que toda esta violência traduz um evidente conflito religioso que se tem vindo a agravar nos tempos recentes. Na quadra de Natal e durante quatro dias, desde 23 de Dezembro, supostos militantes fulanis atacaram também 26 aldeias em Bokkos, provocando a morte a mais de três centenas de cristãos, como a Fundação AIS então noticiou.
“FALTA DE ACÇÃO DO GOVERNO”
Face a esta situação, o Padre Andrew pede às autoridades mais acção na defesa das comunidades cristãs vítimas dos ataques dos pastores nómadas fulani, mas também de grupos armados como o Boko Haram, que actua essencialmente no norte do país.
“Há falta de acção do Governo em relação a este conflito a todos os níveis. O objectivo principal do Governo é proteger vidas e propriedades, e isso não tem sido feito adequadamente”, diz o responsável pela comunicação da Diocese de Pankshin. “A maioria das promessas, logo após os ataques na véspera de Natal, ainda não foram cumpridas. As promessas do Governo são apenas palavras vazias”, acrescenta o sacerdote.
Face a esta situação, nota ainda o Padre Andrew à Fundação AIS, as populações locais começam a procurar mecanismos para a autodefesa. “Os ataques continuam e as vítimas dizem ‘chega’. A esperança era de que o Governo as protegesse. Isso não está a acontecer, então as comunidades estão a organizar-se para se proteger, pois o Governo e os funcionários eleitos não estão a fazer isso. As forças militares e policiais estão sobrecarregadas e incapazes de proteger os cidadãos, permitindo que essas atrocidades continuem sem controle.”
O Padre Andrew destacou a gravidade da situação enfrentada na sua Diocese: “A vida é considerada barata, mas é o presente mais precioso de todos. Ainda estamos lidando com um grande número de pessoas deslocadas em nossa comunidade”. “A Diocese está sobrecarregada com pessoas e vítimas. Estamos lidando com viúvas, com o pagamento de mensalidades escolares das crianças, alojamento… A diocese sozinha não pode suportar isso. Isso é uma emergência, esses problemas ainda estão em andamento e nada parece mudar”, referiu ainda o sacerdote.
ALERTAR OS DEPUTADOS DO REINO UNIDO
A Fundação AIS tem procurado alertar o mundo para a situação de enorme insegurança em que vivem as comunidades cristãs na Nigéria. Ainda na semana passada, dia 23 de Abril, um relatório produzido pela Fundação AIS com a exposição destes ataques mais recentes, nomeadamente na Diocese de Pankshin, foi entregue no Parlamento do Reino Unido numa reunião organizada pelo Grupo Parlamentar Multipartidário para a Liberdade Religiosa ou Crença na Câmara dos Comuns e em que participaram também diversos elementos do secretariado britânico da fundação pontifícia.
Também recentemente, a 13 de Março, o secretariado espanhol da Fundação AIS organizou um evento, a Noite de Testemunhos, em que se deu voz a um sacerdote nigeriano, o Padre Patrick Akpabio, que denunciou na Catedral de Almudena, em Madrid, a violência extrema que os cristãos enfrentam no seu país. “A fé dos Cristãos na Nigéria está ameaçada por uma espiral de martírio”, disse o padre. “Há muita insegurança, assassinatos, raptos, roubos, proliferação de seitas e grupos armados, tráfico de órgãos crescente e deslocação forçada de pessoas. Um dos fenómenos que mais afecta a Igreja é o brutal assassinato e rapto de padres. As consequências são traumáticas com a dispersão do povo de Deus. Muitas pessoas foram deslocadas, fugindo das suas casas por medo. As vítimas directas e as suas famílias vivem com uma dor irreparável”, acrescentou o sacerdote.
Na sua intervenção, o Padre Patrick sublinhou a coragem dos cristãos num ambiente tão violento onde ninguém está seguro em sítio algum. “Nos lugares onde as igrejas são queimadas, os padres ainda reúnem as pessoas que restam sob as mangueiras para celebrar a Missa ao ar livre. Actualmente, não há nenhuma região da Nigéria onde a vida de fé não esteja em perigo. Quem vai à igreja não sabe se voltará são e salvo. Os que estão nas igrejas não sabem se sairão delas sãos e salvos. As nossas escolas e seminários cristãos não são poupados. As igrejas cristãs não têm polícia, nem armas ou milícias para combater a insegurança numa sociedade cuja segurança está comprometida”, afirmou o Padre Patrick Akpabiom, na Catedral de Almudena, em Madrid.
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt