NICARÁGUA: ONU denuncia violação dos direitos humanos e pede a libertação de D. Rolando Álvarez

NICARÁGUA: ONU denuncia violação dos direitos humanos e pede a libertação de D. Rolando Álvarez

A prisão “sem julgamento prévio” do Bispo de Matagalpa, é um dos elementos em destaque no relatório elaborado pelas Nações Unidas e conhecido no final da semana passada, em que as autoridades de Manágua são acusadas de repressão e violação dos direitos humanos. E a perseguição à Igreja continua, agora com o encerramento de duas universidades católicas e da Caritas da Nicarágua…

No relatório apresentado ao Conselho dos Direitos Humanos, em Genebra, no dia 3 de Março pela secretária-geral adjunta da ONU, Ilze Brands Kehris, é denunciada a degradação “dos direitos humanos na Nicarágua” desde Dezembro de 2022, havendo uma referência explícita à situação do Bispo de Matagalpa e administrador apostólico da Diocese de Estelí, D. Rolando Álvarez, condenado a 26 anos e quatro meses de prisão. O prelado, afirmou Brands Kehris, foi “acusado de traição à pátria, destituído da sua nacionalidade nicaraguense e privado de direitos políticos para toda a vida”. A responsável das Nações Unidas diz ainda que a sentença contra o Bispo foi proferida “sem julgamento prévio”, e refere diversas outras situações de arbitrariedade, como a deportação, a 9 de Fevereiro, de 222 pessoas; a condenação, à revelia, a 15 de Fevereiro, de mais 94 indivíduos também por “traição à pátria”; e, entre muitos outros casos, um que inclui também “um padre nicaraguense proibido de regressar ao seu país”.

Universidades encerradas e procissões proibidas
Desde então, as medidas repressivas contra a Igreja têm continuado. A mais recente é o encerramento forçado de duas universidades católicas, a de São João Paulo II e a Autónoma Cristã da Nicarágua. Além disso, o governo de Manágua decidiu fechar a Fundação Mariana de combate ao Cancro e dois escritórios da Caritas, a da Nicarágua e a Diocesana de Jinotega. Antes destas medidas, conhecidas na semana passada, as autoridades já tinham decretado a proibição de celebração de qualquer procissão nas ruas durante a Quaresma e Semana Santa, como a Fundação AIS já noticiou. Esta proibição foi conhecida exactamente duas semanas depois de D. Rolando Álvarez ter sido condenado. Mal se soube de mais esta atitude contra a comunidade católica, D. Silvio José Báez, Bispo auxiliar de Manágua e que vive exilado nos Estados Unidos desde 2019, escreveu nas redes sociais que “a ditadura da Nicarágua proibiu as estações da Via Sacra nas ruas”, mas “o que não poderão impedir é que o Crucificado revele a Sua vitória em cada acto de solidariedade, em cada luta pela verdade e pela justiça e em cada esforço para defender a dignidade das pessoas”.

Homilias “estão a ser gravadas”
O clima de forte hostilidade que se vive na Nicarágua não se fica por aqui. Segundo informações obtidas pela Ajuda à Igreja que Sofre, o governo tem estado a advertir e a prender os padres que mencionam o bispo de Matagalpa nas suas celebrações. Pelo menos dois sacerdotes terão sido presos em Madriz e Nueva Segovia, precisamente por terem feito referências ou rezado pelo bispo durante as suas celebrações dominicais, e alguns fiéis, contactados entretanto pela AIS Internacional – mas que não podem ser identificados por questões de segurança – , dizem que há padres cujos sermões nas missas “estão a ser gravados”, que “ninguém pode pedir publicamente a libertação do Bispo Álvarez”, e que “os católicos têm medo que os seus padres e bispos possam ser presos e deportados”.

Trapistas deixam o país
Este clima de perseguição tem afectado também as congregações religiosas. O caso mais recente é o das Trapistas e de um grupo de irmãs de Porto Rico, que decidiram também deixar o país devido à pressão das autoridades. As religiosas da Congregação das Irmãs Trapistas da Nicarágua informaram no dia 1 de Março, na sua página oficial no Facebook, que deixavam “voluntariamente o país”, rumo ao Panamá, mas que permanecerão “sempre unidas na oração, na amizade e no amor que o Senhor nos deu nestes 22 anos”. Estas religiosas entraram assim na longa lista das vítimas das medidas repressivas tomadas pelo governo de Daniel Ortega contra a Igreja Católica. Anteriormente, recorde-se, as autoridades já tinham provocado a expulsão do país do Núncio Apostólico, Waldemar Stanislaw Sommertag, forçado a saída das Missionárias da Caridade, a congregação fundada pela Santa Madre Teresa de Calcutá, assim como de outros religiosos e sacerdotes, e provocado também o encerramento do canal de televisão da Conferência Episcopal e de outras seis estações de rádio católicas.

PA | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

Relatório da Liberdade Religiosa

Juntamente com todos os outros direitos fundamentais, a liberdade religiosa na Nicarágua piorou visivelmente, tal como foi observado por muitos meios de comunicação social, ONG e personalidades nacionais e internacionais. As perspectivas para os direitos humanos, incluindo a liberdade religiosa, são profundamente preocupantes e negativas.

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