O Papa nomeou na passada terça-feira, dia 23, D. Luís Miguel Muñoz como novo Núncio Apostólico para Moçambique. O anúncio do representante diplomático do Vaticano ocorre numa altura em que a região de Cabo Delgado volta a assistir a movimentações de terroristas que reivindicam pertencer ao grupo Jihadista Estado Islâmico e que estão a causar o pânico entre as populações.
Domingo, dia 21 de Janeiro, a vila de Mucojo, a segunda mais importante no distrito de Macomia, foi ocupada por grupos de terroristas, provocando uma debandada das populações, nomeadamente para a sede distrital. Pelo menos até à passada terça-feira, dia 23, os terroristas mantiveram-se nesta vila, num gesto de uma certa ousadia até pela proximidade na região de forças militares moçambicanas e dos países da África Austral que estão a apoiar os esforços das autoridades de Maputo face à insurgência jihadista na província de Cabo Delgado.
Além do distrito de Macomia, há relatos de movimentações terroristas também no distrito de Muidumbe. É neste cenário de violência e muita incerteza para as populações que a Santa Sé anunciou neste dia 23 de Janeiro o nome de D. Luís Miguel Muñoz como novo Núncio Apostólico, ou seja, como representante diplomático do Vaticano, em substituição de D. Piergiorgio Bertoldi, que ocupou o lugar desde 2019 até Junho do ano passado. D. Luís Muñoz é um arcebispo espanhol de 59 anos e tem já uma longa experiência como representante pontifício, tendo estado em países como a Grécia, México, Bélgica, Itália, Austrália, França e Turquia.
Antes de Moçambique, ocupou o cargo de Núncio Apostólico no Sudão e na Eritreia. Mons. Anthony Paul, encarregado de Negócios da Nunciatura Apostólica em Moçambique, referiu, num comunicado a que a Fundação AIS teve acesso, a “muita alegria” com que foi recebido no país o anúncio da nomeação de D. Luís Muñoz, explicando que o novo responsável tem como missão “cuidar das relações diplomáticas” entre ambos os Estados e de representar o Santo Padre no “amado País de Moçambique”.
VIOLÊNCIA SEM FIM EM CABO DELGADO
A questão da insurgência terrorista, que começou em 5 de Outubro de 2017 e já terá causado cerca de 5 mil mortos e mais de um milhão de deslocados, preocupa muito os responsáveis da Igreja Católica neste país de língua oficial portuguesa.
Ainda recentemente, no início de Janeiro, a Fundação AIS dava conta da aposta da Diocese de Pemba no diálogo inter-religioso para a erradicação do terrorismo no território. “Não se pode aguentar muito tempo uma situação de violência que parece não ter fim”, disse então o padre Eduardo Roca, desde há vários anos em Mahate, uma paróquia católica num bairro que é o coração do Islão na cidade de Pemba, a capital da província de Cabo Delgado.
O padre Roca é também um dos responsáveis pelo diálogo inter-religioso da diocese moçambicana.
Não importa se for uma guerra de baixa intensidade, como agora se fala. O medo toma conta dos corações, nenhuma instituição da sociedade merece mais confiança, porque o sentimento de sobrevivência impõe-se sobre os outros. A possibilidade de um ataque, a qualquer momento, e em qualquer lugar, torna a vida insuportável.”
Padre Eduardo Roca
País prioritário para a AIS
Moçambique é um país prioritário para a Fundação AIS no continente africano. A solidariedade dos benfeitores da Ajuda à Igreja que Sofre tem permitido levar a este país, especialmente à região de Cabo Delgado, diversos projectos de assistência pastoral e de apoio psicossocial às populações vítimas do terrorismo, mas também fornecimento de materiais para a construção de dezenas de casas, centros comunitários e ainda a aquisição de veículos para os missionários que trabalham junto dos centros de reassentamento que abrigam as famílias fugidas da violência.
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt