É um dos sacerdotes que melhor conhece a realidade do terrorismo em Moçambique. O padre Kwiriwi Fonseca esteve de visita a Cabo Delgado e numa breve mensagem enviada para a Fundação AIS em Lisboa, sublinha que os ataques terroristas continuam nesta região, apesar de mais esporádicos, e obrigam o povo a conviver “com o medo e a incerteza”.
Responsável durante anos pela comunicação da Diocese de Pemba, o padre Kwiriwi Fonseca, que presentemente está a viver em Curitiba, no Brasil, onde está a preparar uma tese de doutoramento na Universidade Pontifícia do Paraná, esteve de passagem por Moçambique e visitou algumas comunidades em Cabo Delgado. De regresso ao Brasil, enviou uma breve mensagem à Fundação AIS como alerta para que o mundo não desmobilize na solidariedade para com este país africano de língua oficial portuguesa. Os terroristas continuam activos, e apesar de os ataques estarem a ser um pouco mais esporádicos desde há algumas semanas, o medo nas populações mantém-se intacto. “Os ataques terroristas continuam em Cabo Delgado, embora haja o esforço do governo”, afirma o padre Fonseca, referindo-se à intervenção militar que o exército moçambicano está a realizar nesta província e que desde Julho de 2021, conta com o apoio de uma força regional da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e especialmente das Forças de Defesa do Ruanda. “O povo continua a conviver com o medo e incerteza do rumo da guerra, obrigando ainda milhares de pessoas a não regressar às suas terras de proveniência”, acrescenta o sacerdote.
“O mundo não se esqueça de Moçambique…”
Durante a curta estadia em Moçambique, o padre Fonseca, que já foi director da Rádio Sem Fronteiras, da Diocese de Pemba, interagiu com alguns deslocados de guerra que mostraram “preocupação devido à insistência dos ataques, principalmente os que têm ocorrido nos distritos de Macomia”. Por tudo isto, o padre Fonseca pede para que o “mundo não se esqueça de Moçambique”, lembrando a extrema debilidade em que se encontra este país, um dos mais pobres do mundo, e que além do flagelo do terrorismo tem lidado também, e cada vez com mais frequência, com situações graves no plano humanitário decorrentes da passagem pelo território de diversos ciclones e tempestades tropicais. Ainda recentemente, em Março, a região centro de Moçambique, com especial incidência na Diocese de Quelimane, foi assolada pelo ciclone Freddy que deixou atrás de si um profundo rasto de destruição e dezenas de mortos. D. Hilário Massinga, Bispo de Quelimane, explicou na ocasião à Fundação AIS, que a destruição causada na diocese foi de tal ordem que “todas as nossas igrejas, todas as nossas casas, residências, juntamente com as do povo, ficaram sem tecto”, agravando a crise humanitária com um foco de cólera e “pessoas a passar fome”. Calcula-se que mais de 350 mil pessoas foram afectadas com os ventos e chuvas fortes. O padre Kwiriwi Fonseca alerta também para esta realidade, ainda tão presente, e diz que “Moçambique clama por ajuda humanitária”.
País prioritário para a Fundação AIS
Toda esta situação, mas especialmente no que diz respeito ao apoio às vítimas do terrorismo, tornou Moçambique num país prioritário para a Fundação AIS no continente africano. De facto, o terrorismo em Moçambique tem afectado essencialmente o norte do país, especialmente a província de Cabo Delgado, onde grupos armados, que reivindicam pertencer aos jihadistas do ‘Estado Islâmico’, têm lançado, desde Outubro de 2017, sistemáticos ataques que já provocaram cerca de 4 mil mortos e quase 1 milhão de deslocados internos. A ajuda da Fundação AIS tem-se materializado nomeadamente em projectos de assistência pastoral e apoio psicossocial, mas também no fornecimento de materiais para a construção de dezenas de casas, centros comunitários e ainda a aquisição de veículos para os missionários que trabalham junto dos centros de reassentamento que abrigam as famílias fugidas da guerra.