MOÇAMBIQUE: “Há tiroteios em todo o lado. Seja o que Deus quiser…”, diz habitante de Palma em fuga após ataque a esta vila

MOÇAMBIQUE: “Há tiroteios em todo o lado. Seja o que Deus quiser…”, diz habitante de Palma em fuga após ataque a esta vila

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MOÇAMBIQUE: “Há tiroteios em todo o lado. Seja o que Deus quiser…”, diz habitante de Palma em fuga após ataque a esta vila

Quinta-feira · 25 Março, 2021

“Estamos a correr, fugir, para nos esconder na praia. Há tiroteios em todo o lado. Seja o que Deus quiser aqui em Palma…” Um homem em fuga gravou esta mensagem e enviou-a para Pemba a meio da tarde de ontem, 24 de Março, quando a vila de Palma estava a ser atacada por grupos armados.

Na gravação, enviada para Lisboa para a Fundação AIS, percebe-se que a pessoa, que não se identifica, está a correr e diz ainda que “as casas estão abandonadas”, sinal de que a população teria praticamente já fugido de suas casas.

Com as comunicações muito difíceis ou quase impossíveis, é com apreensão que os acontecimentos estão a ser seguidos desde Pemba, a cidade sede da província de Cabo Delgado e o lugar onde se encontram praticamente todos os sacerdotes e religiosas que tiveram de abandonar também as suas paróquias e missões por causa dos ataques armados que estão a fustigar esta região norte de Moçambique desde 2017.

Desde Pemba, o Padre Kwiriwi Fonseca, um dos responsáveis pela comunicação da Diocese, explicou à Fundação AIS que “os ataques” ocorreram “em simultâneo na aldeia de Manguna e nos bairros de Quibuite e Quilaua, na vila sede de Palma”.

O ataque de ontem era, no entanto, esperado. Pelo menos, essa é a indicação dada pelo Padre Edegard Silva, missionário brasileiro actualmente em Pemba, após a sua paróquia, do Sagrado Coração de Jesus, no distrito de Muidumbe, ter sido palco também de um dos mais violentos ataques dos terroristas nestes três anos de guerra.

MOÇAMBIQUE: “Há tiroteios em todo o lado. Seja o que Deus quiser…”, diz habitante de Palma em fuga após ataque a esta vila
O ataque de ontem era, no entanto, esperado.

“Já se esperava que houvesse esse ataque porque nos últimos 15 dias os malfeitores e os insurgentes vinham fazendo uma série de ataques na região de Nangade. Então, nos últimos 15 dias praticamente as diversas comunidades que fazem divisa [fronteira]) com Palma já haviam sido atacadas.”

Numa mensagem gravada e enviada ontem ao fim da tarde para a Fundação AIS, o Padre Edegard confirmava também que a população de Palma se pôs em fuga face ao ataque armado. “Lá em Palma tem muitos familiares de lideranças nossas e eles ligaram para dizer que já tinham fugido para o mato. Quando acontecem esses ataques, as pessoas fogem para o mato e aí fica difícil a comunicação, por causa do sinal e do carregamento da bateria do telemóvel”, explica o sacerdote.

O Padre Edegard Silva faz questão de explicar que a vila de Palma, onde se deu o ataque, fica situada precisamente na região “onde está a acontecer o grande projecto de exploração de gás pela multinacional Total” e que muitos observadores apontam como sendo uma das razões da “insurgência”, como esta situação de violência é referida muitas vezes a nível local.

De facto, Cabo Delgado tem sido palco de ataques por grupos armados que têm reivindicado a sua ligação ao Daesh, os jihadistas do grupo Estado Islâmico, desde Outubro de 2017 e que têm conduzido a região para uma situação de profunda crise humanitária. De acordo com as Nações Unidas, no final do ano passado havia já mais de 670 mil deslocados e mais de dois mil mortos.

A Fundação AIS tem procurado desde a primeira hora ajudar o esforço da Igreja local no apoio às populações deslocadas, tendo concedido uma primeira ajuda de emergência no valor de 160 mil euros. A Fundação AIS também tem prestado ajuda de subsistência aos sacerdotes e irmãs, bem como tem financiado a formação de seminaristas e de religiosas, além de outros projectos relacionados com as necessidades mais prementes da vida da igreja em Moçambique.

PA | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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