Cenário desolador após a passagem, nas últimas horas, do Ciclone Chido pela região norte de Moçambique. As províncias de Cabo Delgado e Nampula terão sido das mais afectadas. Segundo o Bispo de Pemba, em mensagem enviada de madrugada para a Fundação AIS, ainda não se sabe a dimensão efectiva de toda destruição, pois não há luz eléctrica nem comunicações telefónicas, mas vários distritos “foram fortemente fustigados”. Dezenas de capelas e igrejas também ficaram destruídas. Até os campos de deslocados, que abrigam vítimas dos terroristas foram arrasados. D. Juliasse pede ajuda, pede “socorro para este povo que agora ficou sem casa, sem alimentação, sem água”…
Depois da passagem pelas ilhas francesas de Mayotte onde o Ciclone Chido deixou um rasto enorme de destruição e morte – com um número de vítimas que poderá chegar às várias centenas, segundo as autoridades locais– a região norte de Moçambique foi atingida também neste Domingo pelos ventos fortes que, segundo as autoridades, poderão ter chegado aos 200km por hora e causado, pelo menos três mortos. Mas os danos materiais são profundos. As dioceses de Pemba, Lichinga, Nampula e Nacala terão sido das mais afectadas, com muitas casas e Igrejas arrasadas e milhares de pessoas que ficaram numa situação de enorme vulnerabilidade, sem abrigo e sem meios para a sobrevivência imediata.
Ainda de madrugada, com a cidade de Pemba sem luz eléctrica e comunicações telefónicas, e ainda com ventos muitos fortes a fazerem-se sentir, o Bispo de Pemba fazia um primeiro balanço da situação para a Fundação AIS em Lisboa.
Este ciclone foi devastador, foi mesmo devastador. É assustador ver que em pouco tempo os ventos fortes deixaram um enorme rasto de destruição.
D. António Juliasse, Bispo de Pemba
Na província de Cabo Delgado, o ciclone fustigou fortemente os distritos de Mecufi, Pemba, Ancuabe, Chiúre e Namono. “Nestes distritos, sobretudo nas zonas um pouco distantes dos pólos urbanos, a população tem as casas construídas com materiais locais, casas feitas de estacas e embatocadas com barro e com cobertura de capim. Estas casas, boa parte delas, estão agora parcial, ou totalmente destruídas” relatou o Bispo.
Até as estruturas da Igreja, normalmente mais sólidas, construídas com materiais mais resistentes, também ficaram destruídas. “Nós temos perto de meia centena de igrejas destruídas, desde a sede paroquial às igrejas das comunidades cristãs”, relata D. Juliasse, anotando que, em muitos casos, os danos maiores estão relacionados comos telhados ou coberturas que voaram ou ficaram muito danificados. “E temos também escolas, escolinhas, com os tectos que voaram ou estão no chão destruídos. E vários outros bens também estragados Em Chiúre, a Fazenda de Esperança também tem as suas instalações com os tectos todos danificados e, portanto, há muita destruição”, acrescenta o prelado.
“AS PESSOAS AGORA NEM ABRIGO TÊM…”
Exemplo da destruição causada pelos fortes ventos e chuva inclemente, é o Centro de Promoção Maria Mazzarello, das Irmãs salesianas, em Chiúre a Igreja de Namuno, assim como, também nesta localidade, a casa das Irmãs, o internato feminino, a escolinha e a casa dos padres. A grande preocupação, agora, é com o futuro imediato destas populações.
As autoridades moçambicanas tinham dado o alerta face à aproximação do ciclone Chido, antevendo que as províncias de Nampula e de Cabo Delgado – que corresponde à área geográfica da Diocese de Pemba – fossem mais atingidas e que isso afectaria cerca de 2,5 milhões de pessoas.
Nas últimas horas, o mau tempo também atingiu a Diocese de Tete. “Tivemos chuvas muito intensas, embora a força do vento tenha abrandado”, relatou, também de madrugada, D. Diamantino Antunes. O Bispo de Tete explicou à Fundação AIS que existe agora, depois da passagem mais intensa do ciclone, o risco de “inundações e de deslizamento de terras e o Instituto Nacional de Meteorologia de Moçambique alerta as populações para terem em atenção todas as medidas de segurança”. O tempo, agora, é para fazer a avaliação dos estragos.
D. António Juliasse está muito preocupado com a sorte de todas as pessoas que se viram, de um momento para o outro, sem casa e sem recursos de subsistência em Cabo Delgado. “As pessoas mais simples ficaram praticamente sem habitação e perderam também os poucos bens que tinham dentro das suas casas porque as chuvas mantiveram-se intensas durante muito tempo”, explica o Bispo de Peba. “Portanto, neste momento [temos] uma situação muito difícil e mesmo de emergência, com tantas famílias que ficaram, mesmo na cidade de Pemba, sem as suas habitações. São famílias de baixa renda, que viviam com o mínimo e agora nem sequer abrigo têm…”
AGORA VEM O PROBLEMA DA FOME
Para D. Juliasse, a urgência agora é conseguir lonas para distribuir pelas famílias mais atingidas pelas consequências do mau tempo, de forma a que elas possam improvisar “um abrigo mais simples para poderem colocar as poucas coisas que ainda têm”, e ajudar a resolver “o problema da fome, o problema da água potável”, etc..
O Bispo de Pemba enviou a mensagem para a Fundação AIS ainda de madrugada. Para as próximas horas e dias as estruturas da Diocese vão estar empenhadas no levantamento das situações para se ter uma noção o mais aproximada possível da dimensão da destruição causada pelo ciclone. “Nós ainda não mapeámos [a região] para termos a quantificação das pessoas com mais necessidades. É um trabalho que vamos fazer rapidamente nos próximos dias envolvendo a Cáritas e o sector de emergência da Diocese”, garantiu o Bispo.
Além de Pemba, há relatos também de muita destruição na Diocese de Nacala e Nampula, situadas mais a sul. Mas é mesmo na Diocese de Pemba que, ao que tudo indica, os ventos deixaram uma marca mais assustadora. Há relatos da “destruição terrível” em Mieze da missão da Igreja católica.
O padre Edegard Silva, sacerdote brasileiro que esteve por lá durante vários anos, compartilhou também com a Fundação AIS as informações que conseguiu recolher, falando “numa situação muito triste”. “A nossa missão está destruída. Nos bairros de Mieze, as casas precárias quase todas ficaram destruídas. Tudo ficou sem tecto, a casa dos padres, a escolinha, a escola… a Igreja também teve imensos danos…”.
Outros relatos que, entretanto, foram chegando também à Fundação AIS, falam de uma autêntica “tragédia”. “Não basta a guerra, depois a crise eleitoral [a contestação reprimida violentamente do resultado das eleições presidenciais e gerais de 9 de Outubro], já com tantos mortos. Agora isto…”
Face à dimensão desta “tragédia”, o Bispo de Pemba lembra o sofrimento do povo de Cabo Delgado e pede ajuda. Até os campos de deslocados, que abrigam as vítimas dos ataques terroristas que desde 2017 fustigam a região, ficaram também destruídos. “É um duplo sofrimento”, diz D. António Juliasse. “Faço o apelo para todos aqueles que podem ajudar, para nos apoiarem aqui em Cabo Delgado a minorar este sofrimento. Eu agradeço antecipadamente qualquer tipo de apoio, qualquer tipo de ajuda que pode vir em socorro deste povo que agora ficou sem casa, sem tecto, sem alimentação, sem água”, diz o Bispo de Pemba à Fundação AIS.
AJUDA DE EMERGÊNCIA
SOS Cabo Delgado
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt