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MOÇAMBIQUE: “Estão todos apavorados”, relata missionário na sequência de ataques terroristas a aldeias em Cabo Delgado
“Houve ataques em aldeias, a situação não está bem e estão todos apavorados.” O relato é de um missionário da Igreja Católica depois de ataques terroristas em várias aldeias no extremo norte da província de Cabo Delgado. Os ataques começaram no fim-de-semana e prolongaram-se até ontem à tarde causando mais de uma dezena de mortos e a destruição de diversas habitações.
Pedindo para não ser identificado, por questões de segurança, o missionário refere que há informações também de combates entre terroristas e forças militares presentes na região de Nangade, que está situada muito próxima da fronteira com a Tanzânia.
Segundo os dados disponíveis, os “insurgentes” – como os terroristas são conhecidos localmente –, atacaram no domingo as aldeias de Kankhomba, Janguane, Mambo Bado e Muhia, e ontem, terça-feira, 22 de Fevereiro, as aldeias de Milola, Chianga, Lutona, Napuatakala. Em resultado destes ataques, as populações fugiram e têm procurado abrigo na vila de Nangade que, pela sua dimensão, aparentemente garante alguma segurança.
O missionário que falou com a Fundação AIS diz que não é possível apurar ainda o número exacto de pessoas que terão morrido em sequência dos ataques terroristas, mas fala num cenário de grande destruição que justifica o medo que se instalou entre as populações. “Não tenho preciso o número de mortos, por enquanto ninguém sabe, mas houve aldeias em que queimaram casas e eram aldeias grandes, povoadas, lugares onde se faz muita ‘machamba’… e de facto eles [os terroristas] passaram e queimaram bastantes casas”, disse o missionário ao telefone para a Fundação AIS em Lisboa.
Simultaneamente aos ataques atribuídos aos insurgentes houve a resposta de forças militares moçambicanas, que estão a desenvolver diversas operações em toda a província de Cabo Delgado com o apoio de unidades do exército do Ruanda e de países da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral. Nessas operações, segundo informações divulgadas pelas Forças de Defesa de Moçambique, terão sido abatidos sete terroristas e desmantelados 16 esconderijos que estes possuíam no mato, assim como uma base de comunicações. Estas operações militares decorreram também nos últimos dias no distrito de Palma, situado igualmente na região fronteiriça com a Tanzânia.
O missionário da Igreja Católica confirma à Fundação AIS um ambiente de alvoroço na zona de Nangade. “A [vila] sede está bem agitada pois ao redor há movimentos de pessoas do grupo [dos terroristas] e os militares combatendo. Por estes dias, está tudo muito agitado não só por Nangade mas também nas aldeias ao redor.”
No início do mês de Fevereiro, a Fundação AIS dava conta já de uma situação de “tensão muito forte” na vila de Macomia, situada também na província de Cabo Delgado, onde, segundo uma religiosa, “muitas aldeias” tinham sido atacadas, verificando-se ainda “o rapto sistemático de pessoas, principalmente mulheres e mães com suas próprias crianças”, o que estava a contribuir para o agravamento do sentimento de insegurança entre as populações locais.
Desde que os ataques armados tiveram início, em Outubro de 2017, já morreram mais de três mil pessoas. Como consequência directa da violência terrorista, há cerca de 800 mil deslocados internos. Toda esta situação tornou Moçambique num país prioritário para a Fundação AIS no continente africano, especialmente no que diz respeito ao apoio aos refugiados.
A ajuda da Fundação AIS tem-se materializado nomeadamente em projectos de assistência pastoral e apoio psicossocial, mas também no fornecimento de materiais para a construção de dezenas de casas, centros comunitários e ainda a aquisição de veículos para os missionários que trabalham junto dos centros de reassentamento que abrigam as famílias fugidas da guerra.
PA | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt