Cabo Delgado está a assistir a uma nova onda de ataques terroristas que têm vindo a dar origem também a novos deslocados, populações que fogem da violência destes homens armados que reivindicam pertencer ao Daesh, o grupo jihadista Estado Islâmico. A situação humanitária tende a agravar-se acentuadamente até porque a própria Igreja reconhece estar sem meios para acudir a esta nova emergência humanitária. Betinha Ribeiro, gestora de projectos da Cáritas de Pemba, diz, à Fundação AIS, que estas famílias precisam de ajuda concreta e não de consolo. “Neste momento, as palavras não significam nada”, diz.
Desde Dezembro que se tem vindo a intensificar a violência terrorista na província de Cabo Delgado, a norte de Moçambique, tendo havido já ataques em localidades situadas nas proximidades da capital distrital, Pemba. Estes ataques, alguns reivindicados pelo Daesh, o grupo jihadista Estado Islâmico, estão a provocar o medo e a gerar uma nova onda de deslocados.
Muitas destas famílias têm pedido ajuda à Cáritas de Pemba, mas a organização da Igreja Católica está sem recursos para acudir a esta nova emergência humanitária no território. Betinha Ribeiro, gestora de projectos da Cáritas diocesana, reconhece a delicadeza da situação e diz, à Fundação AIS, que não tem forma de “ajudar esses nossos irmãos que estão a sofrer estes últimos ataques”.
A responsável explica que seriam necessários pelo menos cerca de 200 mil euros – “esse seria o valor mínimo” – para dar resposta às necessidades mais prementes destes novos deslocados. “Neste momento, a Caritas tem vindo a receber muitos pedidos para poder ajudar essas famílias que chegam, e outras que vão para as suas zonas de origem”, reconhece Betinha Ribeiro, mas, “por falta de recursos financeiros”, não tem sido possível dar a resposta necessária.
“ESTAMOS DE MÃOS ATADAS”
Actualmente, a Caritas está a passar por uma situação de crise financeira comparando com os anos passados em que, se calhar, ocupávamos o segundo lugar depois do PMA [Programa Mundial de Alimentação, das Nações Unidas] na área da assistência humanitária, e nós respondíamos a todas as áreas.”
Betinha Ribeiro
“Um exemplo concreto é que tivemos a informação de que um dos recentes ataques foi no distrito de Metuge, nos centros de reassentamento, muito próximos de Pemba”, diz Belinha Ribeiro. Um desses centros, “3 de Fevereiro”, envolveu uma grande participação da própria Cáritas Diocesana ao nível da construção de abrigos, por exemplo, e agora, as populações como que “automaticamente”, diz a gestora de projectos, “vão recorrer à Cáritas para [as] podermos apoiar, mas com a falta de recursos estamos de mãos atadas e não temos como responder…”.
A situação tende a agravar-se pois as notícias de novos ataques, como a Fundação AIS tem vindo a divulgar, fazem alastrar o sentimento de insegurança e levam as populações a fugir e a procurar abrigo em lugares considerados menos expostos às movimentações dos terroristas. É uma situação humanitária urgente que exige respostas também urgentes e não apenas palavras de conforto.
“O consolo só por si não basta. Estas populações estão a precisar de apoio. Neste momento, as palavras não significam nada”, diz Betinha Ribeiro à Fundação AIS. Mesmo assim, deixa uma palavra de esperança através da Fundação AIS. “Estamos juntos e esperamos, num futuro breve, poder ajudá-los…”.
PAÍS PRIORITÁRIO PARA A FUNDAÇÃO AIS
Para já, as notícias que chegam à sede da Cáritas de Pemba são preocupantes e revelam uma intensidade crescente de ataques por parte dos grupos terroristas em diversas aldeias, com igrejas e casas queimadas, pessoas raptadas e mortas num ambiente de insegurança que já levou inclusivamente à saída, por prudência, como a Fundação AIS já noticiou, de alguns missionários e religiosas que estavam na zona onde ocorreram os incidentes mais recentes.
Uma irmã, presente na Diocese de Pemba há vários anos, disse à AIS que, em toda a província, “a situação é muito, mas muito complicada”, e que “eles”, os terroristas, “estão espalhados pelos distritos sul e centro”.
Tal como esta irmã, um missionário que não pode ser identificado por questões de segurança relatava um ambiente de medo nas populações. “O povo já se deslocou para aldeias vizinhas e para a sede da Vila de Chiure superlotando estes lugares”, disse, numa mensagem escrita enviada para a Fundação AIS em Lisboa. “São pessoas que caminham grandes quilómetros e outras que estão escondidas pelas matas nos arredores das aldeias”, acrescentou o religioso, concluindo que “as igrejas foram queimadas assim como as casas da população”.
Moçambique é um país prioritário para a Fundação AIS no continente africano. A solidariedade dos benfeitores da Ajuda à Igreja que Sofre tem permitido levar a este país, especialmente à região de Cabo Delgado, diversos projectos de assistência pastoral e de apoio psicossocial às populações vítimas do terrorismo, mas também fornecimento de materiais para a construção de dezenas de casas, centros comunitários e ainda a aquisição de veículos para os missionários que trabalham junto dos centros de reassentamento que abrigam as famílias fugidas da violência.
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt