O anúncio de que o Santo Padre vai visitar o Luxemburgo, numa viagem que o levará também à Bélgica no final de Setembro, deixou a comunidade cristã local entusiasmada. Mas quase metade da população deste país é estrangeira e, como diz o padre Rui Pedro à Fundação AIS, são principalmente os portugueses, italianos e africanos que constituem as “comunidades mais vivas” da Igreja e são eles que estão já também a preparar a visita de Francisco…
Já se sabe a data e o programa da visita. Dia 26 de Setembro, o Papa Francisco é esperado no Luxemburgo numa viagem que o levará também à Bélgica. Mal a notícia foi conhecida e logo as comunidades cristãs locais ficaram entusiasmadas com a perspectiva de receberam o Santo Padre. Esta será, para muitos, uma viagem histórica.
A última vez que um Papa foi ao Luxemburgo foi já há quatro décadas. E muita coisa mudou desde que São João Paulo II visitou a cidade de Esh-sur-Alzette, onde hoje vive o padre Rui Pedro. “Em 40 anos, o país mudou muito, a migração mudou muito”, reconhece este missionário scalabriniano português numa mensagem enviada para a Fundação AIS em Lisboa.
Sobre a visita em si, sabe-se que será relativamente curta, apenas cerca de oito horas, mas a comunidade portuguesa, uma das mais numerosas, tem uma expectativa elevada. Além dos formalismos oficiais com as autoridades – o Papa vai ao país a convite do Grão-Duque do Luxemburgo –, estão previstos dois encontros, um com a sociedade civil e outro com a comunidade católica.
Será aqui, na Catedral de Notre-Dame, que ocorrerá o momento mais significativo, com um discurso de Francisco e a oportunidade para um contacto mais próximo com o líder da Igreja. “Nós esperamos participar num evento, seja na catedral, seja ao ar livre, de modo a manifestarmos ao Papa a nossa grande alegria, até porque ele esteve há um ano em Portugal na JMJ, e portanto é quase um acolhê-lo de novo após esse encontro em Lisboa”, sublinha o sacerdote.
“QUE O PAPA TRAGA ESPERANÇA”
Mas o que esperam os cristãos do Luxemburgo, o que esperam as comunidades migrantes que representam cerca de metade da população do país desta visita do chefe da Igreja Católica?
O que nós esperamos é que o Papa venha incutir esperança. Esperança nesta Igreja no norte da Europa, onde de facto a secularização é muito alta, e onde neste momento as comunidades mais vivas são as comunidades da imigração, portuguesas, italianas, africanas. São comunidades vivas que a Diocese tem sabido acolher.”
Padre Rui Pedro
A Igreja do Luxemburgo está a atravessar também um tempo de mudança. O sacerdote português fala num contexto novo, que resulta da separação recente entre Igreja e Estado, na adaptação à laicidade e ao modo de seguir as migrações. E depois há a vida consagrada. E aqui, diz também o missionário português, a expectativa é grande face à visita do papa Francisco, até porque, tal como acontece um pouco por toda a Europa, as vocações não abundam e há um envelhecimento progressivo dos rostos da Igreja.
“Esperamos também que o Papa venha incutir profetismo às congregações religiosas aqui presentes. Não são muitas, mas atravessam também uma grande crise. Não há vocações e há congregações com grandes estruturas e instituições, mas falta vida, falta dinamismo. Na verdade, na vida consagrada no Luxemburgo, eu e outros somos estrangeiros e somos o rosto mais jovem da vida consagrada no Luxemburgo”, explica.
ENCONTRO COM OS JOVENS
O encontro com o Papa pode vir a ser determinante também para os mais jovens, ainda com a memória fresca da enorme Jornada Mundial da Juventude que transformou a cidade de Lisboa em Agosto do ano passado na capital do mundo católico.
“Penso que estes jovens possam receber da parte do Papa um novo ‘élan’, que esta visita do Papa possa encorajar estes jovens que são de várias culturas, de várias comunidades, a participar fortemente na vida da igreja”, afirma o sacerdote.
Num país onde os estrangeiros estão presentes em todos os sectores da sociedade, a visita do Santo Padre pode deixar pistas, orientações, pode vir a ser profética face aos caminhos a seguir nesta área tão sensível no velho continente. “Outro grande tema que nós esperamos que o Papa nos confirme é a chamada pastoral intercomunitária neste país onde 48% são cidadãos estrangeiros”, diz o sacerdote apontando para a vitalidade das relações entre as comunidades, em que a paróquia sobressai como o espaço onde todos rezam juntos. E há também o desafio dos recém-chegados ao país, os refugiados, a multidão dos que procuram um novo espaço para uma nova vida.
“SEJA BEM-VINDO, PAPA FRANCISCO!”
O Luxemburgo que Francisco vai encontrar é profundamente diferente do país que São João Paulo II visitou há quatro décadas. “O Papa Francisco vai encontrar um outro Luxemburgo, muito mais diverso, muito mais rico, muito mais atencioso às diversidades e [espero] que o Papa nos confirme neste diálogo inter-religioso e neste diálogo intercultural acolhendo os últimos, os refugiados, os recém-chegados que de toda a Europa continuam a chegar, porque este é um país atractivo pelas suas condições de vida”, disse o padre Rui Pedro na mensagem enviada para a Fundação AIS em Lisboa.
Para o sacerdote, se tiver a possibilidade de um encontro pessoal com o Papa, por mais fugaz que possa ser, há já umas ideias alinhavadas sobre o que lhe pretende dizer. “Como missionário scalabriniano eu diria ao Papa ‘muito obrigado por ter no seu ministério, no seu magistério, ter sempre presente os migrantes e os refugiados’. É quase um ponto fixo em tudo aquilo que o Papa faz e diz”, explica o sacerdote português, que, se puder, dirá ainda ao Papa Francisco: “É muito bem-vindo ao Luxemburgo!”.
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt