LÍBANO: Na véspera do primeiro aniversário da explosão do porto, Beirute luta para curar as feridas (c/vídeo)

LÍBANO: Na véspera do primeiro aniversário da explosão do porto, Beirute luta para curar as feridas (c/vídeo)

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LÍBANO: Na véspera do primeiro aniversário da explosão do porto, Beirute luta para curar as feridas (c/vídeo)

Terça-feira · 3 Agosto, 2021
Quando se assinala o primeiro aniversário da grande explosão que, no dia 4 de Agosto de 2020, devastou o porto de Beirute e os bairros cristãos da capital libanesa (especialmente Gemmayzeh, Mar Mikhael, La Quarantaine, Achrafieh e Bourj Hammoud) e que deixou mais de 200 mortos e 6.500 feridos, os Libaneses estão divididos entre a revolta e a resignação.

A próxima quarta-feira, dia 4 de Agosto, foi declarado pelo Conselho de Ministros um dia de luto nacional com suspensão dos trabalhos nas administrações e instituições públicas. Nesse dia, no porto de Beirute, terá lugar uma cerimônia presidida pelo Patriarca Maronita Bechara Raï.

No meio disto tudo, a população libanesa desespera com a profunda crise que o país atravessa desde Outubro de 2019, com uma corrupção endémica, infraestruturas públicas decadentes e hospitais à beira do colapso devido ao avanço da pandemia da Covid-19. No sistema de saúde, muitas enfermeiras e médicos emigraram e foram trabalhar no exterior. Muitos dos que ainda não saíram estão a pensar deixar do país. Professores de colégios católicos com salários que já não são suficientes para alimentar as famílias, pedem a demissão com a intenção de emigrar. No final do ano passado, foram enviados mais de 380 mil pedidos de emigração às embaixadas da União Europeia, Canadá e Estados Unidos… O futuro do país é muito sombrio!
LÍBANO: Na véspera do primeiro aniversário da explosão do porto, Beirute luta para curar as feridas (c/vídeo)
A próxima quarta-feira, dia 4 de Agosto, foi declarado pelo Conselho de Ministros um dia de luto nacional.

A maioria da população entre a pobreza e a miséria

Mais da metade da população do Líbano vive abaixo da linha da pobreza e há cada vez mais pessoas que vivem em situação de miséria. No Colégio da Sagrada Família em Jounieh, a cerca de 20 km de Beirute, a Irmã Eva Abou Nassar, responsável pela administração, conta que entre Junho e Julho perdeu cerca de 20 professores: “A maior parte quer emigrar porque já não tem dinheiro. O seu poder de compra caiu drasticamente: se antes da crise um salário inicial de 1,5 milhões de libras libanesas (LL) era equivalente a 1.000 dólares americanos, com o colapso da moeda agora não vale mais de 75 ou 80 dólares. Um professor com experiência ganha o dobro, mas mesmo assim é muito pouco. Antes da crise um dólar valia 1.500 libras e agora está a ser trocado no mercado paralelo por 18.500 libras.”

O Líbano tem que importar quase tudo e, por isso, praticamente tudo tem de ser pago em dólares. “Uma lata de leite em pó – precisa de duas por semana – custa 250 mil LL. Alugar um gerador (já que o fornecimento público de energia eléctrica só funciona de duas a quatro horas por dia) custa 600 mil LL por mês – enquanto o salário mínimo é de apenas 675 mil LL. Conseguir uma peça sobressalente para o seu carro pode custar entre dois e quatro meses de salário médio… Aqui em Jounieh, uma cidade que não é considerada pobre, há famílias que saem de madrugada para não serem vistas a procurar comida nos caixotes de lixo!”

Os nomes dos “mártires” inscritos nas paredes

No muro que acompanha a estrada marginal do porto estão inscritos os nomes dos “mártires” que morreram na explosão, juntamente com algumas fotografias de crianças já desvanecidas com o passar do tempo. Diante das ruínas do que resta dos silos destruídos pela explosão de 2.750 toneladas de nitrato de amónio armazenadas num hangar portuário desprotegido desde 2014 – por irresponsabilidade das autoridades, que se culpam mutuamente – ergue-se agora uma enorme escultura de pedaços de metal retorcido, uma forma humana com uma pomba metálica na ponta de um braço estendido. “Foi montado pelos manifestantes da thawra (revolução), que protestam contra o Governo desde Outubro de 2019. O povo está saturado da classe política que só procura o seu próprio interesse sem nenhuma preocupação com as necessidades da população…” , diz o advogado Wajih Raad, irmão do Pe. Samih Raad, que lidera os membros da Fundação AIS pelas ruas do bairro de Gemmayzeh. As ruas ostentam ainda as feridas do fatídico 4 de Agosto.

Muitas lojas estão encerradas, os restaurantes que ladeavam as ruas movimentadas estão quase todos fechados e o bairro parece sem vida – nada a ver com os anos anteriores à crise. “O ambiente é sombrio, as pessoas gostariam de recomeçar, mas como?”, pergunta Wajih, que, no entanto, está otimista contra todas as probabilidades, com a esperança firmemente ancorada no coração. “Isto vai levar-nos muitos anos, mas vamos conseguir!” Ali mesmo ao lado, no bairro de Mar Mikhaël, o imponente edifício-sede da Electricité du Liban, totalmente devastado, mostra as suas janelas abertas. Perto dali, um grande mural decrépito com a pergunta: “O que é que o futuro nos reserva?”

“O Papa Francisco deu-nos esperança para enfrentar esta crise ao apelar à Igreja universal para não nos deixar afundar. O Papa não abandonará a Igreja do Líbano. Estamos a recuperar um certo grau de confiança, apesar de todas as dificuldades. Por que temer os outros se temos fé em Jesus Cristo? O fermento pode ser uma pequena quantidade, mas é capaz de fermentar todo o pão” Esta é a conclusão do Pe. Raymond Abdo, Provincial da Ordem dos Carmelitas Descalços do Líbano, que nos recebe no Mosteiro de Nossa Senhora do Monte Carmelo, em Hazmieh, nos subúrbios de Beirute.

A Fundação AIS está profundamente empenhada no apoio à população libanesa, atingida pela crise desde o Outono de 2019 e pelas consequências da explosão de 4 de Agosto de 2020 no porto de Beirute. A AIS apoiou em 2020 com cerca de 2.738.000 euros a reconstrução de edifícios religiosos destruídos pela explosão e destinou 2.250.999 euros à ajuda de emergência, além de ajuda pastoral, transporte, ajuda de subsistência e muito mais – no valor total quase 5.439.000 euros.

» Veja o relatório “Líbano: Um ano depois” – (PDF 3MB, versão inglês)
Estatísticas e dados sobre o Cristianismo no Líbano e a ajuda prestada pela Fundação AIS

Jacques Berset (ACN Swiss) | info@fundacao-ais.pt

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