Foi inaugurada no sábado, dia 25 de Novembro, na Diocese de Guaira, a primeira igreja paroquial no Bairro Ciudad Chávez, uma obra governamental que foi concebida como um lugar sem Deus. Mas dez anos depois da sua criação, celebrou-se a primeira missa num templo que é dedicado a São Óscar Romero e cuja obra teve o apoio da Fundação AIS. É a primeira igreja paroquial construída na Venezuela em bairros sociais do Estado. Para o Bispo de Guaira, que já esteve em Portugal, “o povo tem fome de Deus”.
Foi num ambiente de festa que no sábado, 25 de Novembro, o Cardeal D. Baltazar Porras, juntamente com mais 12 bispos e meia centena de sacerdotes procedeu à consagração da nova igreja na Ciudad Chávez, no bairro do município venezuelano de Vargas, na Diocese de La Guaira.
“Esta paróquia está sob a proteção de São Óscar Arnulfo Romero, o bispo latino-americano que foi martirizado por defender os direitos dos mais desfavorecidos”, disse o prelado. A igreja, que está dedicada ao bispo mártir salvadorenho, será também um santuário diocesano dedicado ao beato venezuelano José Gregorio Hernández, conhecido como “o médico dos pobres”.
Por tudo isto, disse também D. Baltazar, este será, seguramente, “um lugar de peregrinação”. Para a Igreja, para os fiéis, foi um dia de festa e um sinal da resiliência da comunidade cristã. O bairro foi construído em 2013 como parte dos projectos do programa social do então presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
Cerca de 6 mil apartamentos foram construídos para mais de 20 mil habitantes como parte de um projecto estatal chamado “Gran Misión Vivienda Venezuela”. Na verdade, foi uma cidade concebida como um lugar sem Deus. Por isso tem tanto significado a inauguração agora, dez anos mais tarde, desta Igreja, desta primeira Igreja. “Cristo não ia estar presente nesta urbanização. Foi o que se pensou. Dez anos depois, Deus vai encarnar e viver entre nós”, diz o bispo salesiano de La Guaira, D. Raúl Biord, à Fundação AIS.
A MISSA ERA CELEBRADA AO AR LIVRE
Não foi fácil avançar com este projecto. Num país onde a tensão entre o governo e a Igreja tem sido grande, não faltaram dificuldades. “Alguns podem censurar-nos por termos feito um projecto com o apoio do governo, mas a comunidade celebrava missa na rua, ao ar livre, há dez anos.
A população local queria ter uma igreja onde se pudesse reunir. Como bispo, sou, antes de mais, um pastor, e 20 mil almas não podem ficar sem alimento espiritual”, acrescentou D. Biord à Fundação AIS, uma das organizações que apoiou a construção.
“Tivemos apoio de muitos lados para tornar isto possível. A fé transcende as posições políticas e une as pessoas que pensam de forma diferente”, explica o bispo de La Guaira.
Entre os representantes do governo, há ateus, alguns militantes e outros menos, mas nem todos são assim, também encontrei cristãos que vivem a sua fé com convicção. Em termos concretos, não encontrámos aqui nenhum obstáculo ou impedimento, pelo contrário, têm-nos apoiado muito. Para mim, é um milagre o facto de termos conseguido construir o santuário num período de tempo tão curto."
D. Raúl Biord Castillo
APOIO AOS MAIS POBRES
A Igreja e o santuário vão ser parte integrante da rede assistencial que a Igreja da Venezuela tem vindo a concretizar para dar resposta aos inúmeros problemas de pobreza existentes no país. A nova paróquia estará ao serviço dos mais necessitados e abandonados da sociedade, tendo por exemplo, um refeitório e um centro de formação para a construção de comunidades.
Uma ideia que o bispo considera muito importante num país, como a Venezuela, “onde há tanta divisão social na comunidade”. Além disso, será também, claro, um lugar central para actividades pastorais, permitindo dinamizar o trabalho que já está a ser feito ao nível diocesano. “Em agosto de 2022, foram realizadas missões de evangelização com 73 jovens da pastoral diocesana.
Agora, as 106 crianças da catequese terão uma bela igreja para fazer a primeira comunhão e receber o crisma”, explica com alegria D. Biord.
“É a primeira igreja paroquial construída na Venezuela em bairros sociais do Estado. Pretende-se que seja um edifício sólido que perdure no tempo, mas também que ajude a devoção e a oração popular. Dedicada a Deus e construída por amor e com amor.”
E isto é importante. Embora possa parecer até paradoxal construir uma igreja num país que atravessa uma crise económica profunda, a verdade é que, como também explica o Bispo à Fundação AIS, “o povo tem fome de Deus”…
OBRIGADO, FUNDAÇÃO AIS
Este foi um edifício sonhado pelos fiéis e que fazia muita falta. Até ao momento, confessou o Bispo de Guaira à Fundação AIS, desde que está à frente dos destinos da Diocese, em 2014, que já foram construídas nove igrejas, “algumas muito pequenas, mas todas muito desejadas pelas comunidades”, disse ainda D. Raul Biord Castillo. “Podem parecer muitas, mas, na verdade, precisamos de construir mais três ou quatro… Ajudem-nos!”
O Bispo de Gauíra esteve já em Portugal. Foi em 2017, quando participou na peregrinação internacional a Fátima organizada pela Fundação AIS. Na ocasião, em entrevista também à Ajuda à Igreja que Sofre, o prelado agradeceu a solidariedade dos benfeitores desta instituição pontifícia que permite à Igreja da Venezuela continuar a estar ao lado dos mais pobres, ser um sinal de esperança junto dos que mais sofrem na Venezuela.
Quero agradecer a tantos benfeitores, sobretudo pela oração, mas também pelas vossas contribuições que nos ajudam a ajudar a tanta gente a viver com um sentido, a lutar, a sofrer e, sobretudo, a descobrir a presença de Deus nos mais pobres”
D. Raul Biord Castillo
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt