FRANÇA: Autor do ataque terrorista à Basílica de Nice em Outubro de 2020 condenado a prisão perpétua

Brahim Aouissaoui, acusado do ataque terrorista à Basílica de Nice no dia de 29 de Outubro de 2020, em que esfaqueou até à morte três pessoas que se encontravam na Igreja, foi condenado a prisão perpétua. O julgamento deste caso, que chocou a opinião pública, ocorre numa altura em que foi divulgado um relatório que aponta para o aumento, pelo segundo ano consecutivo, do número de roubos e tentativas de incêndios em Igrejas em França.

O Tribunal Especial de Paris condenou ontem, quarta-feira, dia 26, Brahim Aouissaoui, a prisão perpétua pelo ataque terrorista na Basílica de Notre Dame de Nice, em que foram assassinadas três pessoas, duas mulheres e o sacristão da Igreja.

Depois de uma primeira audiência, a 10 de Fevereiro, em que foram ouvidos dois peritos psiquiátricos, o Tribunal interrogou o jovem tunisino, de 25 anos, sobre os factos que ocorreram na manhã de 29 de Outubro de 2020.

Depois de num primeiro momento ter afirmado que não se lembrava de nada, na sessão que decorreu na passada segunda-feira, dia 24, Aouissaoui justificou o ataque como uma acção de vingança em nome dos muçulmanos. “Todos os dias são mortos muçulmanos. Todos os dias matam muçulmanos e não se importam. Não mostram empatia por eles”, afirmou em árabe, sendo traduzido por um intérprete. Também disse que “o Ocidente mata cegamente” e que “a vingança é um direito e uma verdade”, embora tenha sempre insistido perante o Tribunal de que não é um terrorista mas apenas um muçulmano.

No ataque, em 29 de Outubro de 2020 ao templo católico, o jovem tunisino usou uma faca de cozinha. Bastou isso para tirar a vida a Nadine Devillers, de 60 anos; Simone Barreto, brasileira, 44 anos, mãe de três filhos; e Vincent Loquès, 54 anos, sacristão, duas filhas. As duas mulheres tinham ido à Igreja para rezar. O sacristão estava ali na sua rotina de todos os dias. Tinha aberto as portas do templo, acendido as velas, assegurado que tudo estava em ordem…

Brahim Aouissaoui foi condenado a prisão perpétua não só por ter esfaqueado estes três fiéis, mas também por outras seis tentativas de assassinato.

VIDAS INTERROMPIDAS

A história deste ataque terrorista numa igreja em França vai juntar para sempre as histórias das três vítimas. O sacristão ia fazer, dali a horas, no dia seguinte, 55 anos de idade. Era um homem muito apreciado por todos. Na altura, uma paroquiana falou dele como alguém sempre preocupado com os outros, que dava de comer aos pobres e que ajudava os refugiados que apareciam por ali. Um homem de bom coração.

Simone, a brasileira, estava na Basílica a rezar. Vivia em França há três décadas e trabalhava a tomar conta de idosos. Esfaqueada, ainda se arrastou para fora da Igreja já a esvair-se em sangue. Teve apenas tempo para deixar um recado a quem a amparou na agonia da morte. “Digam à minha família que a amo.” Foram as suas últimas palavras. O seu testamento.

A outra mulher, Nadine, de 60 anos, foi degolada junto à pia baptismal. Quando a notícia do ataque na Basílica começou a chegar às redacções dos jornais, das rádios e televisões em todo mundo, houve quem lembrasse logo o Padre Jacques Hamel, também assassinado numa igreja em França. Hamel, de 85 anos, foi degolado na igreja de Saint Étienne-du-Rouvray, um subúrbio de Rouen, no nordeste de França, em 26 de Julho de 2016.

MAIS INCÊNDIOS CRIMINOSOS

O julgamento do ataque terrorista na Basílica de Nice trouxe para a ordem do dia a questão da violência contra os cristãos em França, nomeadamente os incêndios em locais de culto.

Um relatório divulgado no início deste ano pelo Ministério do Interior, refere que, apesar de se ter registado uma queda nos ataques anti-cristãos, houve, pelo segundo ano consecutivo, um aumento significativo no número de incêndios, roubos e actos de vandalismo em igrejas e outros edifícios religiosos.

No ano passado registaram-se quase meia centena de incidentes que contrastam com 38 casos no ano de 2023, ou seja, um aumento de mais de trinta por cento.

Um desses casos, em Setembro do ano passado, foi reportado pelo portal de notícias do Vaticano. O incêndio na Igreja da Imaculada Conceição, em Saint-Omer, no norte de França, provocou a destruição do telhado e da torre sineira do edifício que data de 1845. O Bispo de Arras deslocou-se ao local para “presidir a um momento de oração”, tendo oferecido o seu apoio e consolo à comunidade local “diante da emoção suscitada pela destruição da Igreja”. Para a reparação da igreja incendiada o próprio município local decidiu lançar uma subscrição pública, escreve o Vatican News.

Os incêndios em igrejas em França fazem recordar também o trágico fogo que devastou a famosa e histórica Catedral de Notre-Dame, em Paris, em 15 de Abril de 2019 e que levou a uma complexa obra de restauro que permitiu a reabertura do templo no início de Dezembro do ano passado. Uma reabertura que levou até à Catedral parisiense inúmeros chefes de Estado, bispos e convidados.

O Papa Francisco enviou uma mensagem de satisfação em que não esqueceu o trabalho de centenas de operários nem a solidariedade internacional que permitiu custear as despesas da obra. “Que o renascimento dessa admirável igreja possa constituir um sinal profético da renovação da Igreja na França”, afirmou o Santo Padre na sua mensagem.

Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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