Desde sexta-feira que Cuba está a viver em emergência energética com o corte de electricidade que deixou o país às escuras e numa altura em que uma tempestade atingiu também uma parte do território. Esta situação, que veio agravar a já profunda crise económica que se vive no país, vem mostrar a importância e urgência da campanha lançada recentemente pela Fundação AIS em Espanha de apoio à Igreja cubana e ao esforço de evangelização dos padres e das religiosas.
Uma avaria na principal central termelétrica, localizada na povoação de Matanzas, deixou a Ilha de Cuba às escuras desde a passada sexta-feira, 18 de Outubro. A agravar esta situação, parte do território foi atingido no domingo também por uma tempestade, o Furação Óscar, com rajadas de 116km por hora. Ao longo dos últimos meses já se foram verificando diversos cortes de energia que condicionam sempre muito a vida quotidiana das populações, mas sem a dimensão deste apagão total agora registado.
Como se pode ler no portal de notícias do Vaticano, “os apagões são frequentes na ilha devido à infraestrutura antiquada e à falta de petróleo, principal fonte de energia”. “Cuba produz apenas um terço do combustível que consome diariamente e depende principalmente do petróleo importado da Venezuela, que reduziu drasticamente a oferta desde 2021”, acrescenta a informação.
Este apagão total agora verificado e que só ontem, segunda-feira, dia 21, começou a ser muito parcialmente ultrapassado, obrigou ao encerramento de escolas e das actividades não essenciais, e veio demonstrar a importância da campanha de apoio à Igreja deste país caribenho lançada em Setembro pelo secretariado espanhol da Fundação AIS. Trata-se de uma campanha de solidariedade que tem como objectivo principal ajudar a Igreja de Cuba a enfrentar a falta de meios materiais para a missão pastoral, a necessidade de formação dos leigos, o apoio aos sacerdotes e religiosas para a sua sobrevivência, e ainda o acompanhamento das vocações. Uma ajuda que se torna cada vez mais importante dada a situação de profunda crise económica que se vive neste país. Além dos cortes de energia, que agora foram notícia em todo o mundo, quase não há combustível disponível para os cidadãos e até os medicamentos são escassos.
“UMA IGREJA POBRE ”
Ninguém escapa a este contexto tão adverso, nem sequer a Igreja. Existem 11 dioceses na ilha. Cada uma delas enfrenta ainda, além de tudo isto, o desafio da escassez de sacerdotes e de vocações. Actualmente existem apenas 27 seminaristas e apenas 374 padres. Isto significa que Cuba tem a maior proporção de católicos por sacerdotes em todo o mundo: São 20.872 fiéis por padre. Em Espanha, por exemplo, essa proporção é de apenas 2.342.
“A nossa Igreja é sinodal, unida, viva, atenta, mas também é uma Igreja pobre.” Estas palavras são de D. Emílio Aranguren, presidente da conferência episcopal dos Bispos cubanos, ao agradecer, em Setembro, a campanha que o secretariado espanhol da Fundação AIS acabava de lançar em solidariedade para com a Igreja do seu país. “O grande desafio da Igreja cubana é o anúncio do Evangelho e nisto não estamos sozinhos, a AIS apoia-nos”, acrescentou o prelado.
A situação de enorme carência energética em que se encontra Cuba, o que agora, com o apagão eléctrico, ficou claramente demonstrada, indica também a necessidade de apoio urgente à Igreja pois sacerdotes e religiosas têm de assumir a sua missão neste ambiente de grande dificuldade material, até porque as comunidades católicas são também muito pobres.
A ajuda da Fundação AIS neste contexto torna-se, pois, particularmente relevante, nomeadamente ao nível dos estipêndios de Missa que os benfeitores da instituição mandam celebrar e que se relevam essenciais para a sobrevivência do clero.
A Igreja em Cuba é uma Igreja que permanece como um farol que é firme, que anuncia às pessoas que estão em desespero. Essa luz atrai e orienta, e somos chamados a responder.”
D. Emílio Aranguren
UMA CRISE JÁ ANTIGA
A situação de crise que atinge a sociedade cubana tem vindo a agravar-se ao longo dos anos. Em 2017, no contexto da peregrinação internacional que a Fundação AIS realizou ao Santuário de Fátima, em Portugal, o padre Rolando de Oca, da Diocese de Guantanamo, deu um testemunho do que é viver num país onde a falta de recursos materiais é uma constante no dia-a-dia e onde já era significativo o apoio dado pela fundação pontifícia.
“Encontramo-nos com muitas dificuldades económicas e, com frequência, a AIS tem ajudado, e é uma ajuda muito importante na construção do Reino: construção de templos, restauro de templos antigos, quer dizer reconstrução, porque não temos autorização para construir templos novos, por isso os que se deterioram reconstroem-se”, disse o sacerdote.
Rolando de Oca referiria ainda a importância da ajuda para projectos pastorais e encontros de jovens e de casais, para os quais são necessários recursos materiais nomeadamente relacionados com a mobilidade das pessoas, “pois, em Cuba, os transportes são um desafio”, assim como “os alimentos e os materiais pastorais para esses encontros”, revelou o jovem padre que descobriu Jesus através da Bíblia para as Crianças, um livro da Fundação AIS que classificou como o seu “primeiro grande tesouro de fé”.
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt