A guerra voltou a Gaza depois de algumas semanas de paz frágil. Mas ali ao lado, na Cisjordânia, a situação também não melhorou, como constatou uma delegação da Fundação AIS. Os Cristãos têm de lutar para encontrar razões para terem esperança no futuro.
De Ain ‘Arik até ao aeroporto Ben Gurion são necessários cerca de 20 minutos de carro. Ou seriam, se não fossem os bloqueios de estrada e o facto de os Palestinianos estarem proibidos de utilizar o Ben Gurion desde o início da guerra em Gaza.
As consequências destes obstáculos são bem reais para os 85 jovens cristãos palestinianos que tencionam ir a Roma para o Jubileu dos Jovens, em Julho e Agosto. Em vez de uma viagem de 20 minutos até ao aeroporto, enfrentam uma viagem nocturna de autocarro até à Jordânia e um grande aumento dos custos. Este é o novo normal nos territórios palestinianos da Terra Santa, disse o Padre Louis Salman, responsável pela capelania pastoral dos jovens em toda a Cisjordânia, Gaza e Jerusalém, a uma delegação da Fundação AIS que visitou a Terra Santa.
As restrições às deslocações fazem com que as pessoas se sintam isoladas e encurraladas, a falta de oportunidades de emprego enfraquece as suas perspectivas e a exposição constante à violência deixa-as traumatizadas.
SEGURANÇA REFORÇADA
Com o fim do cessar-fogo em Gaza, após uma série de bombardeamentos que se iniciaram por parte do Exército de Israel na terça-feira, dia 18 de Março, tudo parece agora mais complicado. Mas antes, ainda com o cessar-fogo em vigor, poder-se-ia dizer que o futuro seria um pouco mais risonho para os Cristãos em toda a Terra Santa? “Honestamente? Para nós, na Cisjordânia, o cessar-fogo tornou a situação ainda pior”, disse o Padre Louis. “Desde o cessar-fogo, fecharam ainda mais estradas, tornando as deslocações ainda mais difíceis. A estrada de Jifna para Zababdeh costumava demorar cerca de duas horas, agora demora quatro”, explica o sacerdote nascido na Jordânia.
Com o acordo de cessar-fogo, Israel comprometeu-se a libertar os prisioneiros palestinianos, muitos dos quais regressaram à Cisjordânia. “Por causa da troca de prisioneiros, a segurança foi reforçada”, explica o Padre Louis.
O Cardeal Pierbattista Pizzaballa, Patriarca Latino de Jerusalém, concordou durante um encontro com a Fundação AIS em Jerusalém. “Sem dúvida, a situação na Cisjordânia está pior. Quando o cessar-fogo começou em Gaza, começaram as operações na Cisjordânia, com centenas de postos de controlo e operações em Jenin (uma importante cidade palestiniana).”
900 POSTOS DE CONTROLO
Sami El-Yousef, director executivo do Patriarcado Latino de Jerusalém, apoiou estas posições com factos. “Assistimos a uma maior anexação de terras na Cisjordânia, bem como à expulsão de cerca de 16 mil pessoas dos campos de refugiados em Jenin, com as infra-estruturas físicas a serem arrasadas, pelo que não têm para onde regressar. A Cisjordânia está agora completamente fragmentada, com 185 portões e mais de 900 postos de controlo, mas, devido ao que se tem passado em Gaza, nada disto recebe muita atenção internacional.”
“Não sei como é que ainda estamos de pé. A maré está contra nós”, afirmou Sami El-Yousef. No entanto, tentou encontrar um lado positivo em toda a situação.
Como Igreja, sentimo-nos mais fortes do que há um ano e meio atrás, especificamente devido às nossas contribuições para a sociedade em geral. Conseguimos manter os nossos serviços, expandi-los em alguns pontos e servir as comunidades de Gaza e da Cisjordânia que foram mais afectadas pela guerra, e estamos a preparar-nos para sermos mais úteis depois da guerra.”
“AMIGOS EM TODO O MUNDO”
Por exemplo, na sequência das preocupações expressas pelo Patriarca Pizzaballa de que a população de Gaza estava a sofrer com a falta de produtos frescos, o Patriarcado Latino de Jerusalém conseguiu assegurar o fornecimento de fruta e legumes a Gaza durante vários meses, e não apenas à pequena comunidade de cristãos que ainda vivem nos complexos católicos e ortodoxos.
“Até hoje, as pessoas falam de como a Igreja as defendeu. De acordo com os desejos do Patriarca, estendemos a nossa generosidade aos nossos vizinhos. Estamos muito orgulhosos de ter feito o que fizemos durante este período”, explicou Sami El-Yousef.
Grande parte deste trabalho só foi possível graças à ajuda prestada pela Fundação AIS, um facto que o director executivo do Patriarcado Latino refere com extrema gratidão. “O último ano e meio solidificou o que nós, Cristãos, já sabíamos, que temos amigos em todo o mundo, que nos ajudam não só com dinheiro, mas também com apoio moral”, explicou.
MENSAGEM PARA SETÚBAL
Sinal desta ajuda, o patriarca latino de Jerusalém enviou, entretanto, uma mensagem para a Diocese de Setúbal, em agradecimento pela renúncia quaresmal que se destina este ano às crianças afectadas pela guerra na Terra Santa.
Nessa mensagem-vídeo, o cardeal Pierbattista Pizzaballa sublinha a situação na área de Belém, que “é muito complicada, não só por causa dos contínuos confrontos entre colonos, o exército israelita e a população palestiniana, mas também por causa da falta de oportunidades de emprego”. A falta de peregrinos está também a criar “muitos problemas para as famílias”, a que se tem de acrescentar, diz ainda o prelado, a questão da criminalidade.
“A situação permanece muito difícil” – diz ainda o patriarca latino. “Estamos totalmente perdidos do ponto de vista humano, mas em Deus nada é impossível.”
Lembrando que se está a viver o tempo de Quaresma, o cardeal Pizzaballa refere ainda, na mensagem para a Diocese de Setúbal, em Portugal, diz que este é um período de penitência e que é precisa “muita penitência aqui pelos nossos pecados, porque a situação aqui de ódio e desprezo é terrível”.
Filipe D’Avillez e Paulo Aido
Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt