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BURQUINA FASO: Jihadistas atacam seminário, destroem instalações e ameaçam de morte os jovens estudantes
Cerca de três dezenas de jihadistas armados atacaram o Seminário Menor de Saint Kisito de Bougui, na semana passada, durante a noite de 10 para 11 de Fevereiro, destruíram equipamento e instalações, causando elevados danos materiais e ameaçando de morte os jovens cristãos, exigindo que abandonassem de vez o local.
Foram duas as ameaças proferidas pelos terroristas, segundo apurou a Fundação AIS junto de fontes locais da Igreja. Além da exigência para que os jovens seminaristas não voltasse mais ao local, sob pena de serem assassinados num futuro ataque, os jihadistas disseram também que “não queriam ver cruzes” no local, justificando a destruição de um crucifixo que se encontrava no edifício.
O ataque, apurou ainda a Fundação AIS, causou natural pânico entre a população, levando à fuga de muitas pessoas para outros lugares considerados como mais seguros. O seminário está situado a cerca de dez quilómetros da cidade de Fada N’Gourma, sede da diocese com o mesmo nome.
O ataque durou cerca de uma hora, tendo os jihadistas queimado dois dormitórios, uma sala de aulas e um veículo. Um outro veículo, ao serviço do seminário, foi roubado.
O Bispo, D. Pierre Claver Yenpabou Malgo, visitou o local logo na sexta-feira, dia 11 de Fevereiro, tendo-se encontrado não só com os jovens estudantes como com os seus familiares. Os 146 seminaristas estão agora em suas casas, junto das suas famílias, aguardando-se a evolução dos acontecimentos. Além dos seminaristas, na altura do ataque estavam também no edifício sete formadores.
Em Outubro do ano passado, a Fundação AIS deu eco às palavras do Cardeal Phillipe Ouèadraogo que classificava como “dramática” a situação na região, acusando os terroristas do Boko Haram de serem responsáveis pela violência contra as populações.
Falando à Rádio Vaticano, o prelado denunciava uma situação extremamente grave ao nível de segurança e referia haver cerca de 1 milhão e 400 mil refugiados. “A situação é dramática. Da Nigéria, o grupo terrorista Boko Haram, espalhou-se pela África Ocidental, especialmente Mali, Níger e Burquina Faso. Somos constantemente confrontados com o problema da segurança e da paz”, afirmava o Cardeal.
Nestas declarações, após uma audiência a 11 de Outubro com o Papa Francisco na condição de presidente da Secam, a entidade que reúne as conferências episcopais de África e Madagáscar, o Cardeal Ouèadraogo recordou um episódio ocorrido recentemente, numa aldeia, no norte do Burquina Faso, em que morreram 131 pessoas num ataque, questionando: “Isto é dramático, por que matam eles os seus irmãos? Por que motivo? Quem está por trás desses homens? Quem os está a ajudar?”
Face a tamanha violência, o Arcebispo de Ouagadagou pedia respostas concretas nomeadamente sobre o fornecimento de armas aos terroristas. “Nós não fabricamos Kalashnikovs no Burquina Faso. Todo este material vem de fora. Quem dá esse dinheiro, quem apoia esse movimento? Devemos reflectir e demonstrar mais solidariedade para poder enfrentar as dificuldades e os desafios deste mundo. Nós tentamos rezar, porque a nossa Kalashnikov é a oração, é o que eu digo sempre!”
O ataque da semana passada ao seminário de Saint Kisito de Bougui foi precedido já a outros actos de violência contra instalações da Igreja. Em Abril do ano passado, o Irmão Alain Tougma, da Fraternidade Missionária Rural, enviava uma mensagem para a Fundação AIS a explicar que a ameaça terrorista tinha levado a Igreja a transferir provisoriamente para o Togo um dos noviciados que estava a funcionar na localidade de Pama. “Devido às circunstâncias, não nos foi possível mantê-lo por lá. Fomos obrigados a deslocá-lo temporariamente para o Togo, porque a área redor da propriedade não tem vedação.”
Em Junho de 2020, Rafael D’Aqui, responsável de projectos da Fundação AIS, afirmava já que os grupos jihadistas estavam a transferir do Médio Oriente para a região do Sahel o plano para a edificação de um Califado Islâmico. “E o seu objetivo – disse – é eliminar todos os vestígios do Ocidente na região, isto é, a educação, a liberdade religiosa e assim por diante…”
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