É uma história que merece ser contada. O Padre Antonio Zavaterelli é o responsável pela paróquia andina de Peñas. É uma paróquia muito grande situada na região de La Paz, a capital boliviana, e tem duas características principais: a pobreza e a dificuldade de acesso. A tal ponto que este sacerdote italiano pediu ajuda à Fundação AIS pois precisava de um carro que não ficasse atolado no meio do caminho…
Há um antes e um depois de o Padre Antonio Zavaterelli ter pedido ajuda à Fundação AIS. Antes, ele era um pároco italiano que mal conseguia chegar a todas as aldeias da sua paróquia, situadas numa região montanhosa que se ergue a cerca de 5 mil e duzentos metros acima do nível do mar. O problema não é a altitude mas as estradas, ou a falta delas. A paróquia andina de Peñas estende-se por 27 aldeias marcadas pelo isolamento e pela pobreza. Para lá chegar é preciso alguma coragem e um carro robusto. Precisamente o que o Padre Zavaterelli não tinha. Por isso, pediu ajuda. Precisava de um veículo todo-o-terreno que não o deixasse envergonhado nos buracos enlameados, no meio das covas profundas que surgem nos caminhos, como autênticas armadilhas, ou para ultrapassar às vezes pedras e outros obstáculos que obrigam a manobras complicadas. E isto para não falar da neve que no Inverno torna tudo ainda mais difícil. Ainda recentemente, o Padre Tony Neves, assistente-geral dos Espiritanos, esteve na Bolívia e contou, numa crónica para a agência Ecclesia, como é dura a vida neste país da América do Sul, e como é difícil chegar às populações que vivem fora dos grandes centros urbanos.
Um português na Bolívia
O missionário português explica que, na Bolívia, “o clima é muito agressivo, marcado por um calor insuportável e por chuvas torrenciais”. Nada disso o demoveu, no entanto, de visitar diversas comunidades. Uma delas, por exemplo, foi a de Vila Diego, situada a quase 30 quilómetros de Buenavista. “Choveu e o caminho tornou-se um mar de lama. Antes, para lá chegar, era preciso passar a vau sete vezes o mesmo rio! Agora há algumas pontes, mas ainda é necessário passar o rio uma vez. Não atolamos, mas tivemos de ajudar a rebocar um carro atolado…” E o relato prossegue, recordando viagens difíceis, quase impossíveis, ao encontro de uma comunidade bastante pobre meio perdida na floresta. “Celebrámos na comunidade de Virgen del Carmo. Foi de noite. Chegámos à aldeia depois de percorrer uma picada agreste. É uma povoação a nascer, com algumas pequenas casas semeadas no meio da floresta. A pobreza era evidente, pois o povo nem sequer conseguiu construir uma Capela. Por isso, a missa é celebrada, mensalmente, no pátio de uma das casas e os vizinhos trazem as cadeiras e sentam-se ali. O calor era infernal, os mosquitos mordiam, havia cães, patos e galinhas e passear-nos junto aos pés, as crianças choravam ou conversavam, mas a Eucaristia foi vivida com fé e alegria…”
O pesadelo das favelas
O que o Padre Tony Neves experimentou nesta viagem à Bolívia, agora no início de 2023, é o habitual de todos os dias para o Padre Antonio Zavaterelli. Chegar às aldeias da sua paróquia é um desafio quase tão grande como o de tirar o povo da pobreza ancestral em que vive. De facto, os habitantes das aldeias andinas vivem numa grande miséria que se agrava por causa do clima inóspito. Por ali tudo parece ser rude. A erosão dos solos, por exemplo, torna a sobrevivência no dia-a-dia mais difícil e leva a que os mais jovens sonhem com uma vida menos dura na grande metrópole. Como resultado, muitos jovens deixaram a escola cedo de mais para procurarem a sua fortuna nas cidades, mas na maior parte das vezes não encontram sucesso mas sim o pesadelo de favelas onde o desemprego, o álcool, as drogas e a criminalidade estão na ordem do dia. É também por causa disto que se tornou tão necessário um carro robusto para o Padre Antonio Zavaterelli. Ele não só precisa de chegar a todos os seus paroquianos, como precisa de os ajudar a enfrentar os desafios que se colocam a quem vive no meio das montanhas. Há um antes e um depois nesta história. O carro chegou, graças à generosidade dos benfeitores da Fundação AIS espalhados por todo o mundo. E o Padre Zavaterelli agradece a ajuda preciosa. “Neste tempo de grande crise para a humanidade, permanecemos unidos em oração e trabalhamos por um mundo de paz, guiados pelo Espírito de Nosso Senhor Jesus Cristo. Muito obrigado!”