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UCRÂNIA: “Todos estamos na mesma barricada. Esta é a luta entre o bem e o mal”, diz padre ucraniano a viver em Portugal
É com apreensão e medo que o Padre Natanael Harasym acompanha desde Lisboa o evoluir da situação da guerra na Ucrânia. Em entrevista à Fundação AIS, fala do orgulho em pertencer a uma Igreja que está na linha da frente no apoio às populações e diz que os cristãos regressaram aos tempos das catacumbas… “Estou cada vez mais orgulhoso do meu povo, da minha igreja ucraniana greco-católica, de todos os meus amigos, colegas, irmãos em Cristo Jesus… Neste momento, celebram e transmitem [as missas, se houver internet], desde as catacumbas. Rezam como os primeiros cristãos, rezam o Terço, as crianças rezam o Terço, são imagens impressionantes.”
“HÁ JÁ PADRES MORTOS…”
Ordenado na Igreja Ucraniana Greco-Católica, este sacerdote está ao serviço do Patriarcado de Lisboa desde há cerca de vinte anos [actualmente encontra-se na paróquia de Nossa Senhoras do Amparo, em Benfica], mas transformou-se, nos últimos dias, num dos símbolos da denúncia da agressão que a Ucrânia está a sofrer, vítima do ataque brutal do exército da Rússia.
“Toda a igreja ucraniana, toda a igreja está de joelhos neste momento, não diante do opressor, não diante do invasor, que de maneira tão bárbara está a destruir tudo, tudo… há padres já mortos, os nossos bispos estão todos na lista da morte, isso não é fantasia, não é imaginação, é a realidade que se está a passar agora… Não é um filme de acção, um ‘triller’…”
“A MINHA FRENTE DE BATALHA É EM PORTUGAL”
Natanael fala de forma pausada. Mas por vezes agita-se e as palavras ganham outra veemência. É com indisfarçado orgulho que refere a forma como a Igreja ucraniana tem vindo a assumir um papel tão destacado a defesa das populações nesta guerra em plena Europa no século XXI. “Os padres não abandonaram o seu povo, e eu até me pergunto porque é que estou aqui e não estou lá… Mas a minha frente de batalha agora é aqui, é cá em Portugal, na Terra de Santa Maria. Mas eles estão a rezar a liturgia nas catacumbas, nas caves das igrejas e não só, onde [as pessoas] estão abrigadas por causa dos bombardeamentos…”
Não é fácil seguir os acontecimentos à distância. O Padre Natanael está permanentemente a olhar para o telemóvel à espreita de notícias, de novidades, numa ansiedade que já não consegue disfarçar. Todos os dias, o liga para a Ucrânia e tenta falar com a sua mãe, de 85 anos, apenas uns meses mais velha do que o Santo Padre. “Já me doeu muito o coração por não a ter trazido para cá antes. Eu não imaginava que isto… ninguém imaginava que Herodes fosse matar inocentes. Como é que eu comunico com ela? Graças aos operadores [de telecomunicações] de Portugal que disponibilizaram chamadas e mensagens gratuitas. Mas a minha mãe não está sozinha. Ela é uma mulher de fé. A vida toda ela tem sido uma mulher de fé…”
“O HITLER DE HOJE ESTÁ A VINGAR-SE…”
A mãe do Padre Natanael mora na zona de Lviv e como um pouco por todos o país já houve por lá momentos de susto. “As primeiras bombas, nas primeiras horas [da invasão] caíram lá também, a 10, 15 quilómetros de distância da casa da minha mãe. E a 10, 15 quilómetros [também] da fronteira com a Polónia, junto à União Europeia. Se a Ucrânia cair, quem é o próximo? E não é só a Polónia e não é só a Alemanha, não é só Berlim… O Hitler de hoje está a vingar-se…” Com o passar das horas, com o passar dos dias, aumenta a destruição, o número de refugiados, o desalento de quem vê com impotência a sua pátria ficar quase em escombros. “Hoje a Ucrânia está a ser crucificada diante dos olhos da Europa, aos olhos do mundo inteiro… Há quem só observe. Como as multidões que observavam a crucifixão de Jesus…”
“ESTAMOS TODOS NA MESMA BARRICADA”
À medida que cresce a destruição do país tem crescido também uma imparável onda de solidariedade. Uma onda de solidariedade que chegou também em força a Portugal e que deixa também o padre Natanael cheio de orgulho. “Nestes dias, disseram-se aqui nas ruas de Benfica: ‘senhor padre, eu sou ucraniano…’ E aqui, na Igreja de Nossa Senhora do Amparo, dizem também: ‘senhor padre, eu tenho um quarto, eu tenho um quarto com casa de banho privativa, senhor padre, eu tenho um escritório que já não me serve para nada, vou arrumar aquilo, vou prepará-lo… e se for necessário, o senhor padre não hesite em pedir. Eu quero ajudar…’ O povo português tem sido assim porquê? Porque tem coração. A mim só me resta dizer: muito, muito obrigado!” E no agradecimento, o Padre Natanael não esquece também a Fundação AIS que desde a primeira hora tem estado também na linha da frente no apoio à Igreja ucraniana. “Todos estamos na mesma barricada”, diz o sacerdote. “O mundo civilizado está a ajudar-nos porque aquilo é mais do que uma guerra, é uma luta entre o bem e o mal. Kiev tornou-se na capital do mundo inteiro civilizado, do mundo inteiro livre nesta guerra incompreensível, nessa guerra sem lógica nenhuma, nesta batalha entre o bem e o mal, entre o Herodes do Kremlin e o mundo civilizado.”
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