A Igreja comemorou este ano o 1700.º aniversário do Concílio de Niceia, uma data importante para todo o mundo cristão. A partir de amanhã, dia 27, e até Domingo, o Papa Leão XIV visita a Turquia, onde se celebrou o concílio, cumprindo assim o compromisso assumido pelo Papa Francisco antes da sua morte. A Fundação AIS conversou com D. Massimiliano Palinuro, vigário apostólico de Istambul, sobre a importância do aniversário e da visita pontifícia, as relações ecuménicas e o que tudo isto significa para a pequena população católica do país.
A Turquia é um país enorme, estende-se por dois continentes, a Europa e a Ásia, tem mais de 85 milhões de habitantes, mas apenas cerca de 150 mil cristãos. No entanto, por lá andaram São Paulo e São João a pregar o Evangelho e, diz a tradição, viveu também a Virgem Maria. E a primeira visita internacional do Papa Leão XIV será à Turquia, cumprindo assim o sonho do Papa Francisco de visitar este país a propósito do 1700º aniversário do Concílio de Niceia.
D. Massimiliano Palinuro, vigário apostólico de Istambul, explicou à Fundação AIS que esta visita era uma “firme intenção” de Francisco, que esperava poder realizá-la logo que o seu estado de saúde o permitisse. “A viagem do Papa Francisco esteva prestes a tornar-se realidade. De facto, mesmo durante a sua doença, foi confirmada, pois era firme intenção do Papa vir à Turquia após a sua recuperação”, explicou o vigário apostólico. “Além disso, a Turquia tinha-se comprometido a recebê-lo de forma extraordinária e generosa.”
Após o falecimento do Papa Francisco, todos – o governo turco, a Igreja católica local e o patriarca ecuménico Bartolomeu – renovaram o convite ao Papa Leão para visitar a Turquia e, em particular, Nicéia, por ocasião do 1700.º aniversário do concílio. Agora foi decidido que será a primeira visita internacional do Papa Leão, que aguardamos com coração filial e imensa alegria.”
D. Massimiliano Palinuro
“Confiamos que a visita do Papa Leão culmine numa celebração ecuménica na própria Nicéia, para dar testemunho nesse lugar simbólico da unidade de fé entre todos os que acreditam em Cristo. Ao longo dos séculos e até aos nossos dias, as divisões teológicas e confessionais têm sido utilizadas com demasiada frequência como pretexto para justificar guerras e perseguições. Agora, o mundo precisa de ver nos cristãos um sinal de unidade para a família humana”, referiu D. Massimiliano Palinuro.
Católicos vão receber o Papa “de braços abertos”
A pequena comunidade católica da Turquia vai receber o Santo Padre “de braços e coração abertos e com profunda alegria”, diz o prelado. Um acolhimento que será também, acrescenta, “sinal de esperança e unidade”.
De facto, é incontornável a importância do Concílio de Niceia não só para a Igreja em si como para os cristãos que vivem na Turquia. D. Palinuro explica. “O Concílio de Niceia é o concílio por excelência, uma espécie de paradigma através do qual a Igreja pode compreender como resolver os problemas doutrinários e os diversos tipos de divisões no seu seio. No nosso contexto, este aniversário assume uma importância extraordinária, sobretudo porque é um património partilhado por todas as confissões cristãs. Nenhum cristão se opõe aos concílios de Nicéia e Constantinopla, porque foi neles que a fé cristã recebeu a sua formulação mais clara.”
E continua: “Os nossos cristãos percebem este aniversário como um sinal de esperança para um regresso às fontes da fé e à busca do essencial, ou seja, do que une em vez do que divide. Na prática, o aniversário do Concílio de Nicéia ‘obriga-nos’ a redescobrir o tesouro da fé que todos partilhamos. A fé em Jesus, Filho de Deus e Salvador, é o que nos torna cristãos”, diz o vigário apostólico de Istambul, explicando que a comunidade católica turca tem “um imenso potencial” opara ajudar a construir pontes de fraternidade entre o Oriente e o Ocidente.
“Procurar o que nos une”, diz vigário apostólico
Em relação à visita em si, o responsável assegura que as autoridades locais estão a fazer de tudo para garantir “uma recepção digna ao Papa e acolher a celebração ecuménica”, que se vai realizar. Para isso, explica, o governo turco “está a concluir projectos de infraestrutura para tornar acessíveis os vestígios arqueológicos do palácio de Constantino, parcialmente submersos no lago İznik”, pois a celebração ecuménica “terá lugar precisamente onde, segundo a tradição, se celebrou o concílio, no palácio imperial da antiga Niceia, a residência de Verão do Imperador Constantino”.
Questionado sobre as suas expectativas e esperanças e também dos cristãos da Turquia em relação a esta viagem de Leão XIV, Massimiliano Palinuro fala em “unidade” entre os cristãos. “Muitas vezes somos levados a enfatizar as diferenças, a afirmar a nossa própria identidade, mas isso cria um obstáculo à construção de relações fraternas. Em vez disso, o que é frutífero é procurar o que nos une. Isso aplica-se ao diálogo inter-religioso e ecuménico, mas também no seio das nossas comunidades eclesiais, onde muitas diferenças são chamadas à comunhão. Hoje vivemos num mundo polarizado e com essa polarização corre-se realmente o risco de destruir a fraternidade humana e a unidade da Igreja. É importante destacar a riqueza da diversidade, tendo em mente que unidade não significa homogeneização ou uniformidade. Por isso, mesmo dentro da própria comunidade cristã católica, esta viagem é necessária”, afirma.
O vigário apostólico de Istambul lembrou ainda palavras do Santo Padre quando se referiu ao desejo de se ter uma “Igreja missionária, uma Igreja que constrói pontes, dialogando, sempre aberta”, uma Igreja que quer ser sinodal, “que caminha, uma Igreja que busca sempre a paz, que busca sempre a caridade, que busca sempre estar perto, especialmente daqueles que sofrem”. E conclui, pedindo que “Nossa Senhora, Mãe de Deus, conceda a todos nós a força e a sabedoria para seguir este caminho”.
A Fundação AIS tem apoiado o vicariato apostólico de Istambul em vários projetos nos últimos anos. Esses projetos incluíram a entrega de estipêndios de missa, formação linguística, renovação de igrejas e outras instalações, transporte e assistência a capelanias universitárias.
Conn McNally e Paulo Aido
Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt







