Citando palavras do Papa Francisco, o arcebispo nigeriano D. Fortunatus Nwachukwu, observador permanente da Santa Sé na ONU, lembrou, em sessão em que se assinalou o 75º aniversário da adopção da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que em cada sete cristãos no mundo, um sofre perseguição por causa da sua fé.
“Um em cada sete cristãos sofrem perseguições hoje.” Estas palavras, recuperadas do discurso do Papa Francisco, em Janeiro, perante os embaixadores creditados no Vaticano, marcaram a intervenção, terça-feira, dia 21 de Março, de D. Fortunatus Nwachukwu, observador permanente da Santa Sé junto das Nações Unidas, na sessão do Conselho dos Direitos Humanos da ONU, em Genebra, em que se assinalou o 75º aniversário da adopção da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Citado pelo Vatican News, o prelado nigeriano – que foi também recentemente nomeado Secretário do Dicastério para a Evangelização – pôs em destaque “a situação de muitos pessoas e comunidades que sofrem perseguições por causa das suas crenças religiosas”. O arcebispo que citou por mais de uma vez o Papa Francisco, disse também que “a paz exige o reconhecimento universal da liberdade religiosa”. E acrescentou: “é preocupante que as pessoas sejam perseguidas apenas porque professam publicamente a sua fé, e em muitos países a liberdade religiosa é limitada. Cerca de um terço da população mundial população vive nestas condições”, denunciou.
Discriminação insidiosa
No seu discurso, o observador permanente da Santa Sé levou a temática da perseguição religiosa a um dos mais significativos fóruns internacionais, deixando um alerta para o que considerou ser “a intensificação das medidas repressivas e dos abusos”, nos últimos anos, “contra as minorias religiosas em muitos países do mundo”. “Muitas vezes é negado aos crentes o direito de expressar e praticar a própria fé, mesmo quando isso não coloque em risco a segurança pública ou viole os direitos de outros grupos ou indivíduos”, disse ainda o prelado. Na sua intervenção, referiu também que a “profanação e destruição de locais de culto e locais religiosos, bem como ataques violentos contra líderes religiosos” tem aumentado recentemente e estão a tornar-se “assustadoramente mais comuns”. Não menos preocupante, referiu D. Nwachukwu, é “a condição dos crentes em alguns países onde, por trás da fachada de tolerância e inclusão, a discriminação é perpetrada de forma mais subtil e insidiosa”. “Num número crescente de países – disse ainda –, assistimos à imposição de várias formas de censura que reduzem a possibilidade de expressar as próprias convicções tanto pública quanto politicamente, sob o pretexto de evitar ofender a sensibilidade alheia.”
Liberdade de culto
A questão da perseguição religiosa aos cristãos nos países onde têm uma representação significativa, mereceu também um alerta. “Não devemos esquecer que a violência e os actos de discriminação contra os cristãos estão a aumentar também em países onde estes não são uma minoria”, acrescentando que “a liberdade religiosa, que não pode ser simplesmente reduzida à liberdade de culto, é um dos requisitos mínimos para uma vida digna”. E por mais uma ocasião, D. Nwachukwu, citou novamente o Papa Francisco para lembrar que “os governos têm o dever de proteger” o direito a esta liberdade, “e garantir que cada pessoa, de maneira compatível com o bem comum, goze da possibilidade de agir segundo sua consciência, mesmo na esfera pública e no exercício da própria profissão de fé”.
Direitos humanos não são luxo
A sessão, que marca o 75º aniversário da adopção da Declaração Universal dos Direitos Humanos, vai prolongar-se até 4 de Abril. O secretário-geral da ONU, António Guterres, discursou na sessão de abertura, reafirmando que os direitos humanos não são um luxo, mas sim “a solução para muitos dos outros problemas do mundo”. O ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Gomes Cravinho, também já participou nesta sessão comemorativa, tendo referido, a 28 de Fevereiro, que o mundo assiste a um “grande retrocesso” nos direitos humanos, nomeadamente em relação às mulheres, e que se assiste também “à ameaça contínua do terrorismo, à persistente chaga de discriminação, o ódio, do racismo e da xenofobia”. Tudo isto, disse ainda o chefe da diplomacia portuguesa, “são flagelos que testam a solidez e coesão das nossas comunidades”.