A Fundação AIS recebeu nas últimas horas relatos alarmantes de ataques que atingiram comunidades cristãs em diferentes regiões da Síria, situação que reflecte a insegurança que se vive no país. Dezenas de casas de cristãos foram queimadas nesta terça-feira, dia 15, na região de Suwayda, tal como uma igreja foi atacada e registou-se ainda um atentado frustrado contra outro templo cristão. Tudo isto está a deixar um sentimento crescente de medo entre os fiéis. A Irmã Maria Lúcia Ferreira, a única religiosa portuguesa na Síria, enviou também uma mensagem para a AIS, em Lisboa, a apelar à ajuda do Ocidente e às orações de todos.
São relatos alarmantes que chegam da Síria e atestam o clima de enorme insegurança que se vive neste país, ainda com a memória recente do atentado na Igreja de Santo Elias, em Damasco, no domingo, 22 de Junho, que provocou mais de 80 vítimas entre mortos e feridos.
A Fundação AIS Internacional recebeu informações sobre um grave incidente ocorrido na passada terça-feira, dia 15 de Julho, na aldeia de Al-Soura Al Kabira, na província de Suwayda, no sul da Síria. De acordo com várias fontes locais ligadas à fundação pontifícia, a igreja greco-melquita de São Miguel, em Al-Soura, foi atacada e incendiada por assaltantes desconhecidos. A extensão total dos danos não pôde ser confirmada, uma vez que o acesso à zona é para já impossível devido à tensão que persiste em toda a região, mas imagens publicadas nas redes sociais parecem confirmar o ataque.
Na mesma zona, 38 casas de cristãos foram incendiadas e destruídas, deixando muitas famílias sem tecto. Em consequência disso, cerca de 70 pessoas procuraram refúgio num grande salão de igreja em Shahba, onde estão actualmente em condições precárias. “Esta comunidade perdeu tudo”, disse uma fonte local à Fundação AIS Internacional. “Tinham muito pouco, já eram dos mais pobres da região, e agora não têm mais nada”, acrescentou.
ATENTADO FRUSTRADOA IGREJA
A violência também chegou à aldeia vizinha de Al-Mazraa, embora ainda não se conheçam pormenores. Os agressores não foram identificados, mas acredita-se que o ataque esteja ligado a tensões sectárias e a actividades extremistas na região, exacerbadas por anos de conflito e instabilidade no país.
Enquanto isto, as autoridades e os populares impediram um atentado à Igreja maronita de Mar Elias, situada noutra zona, na vila de Al-Kharibat, na província de Tartous, no oeste da Síria. À meia-noite do último domingo, dia 13 de Julho, um velho automóvel dos tempos soviéticos, de marca Lada, carregado com grandes quantidades de explosivos, armas e panfletos de propaganda, foi descoberto estacionado perto da igreja. Graças a uma acção coordenada entre as forças de segurança e os habitantes locais, evitou-se uma tragédia e os terroristas foram capturados numa emboscada.
Estes acontecimentos ocorrem menos de um mês depois do atentado suicida contra a Igreja Ortodoxa de Santo Elias, no bairro cristão de Dweil’a, em Damasco, a 22 de Junho, durante a liturgia dominical, e que causou mais de 80 vítimas, entre mortos e feridos.
MENSAGEM DA IRMÃ MYRI
Sinal também do clima de medo e de instabilidade que se está a registar na Síria, a Irmã Maria Lúcia Ferreira, a única religiosa portuguesa a viver neste país do Médio Oriente, enviou também, nas últimas horas, uma mensagem para a Fundação AIS, em Lisboa, a apelar à ajuda do Ocidente e às orações de todos, confirmando tanto o atentado frustrado à igreja em Tartous, como os ataques em Suwayda, não só à igreja – “queimaram a igreja às 4 horas da manhã, pelo que estava vazia, graças a Deus!!” –como às casas dos cristãos. “Se as pessoas estão vivas é porque fugiram todas para se refugiarem nas igrejas”, diz a religiosa, acrescentando: “a situação é muito delicada e muito urgente”.
Maria Lúcia Ferreira fez também eco de incidentes que estão a envolver a minoria druza também na região de Suwayda, a sul de Damasco e referiu o ataque por Israel, ontem, quarta-feira, 16, a um edifício governamental em Damasco. “A situação é realmente delicada e os cristãos têm medo e só têm uma ideia na cabeça, principalmente os mais jovens, que é partir daqui para fora”, afirma a irmã, que pertence às Monjas de Unidade de Antioquia, e que vive no Mosteiro de São Tiago Mutilado, na vila de Qara.
“Rezem por nós, intervenham, falem junto das autoridades, façam qualquer coisa, ao menos para levantar a voz contra o que se está a passar, e rezem por nós”, apela a religiosa, que é mais conhecida simplesmente como Irmã Myri.
APELA DO AIS PELA PAZ NA SÍRIA
Perante a gravidade destes acontecimentos, a Fundação AIS apela aos cristãos de todo o mundo para que rezem pelas vítimas, pela paz na Síria e pela protecção das comunidades mais vulneráveis. A fundação pontifícia reafirma o seu compromisso de continuar a prestar ajuda espiritual, psicológica e material, e apela à solidariedade da comunidade internacional neste momento crítico.
Maria Lozano e Paulo Aido
Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt