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SÍRIA: “Há quem viva a pão e água”, diz religiosa portuguesa descrevendo o agravamento da crise económica
Domingo · 1 Agosto, 2021
É um relato directo sem subterfúgios de linguagem. A irmã Maria Lúcia Ferreira descreve como a crise económica está a deixar profundas marcas no quotidiano das populações.
Em mensagem enviada para a Fundação AIS em Lisboa, a religiosa portuguesa, mais conhecida como irmã Myri, explica que a situação no país “está a piorar” e que “a vida está cada vez mais difícil, com os produtos cada vez mais caros, a comida, sobretudo as roupas”. E dá exemplos: “Uma peça de roupa [custa] quase metade de um salário, tal como um quilo de carne… Está a ser muito difícil. Aqueles que tinham algumas reservas de dinheiro para o futuro, estão a gastá-lo pouco a pouco. Aqueles que não têm… vivem a pão e água.”
A Síria é um país que está em guerra desde há dez anos e sofre também as consequências das sanções económicas impostas ao regime de Bashar al-Assad pelos Estados Unidos e pela União Europeia.
Bruxelas, por exemplo, prorrogou no passado dia 27 de Maio as sanções por mais um ano, até 1 de Junho de 2022, medidas que implicam a proibição de importação de petróleo, mas também restrições em determinados investimentos, congelamento de activos do Banco Central da Síria e, ainda, limitações à exportação de determinados bens. O resultado é o estrangulamento quase total da economia.
A religiosa portuguesa, que pertence à Congregação das Monjas de Unidade de Antioquia e vive no Mosteiro de São Tiago Mutilado, na vila de Qara, dá também o exemplo das falhas constantes no fornecimento de electricidade e na dificuldade de acesso às bilhas de gás ou aos combustíveis para os automóveis.
“Nós aqui, no mosteiro, temos um bocadinho de sorte porque estamos na linha do poço que bomba a água para a vila e então temos mais eletricidade do que em Qara. Agora no Verão diziam que ia haver apenas duas horas de electricidade em cada dia, o que não dá para o congelador conservar a comida, nem para o frigorífico. Também ter gás para um mês inteiro é extremamente difícil, não chega. Uma botija de gás só chega a cada família a cada mês e meio, mais ou menos. E então, não dá. Também a gasolina. Tem havido muita falta de gasolina. As famílias têm que calcular onde é que podem ir com a gasolina que recebem… a roupa fica na máquina de lavar dois ou três dias, porque não dá tempo para fazer um ciclo completo….”
A crise económica está a reflectir-se também nos projectos humanitários e de desenvolvimento que as religiosas estão a promover no Mosteiro de São Tiago Mutilado. A irmã Myri refere o projecto das lãs, que procura dar trabalho e ser uma fonte de rendimento extra para as mulheres da vila de Qara. “Eu comprava a lã a 3 mil liras sírias há um ano e meio. Agora, passou a 25 mil o quilo… É enorme a diferença…”
Esta situação crítica tem reforçado a importância do apoio da Fundação AIS à população cristã através de diversos projectos da Igreja. E entre todas essas iniciativas solidárias, há uma que se destaca: a campanha “uma gota de leite” para as crianças da Síria. Desenvolvida desde 2015 em Homs e, desde 2017, em Alepo, este projecto “tem sido um dos mais acarinhados” pelos benfeitores portugueses da Fundação AIS, como reconhece a directora da AIS em Portugal. “É raro o dia em que não recebemos uma carta ou um telefonema de alguém a querer ajudar as crianças de Alepo ou de Homs, a querer dar leite para os meninos da Síria”, diz ainda Catarina Martins de Bettencourt.
Maria Lozano | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt