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REP. CENTRO-AFRICANA: Padre Gazzera destaca “apoio da AIS” à missão carmelita que comemora 50 anos no país
“Esta manhã, telefonaram-me da nossa Missão de Bozoum, onde apareceram alguns rebeldes…” O carmelita Aurélio Gazzera está em Baoro, na República Centro-Africana, e numa mensagem enviada para a Fundação AIS, em Lisboa, faz um breve retrato deste país que há cinquenta anos acolheu pela primeira vez quatro padres da sua comunidade religiosa.
Os rebeldes de que fala o Padre Gazzera poderão ser Seleka ou Anti-Balaka, dois dos grupos armados que mais destruição e morte têm trazido para este país. Desde 2013, quando o então presidente Bozizé foi afastado do poder pelos Seleka, grupos maioritariamente muçulmanos, que a República centro-Africana não conheceu mais dias de paz. Os Seleka não afastaram apenas o presidente do poder. Provocaram também uma enorme onda de violência que continua presente quase uma década depois. É que face à brutalidade dos Seleka, foram surgindo, um pouco por todo o lado, grupos de auto-defesa, conhecidos como os Anti-Balaka. O caos istaou-se.
Para os carmelitas, estes dez anos de verdadeira guerra civil são um desafio acrescido para a missão que teve início em 16 de Dezembro de 1971, quando os primeiros quatro missionários – padres Agostino Mazzocchi, Niccolò Ellena, Marco Conte e Carlo Coencio – chegaram a Bozoum.
Para o Padre Aurélio Gazzera, a construção da paz, o desarmar dos corações, o apoio às populações mais necessitadas, são algumas das urgências que agora se colocam aos que prosseguem o trabalho iniciado em 1971.
“A República Centro-Africana é um país que se situa no coração de África, pouco falado, mas mais conhecido pelos seus problemas e dificuldades”, diz o missionário italiano que nasceu em 1962.
Na mensagem gravada com o telemóvel no interior da igreja de Baoro, o Padre Gazzera explica o que significam estes 50 anos de missão carmelita, os desafios, as dificuldades e as pequenas vitórias do dia-a-dia. “Estamos presentes em cinco Missões, cinco casas, em duas paróquias, esta, Baoro, e Bozoum, e três casas de formação. Por ocasião do 50º aniversário, tivémos a alegria da Ordenação de dois jovens sacerdotes centro-africanos.”
Fazendo a câmara do telefone rodar à sua frente, para permitir ver o interior da igreja de Baoro atrás de si, o Padre Aurélio Gazzera fala do trabalho dos carmelitas nestas terras africanas destacando o apoio que a Ajuda à Igreja que Sofre tem dado a esta comunidade religiosa.
“Aqui, há muito trabalho a fazer e é sempre necessária a ajuda de todos. A presença e o apoio da AIS e de tantos outros permite-nos trabalhar, mas sobretudo dar passos em frente, quer na formação dos jovens, quer no empenho que temos com as escolas. Só aqui temos nove escolas com mais de duas mil crianças, seis creches e o mesmo acontece nas outras Missões. O trabalho é mesmo muito e é mesmo necessário o empenho de todos: na oração, material e económico e ao nível da informação – no compreender o que acontece nesta parte do mundo, que parece sempre longínqua, mas o mundo é pequeno!”
Apesar dos problemas e das dificuldades, tem havido também conquistas, pequenas vitorias de quem insiste em trilhar o caminho da paz. “A Igreja está a trabalhar muito, mas existem ainda muitas dificuldades. Nestes dias, juntamente com outras confissões religiosas (protestantes e muçulmanos), teremos um momento de formação com uma equipa do teatro sobre o âmbito social e sobre a paz. É algo muito trabalhoso.”
Na mensagem enviada para Lisboa, o Padre Aurélio Gazzera, que já esteve em Portugal em 2015 a convite da Fundação AIS para a apresentação do Relatório sobre a Perseguição aos Cristãos, lembra que são vários os desafios que se colocam à Igreja na República Centro-Africana.
São desafios, dificuldades, mas também momentos de graça e de alegria. E lembra as ordenações de dois sacerdotes e as celebrações de Natal, que foram um tempo único em que a comunidade esteve mais unida, mais próxima e solidária. “Pudémos celebrar, com serenidade, o Natal, sem demasiados problemas de segurança; pudémos celebrar o 50º aniversário da nossa presença aqui na República Centro-Africana, com estas duas ordenações [Frei Martinal e Frei Jeannot-Maria] e temos outros jovens em formação…”
No entanto, não é possível esquecer os problemas, até porque ainda recentemente três soldados da paz, do contingente tanzaniano, ficaram feridos com a explosão de uma mina que atingiu o camião das Nações Unidas em que viajavam. Foi no dia 30 de Dezembro, quase na véspera do Dia Mundial da Paz… Um incidente que aconteceu precisamente na região em que os carmelitas estão presentes.
Por isso, o Padre Aurelio Gazzera pede “a todos”, fé e oração, para que a missão carmelita possa prosseguir na República Centro-Africana. “Nós, Carmelitas, estamos aqui na República Centro-Africana já há muitos anos, há 50 anos, desde 1971. E assim continuamos, depois de tantos anos…”
PA | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt