REP. CENTRO-AFRICANA: Médicos forçados a amputar pé de missionário italiano ferido na explosão de uma mina

REP. CENTRO-AFRICANA: Médicos forçados a amputar pé de missionário italiano ferido na explosão de uma mina

Ferido com gravidade quando o carro em que viajava foi atingido na passada sexta-feira pela explosão de uma mina terrestre, o padre carmelita Norberto Pozzi foi submetido já a várias intervenções cirúrgicas de emergência. Na mais recente, na segunda-feira, os médicos foram forçados mesmo a amputar-lhe o pé esquerdo…

O Padre Norberto Pozzi, um carmelita de 71 anos de idade, foi o único ferido grave quando o carro da Missão Católica de Bozoum, onde circulava com mais cinco pessoas, na sexta-feira passada, 10 de Fevereiro, passou sobre uma mina, fazendo-a explodir, no trajecto para Bocaranga.

O seu estado de saúde, com múltiplas fracturas, inspirava muitos cuidados e foi pedida a intervenção dos militares da força da ONU, presentes na região, que transportaram o missionário de helicóptero para a capital da República Centro-Africana, Bangui, situada a cerca de 400 quilómetros de distância. Os outros ocupantes do veículo, entre os quais, um irmão carmelita francês e um catequista, sofreram apenas ferimentos ligeiros.

Submetido a uma delicada intervenção cirúrgica, de cerca de três horas, os médicos procuraram salvar a sua perna esquerda, a mais atingida pela explosão da mina. Transportando, entretanto, para o hospital da ONU em Entebbe, no Uganda, por ter melhores condições, o missionário italiano, natural de Lecco, teve de ser submetido a nova operação, já na segunda-feira, dia 13. Mas, desta vez, e “infelizmente”, como escreveu na sua página no Facebook o Padre Aurélio Gazzera, seu confrade carmelita, “tiveram de amputar o pé esquerdo”. O acidente ocorreu a pouco mais de vinte quilómetros de Bozoum, na Diocese de Bouar, onde está situada a Missão mais antiga dos carmelitas na República Centro-Africana.

O Padre Norberto Pozzi chegou ao país como missionário em 1980. Na época, era ainda leigo e chegou a trabalhar como medidor de terrenos e pedreiro durante 8 anos nas missões dos carmelitas neste país africano. Posteriormente, regressaria a Itália para ser ordenado sacerdote tendo voltado à República Centro-Africana em 1995.

REP. CENTRO-AFRICANA: Médicos forçados a amputar pé de missionário italiano ferido na explosão de uma mina

TEMPOS DE VIOLÊNCIA

A Missão de Bozoum, de onde o Padre Pozzi partiu para a acidental viagem, é a mais antiga presença carmelita na República Centro-Africana. Teve início a 16 de Dezembro de 1971, com a chegada dos primeiros quatro missionários – padres Agostino Mazzocchi, Niccolò Ellena, Marco Conte e Carlo Coencio.

A presença de minas terrestres na estrada é um sinal evidente do ambiente de grande violência que se vive neste país, muito especialmente desde 2013, quando o então presidente Bozizé foi afastado do poder pelos Seleka, grupos maioritariamente muçulmanos. Desde então, que a República Centro-Africana praticamente não conheceu dias de paz.

Os Seleka não afastaram apenas o presidente do poder. Provocaram também uma enorme onda de violência que continua presente quase uma década depois. Face à brutalidade dos Seleka, foram surgindo, um pouco por todo o lado, grupos de auto-defesa, conhecidos como os Anti-Balaka. O caos instalou-se.

Os importantes recursos minerais presentes no subsolo desta região de África, provocam cobiça e alimentam conflitos por vezes comandados desde países bem longínquos. Os mercenários russos do grupo Wagner, que desempenham actualmente um papel importante na invasão russa da Ucrânia, também têm estado presentes na República Centro-Africana.

De facto, esta década desde o afastamento do poder do presidente, em 2013, tem sido caracterizada pela violência, por quase guerra civil. No entanto, apesar disso, o Papa Francisco não deixou de visitar o país no final de Novembro de 2015, em que abriu a Porta Santa da Catedral de Bangui, inaugurando assim, solenemente, o extraordinário jubileu da misericórdia.

REP. CENTRO-AFRICANA: Médicos forçados a amputar pé de missionário italiano ferido na explosão de uma mina

O APOIO DA FUNDAÇÃO AIS

Há cerca de um ano, o Padre Aurelio Gazzera, que está actualmente em Baoro, explicava, em mensagem enviada para a Fundação AIS, em Lisboa, as dificuldades e os principais desafios que se colocam à Igreja e muito particularmente aos carmelitas neste país. “Nós, Carmelitas, estamos aqui na República Centro-Africana já há muitos anos, há 50 anos, desde 1971. E assim continuamos… estamos presentes em cinco Missões, cinco casas, em duas paróquias, Baoro, e Bozoum, e três casas de formação. Por ocasião do 50º aniversário, tivemos a alegria da Ordenação de dois jovens sacerdotes centro-africanos”, explicou num vídeo que gravou com o seu próprio telemóvel no interior da igreja em Baoro.

Na mensagem, o carmelita italiano fez questão de sublinhar também a importância da ajuda que tem sido dada pela Fundação AIS. “Aqui, há muito trabalho a fazer e é sempre necessária a ajuda de todos. A presença e o apoio da AIS e de tantos outros permite-nos trabalhar, mas sobretudo dar passos em frente, quer na formação dos jovens, quer no empenho que temos com as escolas.”

O trabalho junto dos mais novos é essencial e tem vindo a gerar bons resultados. “Só aqui temos nove escolas com mais de duas mil crianças, seis creches e o mesmo acontece nas outras Missões. O trabalho é mesmo muito e é mesmo necessário o empenho de todos: na oração, material e económico e ao nível da informação – no compreender o que acontece nesta parte do mundo, que parece sempre longínqua, mas o mundo é pequeno”, disse ainda Aurelio Gazzera na mensagem enviada em janeiro do ano passado para Lisboa.

Paticamente um ano depois, e sinal da instabilidade e violência presentes na República Centro-Africana, o Padre Gazzera pede apenas orações pelo Padre Norberto, que continua no hospital depois de ter sido ferido gravemente na sexta-feira pela explosão de uma mina terrestre.

PA | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

Relatório da Liberdade Religiosa

Alegações de discriminação e violência contra os Muçulmanos reforçam um sentimento de impunidade e suscitam receios de que alguns líderes oportunistas possam tirar partido de sentimentos de estigmatização e alienação em grupos muçulmanos para fomentar o extremismo. O pleno gozo da liberdade religiosa pelos cidadãos da RCA é novamente posto em causa e deve ser mantido sob observação.

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“Convido-vos a todos, juntamente com a Fundação AIS, a fazer, por todo o mundo, uma obra de misericórdia.” 
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