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RD CONGO: O Papa “quis vir tocar com as próprias mãos a realidade deste país”, diz missionário comboniano em Kinshasa
A visita do Santo Padre à República Democrática do Congo, agendada para os dias 2 a 5 de Julho, vai permitir que o mundo fique a conhecer melhor os problemas deste país. O roubo das riquezas naturais, a insegurança, os ataques de grupos armados, a pobreza extrema em que vive grande parte da população, tudo isso vai estar presente nesta visita que o Padre Marcelo Oliveira, um missionário comboniano português vai acompanhar de perto e com todo o entusiasmo…
“Como podeis imaginar, a visita do Papa é um alento.” Marcelo Oliveira, administrador principal da Província dos Missionários Combonianos na República Democrática do Congo, não esconde a alegria pela visita, já no início do mês de Julho, do Santo Padre a este país onde vive há mais de uma década. “Será decerto um momento importante para ajudar os cristãos à reconciliação”, acrescenta este missionário português natural de Mortágua, Diocese de Coimbra.
Vai ser uma visita histórica também pela visibilidade que Francisco vai dar a muitos dos problemas que este grande país enfrenta desde há vários anos. A começar pela insegurança e pela pobreza em que vive grande parte da população.
Em entrevista à Fundação AIS, o missionário Marcelo Oliveira faz não só o retrato desta realidade como explica as razões por que é tão importante a viagem do Papa à República Democrática do Congo. “Tantas vezes na Praça do Vaticano invocou a realidade de sofrimento, de insegurança, de massacres neste país, e quis vir até ao meio de nós para poder tocar com as suas próprias mãos esta realidade.”
FAMÍLIAS EM SOFRIMENTO
Os encontros que já estão agendados são exemplo de que o Papa quer mesmo conhecer os problemas e contactar com as pessoas, com as vítimas da violência, com os deserdados da sorte, até com os que sofreram, há um ano, com a erupção do vulcão Nyiragongo.
“O Papa não vai somente visitar Kinshasa. Ele vai passar também pela cidade de Goma, onde, há alguns meses, o vulcão Nyiragongo entrou em erupção. E o Papa estará com as vítimas da erupção vulcânica. Estava também prevista a visita à cidade de Beni-Butembo, mas por questões de logística não poderá acontecer. No entanto, uma delegação das famílias que foram martirizadas, de famílias que estão em grande sofrimento, virá desta diocese para poder estar com o Papa.” É uma agenda de contactos, de encontros, só possível para quem tem mesmo o sofrido povo da República Democrática do Congo no coração.
PAÍS RICO, POVO POBRE
Para o Padre Marcelo Oliveira, a visita do Santo Padre, agendada para os dias 2 a 5 de Julho, vai permitir que o mundo fique a conhecer melhor os problemas deste país que retratam, também, e de certa forma, muitos dos dramas do continente africano. “As notícias que chegam da República Democrática do Congo não são muito famosas”, diz o sacerdote português, e explica porquê. “A questão da falta de segurança é muito grande, seja nas cidades, mas sobretudo no interior, na parte Este do país, com muitos ataques armados, muitos conflitos tribais e tudo isso com o interesse no subsolo.”
É aí, na imensa riqueza que se esconde no subsolo deste grande país que reside a sua miséria. É uma aparente contradição que só se compreende com a ganância, o lucro desmedido e a falta de respeito pelas populações locais. “Este é um país riquíssimo em ouro, diamantes, cobalto, coltan… e tudo isso faz com que haja ataques para tentar fazer partir as populações e depois tomar posse das terras. Claro que tudo isto com muitos interesses da comunidade internacional, assim como de todos os países vizinhos, que procuram roubar, que procuram levar uma parte da riqueza de uma maneira fraudulenta… quantas riquezas, quanta madeira, quanto ouro, quantos diamantes são levados sem serem pagos… Tantas pessoas que morrem nas minas, sobretudo do cobalto, enterradas nos aluimentos das terras…”
Esta ganância pelas riquezas da República Democrática do Congo conduziu o país para um estado de permanente sobressalto, com grupos armados, exércitos de malfeitores, populações sequestradas pela violência. “Isto faz com que o país não se possa desenvolver e que não haja um benefício para a população. São os ricos que se enriquecem e os pobres que estão cada vez mais pobres. São os pobres que trabalham, mas são ricos que levam para fora do país toda a riqueza que podeis imaginar… ouro, diamantes, e sobretudo o coltan, tão procurado para as informáticas… e tudo isso sai deste país pela dita porta do cavalo.”
“OBRIGADO, SANTO PADRE”
Por tudo isto, a visita do Santo Padre é histórica. Faltam já poucas semanas. Por todo o lado percebe-se o entusiasmo pelo momento em que os cristãos vão poder estar perto do Papa. Se conseguir estar mesmo perto de Francisco, se conseguir falar com ele, o Padre Marcelo Oliveira já sabe o que lhe vai dizer: “Se tiver a sorte de o poder encontrar só diria: ‘obrigado’. Obrigado, porque é o pastor, obrigado, porque se preocupa em ser um pastor que tem o cheiro das suas ovelhas”.
Os combonianos desenvolvem um grande trabalho missionário na República Democrática do Congo. Estão espalhados por todo o país, num total de 12 comunidades. O Padre Oliveira tem uma responsabilidade, neste momento, mais administrativa, logística. Mas é um trabalho tão essencial como o dos outros. É ele que trata das viagens, de toda a administração, da parte económica da vida da província, dos projectos que vão sendo realizados, das actividades nas paróquias, nos centros de acolhimento, nas casas de formação. Como ele diz, está fechado num gabinete mas aberto para a vida do país. O facto de ser o administrador principal da Província dos Combonianos, faz com que o padre português, que descobriu a vocação aos 12 anos, tenha uma noção muito especial da importância do apoio de instituições como a Fundação AIS para que a Igreja possa cumprir com a sua missão junto das populações mais pobres e mais necessitadas. “Contamos, de certo, com a vossa ajuda, com a vossa colaboração para tantas actividades, tantos projectos que nós, missionários combonianos, realizamos neste imenso país”, diz, descrevendo alguns desses projetos… “Rádios, casas religiosas, sobretudo de irmãs, na ajuda aos sacerdotes para a celebração da Eucaristia, na construções de igrejas e de casas de formação, na compra de alguns carros para permitir aos missionários que possam fazer todo o seu serviço de evangelização da população, de acompanhamento das pequenas comunidades cristãs….” A lista é grande. As necessidades são muitas. E por isso, toda a ajuda é sempre bem-vinda. “Todo este trabalho da igreja não pode ser levado para a frente sem a ajuda de tantas instituições e sobretudo de tantas pessoas generosas que continuam a apoiar o serviço da igreja, da igreja missionária. A Ajuda à Igreja que Sofre é uma dessas grandes instituições que se preocupam em ver todas estas realidades…”
PA | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt