Marcelo Oliveira é o administrador principal da província dos Combonianos na República Democrática do Congo. Nos últimos dias tem andado numa verdadeira roda-viva por causa da visita do Papa a este país. Uma visita que começa hoje e que, segundo o Padre Oliveira, poderá vir a mudar a realidade do país, marcado pela violência, especialmente na região leste. O que o Padre Marcelo não sabe ainda é se vai estar, ou não, mesmo com o Papa. No entanto, se isso acontecer, já sabe o que lhe vai dizer…
Começa hoje, terça-feira, 31 de Janeiro, a tão aguardada visita do Papa Francisco à República Democrática do Congo. Uma visita que chegou a estar agendada para Julho do ano passado mas que foi adiada por motivos médicos e que ocorre num momento de particular violência na região leste do país. “Nas últimas semanas, as notícias mostraram-nos quantos ataques armados, quantas pessoas foram atacadas… Na nossa comunidade que se encontra na parte leste da República Democrática do Congo, um dos nossos jovens em formação foi baleado…”
O Padre Marcelo Oliveira, natural de Mortágua, Diocese de Coimbra, é o administrador principal da província dos Combonianos neste enorme país de África. Ele está a referir-se ao ataque armado contra um veículo da comunidade comboniana, na província do Kivu Norte, no domingo 22 de Janeiro. O carro foi alvejado a tiro e um dos ocupantes, um jovem postulante de 22 anos de idade, ficou ferido e teve mesmo de ser internado no hospital. Mas, dias antes, o país sobressaltou-se com outro ataque, bem mais violento, contra uma igreja cristã protestante. Foi em Kasindi, também na mesma província e também num domingo. Pelo menos 15 fiéis perderam a vida e várias dezenas ficaram feridos quando explodiu uma bomba colocada no meio do templo por elementos de um grupo terrorista ligado ao Estado Islâmico. Foi a 15 de Janeiro.
País rico, povo muito pobre
A República Democrática do Congo é um país enorme, extraordinariamente rico em matérias naturais, como diamantes, ouro, cobalto ou coltan, mas onde vive uma população que por vezes é escandalosamente pobre. A região leste, a mais acossada pela violência, é onde actuam dezenas de grupos armados. O roubo das riquezas naturais está na origem da tragédia em que a este país está mergulhado. E o Papa, que tem tanto falado destes ataques, desta violência desmedida contra as populações, fez questão de vir ver com os próprios olhos toda esta realidade. É por isto que o Padre Marcelo está tão confiante. Ele acredita que esta visita de apenas três dias, de apenas cerca de 70 horas, pode vir a mudar muita coisa. “A visita do Papa, do homem que vem vestido de branco, do homem que traz a paz, poderá ser significativa, poderá mudar em muito a realidade deste país”, diz, numa entrevista à Fundação AIS. O tema escolhido para a visita, “todos reconciliados”, ajuda a perceber o alcance desta viagem. Para o Padre Marcelo, este poderá ser um momento de viragem. “O Papa vem como pastor, como pastor da paz, e creio que esta sua visita vai de facto permitir-lhe encontrar-se com as situações de violência, de sofrimento que este povo continua a atravessar depois de muitas décadas.” A violência, como se tem visto nas últimas semanas, continua presente, continua ameaçadora, até de forma muito particular para a comunidade cristã, mas é preciso saber ultrapassar as dificuldades. É preciso a reconciliação.
“Obrigado pela proximidade”
Para o comboniano português, esta visita é muito aguardada, é ansiosamente aguardada. “Um momento alto desta visita será, sem dúvida, o encontro com todos os religiosos que trabalham neste imenso país.” O encontro está agendado para a tarde de quinta-feira, dia 2 de Fevereiro, na Catedral de Nossa Senhora do Congo, em Kinshasa. “Creio que é um momento esperado por todos nós, de podermos ouvir aquilo que o Papa tem para nos dizer, a nós, que somos consagrados, a nós que somos missionários a trabalhar junto deste povo. Nós que partilhamos a nossa vida com o sofrimento desta população esperamos ansiosamente pelas palavras de conforto, de encorajamento que o Papa decerto nos vai transmitir para fortalecer o nosso empenho e o nosso trabalho como missionários ao serviço desta Igreja no Congo.” Será aí, na Catedral, que o Padre Marcelo Oliveira acredita que terá mais possibilidades de se estar mais perto de Francisco. Se isso acontecer, ele já sabe o que lhe vai dizer. “Será decerto muito difícil que eu possa chegar perto do Santo Padre”, confessa, na entrevista à Fundação AIS. “No entanto, se puder e se tiver a oportunidade de me aproximar dele apenas lhe diria ‘obrigado’. ‘Obrigado, Santo Padre, porque veio para estar connosco, para nos reconfortar, para ver com os seus próprios olhos, tocar com as suas próprias mãos e caminhar com os seus próprios pés sobre esta terra, sobre este país tão sofredor. A única palavra que lhe diria seria essa: obrigado Santo Padre pela sua visita, pela sua palavra, pelo seu encorajamento, porque se quis fazer próximo de cada um de nós e vir até nós.” Quinta-feira será o dia do encontro do Papa com os religiosos em missão na República Democrática do Congo. Se o Padre Marcelo conseguir falar com o Santo Padre, já sabemos o que lhe vai dizer…