R. D. CONGO: Papa preocupado com o “agravamento” da situação de guerra pede protecção das populações

O Santo Padre apela à comunidade internacional para travar a violência na região leste da República Democrática do Congo, pedindo a protecção das populações da cidade de Goma, a capital da província do Kivu Norte, que está a ser palco desde o início da semana de ferozes combates entre o grupo armado M23, apoiado pelo vizinho Ruanda, e as forças do exército congolês.

“Expresso minha preocupação com o agravamento da situação na República Democrática do Congo”disse o Papa, ontem, quarta-feira, dia 29, no final da Audiência Geral que decorreu no Auditório Paulo VI. “Exorto todas as partes envolvidas no conflito a se comprometerem com o fim das hostilidades e com a protecção da população civil em Goma e em outras áreas afectadas por operações militares”, acrescentou Francisco.

O Santo Padre referiu que também acompanha “com apreensão” o que se está a passar na capital deste país, Kinshasa – onde se verificaram igualmente vários incidentes, como a invasão de embaixadas, assaltos a bancos e supermercados –, “desejando que cessem todas as formas de violência contra as pessoas e seus bens”.

Falando perante milhares de peregrinos, o Papa pediu ainda a intervenção da comunidade internacional para resolver este conflito. “Ao rezar pelo rápido restabelecimento da paz e da segurança, apelo às autoridades locais e à comunidade internacional para que façam tudo o que estiver ao seu alcance para resolver esta situação de conflito, através de meios pacíficos”.

SITUAÇÃO CAÓTICA COM MILHARES EM FUGA

A situação no terreno continua caótica, com combates na cidade de Goma, cortes de energia eléctrica e de comunicações e a fuga de milhares de pessoas. Segundo o portal de notícias do Vaticano, desde Domingo, 26 de Janeiro, quando se registaram os primeiros confrontos em Goma, a cidade capital da província do Kivu Norte, já morreram mais de 100 pessoas e haverá quase mil feridos entre soldados e civis.

A Igreja local está a acompanhar igualmente com enorme apreensão a evolução dos acontecimentos. Como a Fundação AIS noticiou na terça-feira, dia 28, D. Willy Ngengele, Bispo de Goma, já apelou ao fim da violência e diz que segue de perto, “e com consternação”, tudo o que está a acontecer na sua diocese, nomeadamente o ataque contra o serviço de neonatologia da maternidade do Hospital Géneral Charité, “que causou a morte de recém-nascidos”.

Num comunicado enviado para a Fundação AIS, o prelado pede “respeito absoluto pela vida humana e pelas infra-estruturas privadas e públicas, que devem ser respeitadas por todos em todas as circunstâncias, de acordo com a dignidade humana e o direito internacional”, e sublinha a necessidade de se assegurar em particular o acesso da população aos serviços básicos e de se evitar o flagelo da violência sexual que tantas vezes acompanha os conflitos armados. 

Falando de uma “hora grave” para a população de Goma, o bispo assegura a preocupação da Igreja a todos os afectados pela violência e apela ao clero e a todos os fiéis e pessoas de boa vontade para que ajudem os necessitados da melhor forma possível.

ATAQUES CONSTANTES NA REGIÃO     

Toda esta situação foi também confirmada pelo sacerdote português Padre Marcelo Oliveira, que está na República Democrática do Congo há muitos anos, e que tem vindo a alertar através da Fundação AIS para o drama que se vive na região leste deste país africano. Numa mensagem enviada no início desta semana à AIS, o missionário comboniano falava de “ataques constantes” na região e que os rebeldes do M23 estavam já a avançar para Goma, mas que as tropas do Governo tinham sido enviadas em massa para tentar impedir a tomada do poder.

O Padre Marcelo Oliveira afirmou ainda que a situação humanitária é grave e tenderá a acentuar-se à medida que a população civil tenta fugir dos combates. “Há actualmente mais de 2,5 milhões de deslocados internos devido à guerra em torno de Goma”, disse. Por sua vez, Maxime François-Marsal, responsável pelos projectos da fundação pontifícia para os países francófonos da África Central, sublinha a necessidade da solidariedade da Igreja e a importância das orações de todos por este país que continua a ser uma das principais prioridades da instituição no continente.

“Rezemos pelo regresso da paz em Goma e por todas as vítimas da guerra. Rezemos especialmente pelos dirigentes políticos do Congo, do Ruanda e dos países vizinhos, para que procurem uma solução pacífica e rápida para o conflito. Que eles trabalhem no interesse do povo e sejam sensíveis ao sofrimento daqueles que injustamente perderam tudo.”

OLHOS PARA CHORAR E PÉS PARA FUGIR…

Também o arcebispo de Bukavu, D. François Xavier Maroy tem vindo a alertar o mundo para a situação trágica que se vive na região leste da República Democrática do Congo, em especial na província do Kivu Norte. Esta é uma região particularmente rica em minérios, como ouro, cobalto, coltan – essencial para a produção dos telemóveis, por exemplo –, ou diamantes, o que ajuda a compreender o que está a acontecer por estes dias, e também a cumplicidade de certos países nesta desordem em que alguns procuram tirar benefício em detrimento de multidões de miseráveis.

Numa mensagem recebida pela AIS Internacional a 22 de Janeiro, o prelado lamentou que, “desde há dois anos, muitos dos nossos irmãos e irmãs não têm senão olhos para chorar e pés para fugir, por vezes sem destino”, alertando que mesmo os campos de deslocados “não são seguros, e que várias aldeias estão saturadas e outras esvaziaram-se das suas populações”. O prelado exortou os cristãos “a não desanimarem” e deixou um alerta poderoso: que “nenhuma posição política ou benefício económico possa ser negociado sobre os cadáveres dos próprios compatriotas”.

Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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