Depois de um primeiro dia de visita à República Democrática do Congo marcado pelas palavras fortes de denúncia do colonialismo económico que subjuga as populações, o Papa Francisco presidiu ontem, quarta-feira, 1 de Fevereiro, a uma Missa no aeroporto de Kinshasa-Ndolo para mais de um milhão de pessoas.
A missa no aeroporto da capital da República Democrática do Congo foi uma celebração que o Padre Marcelo Oliveira, da comunidade comboniana neste país africano, classificou como sendo, seguramente, “um dos momentos altos da passagem do Papa” pelo país. Apesar de a Missa estar apenas agendada paras as 9:30 horas da manhã, a vontade de estar perto do Papa, de ouvir a sua mensagem, fez a cidade de Kinshasa acordar bem mais cedo que é habitual. As ruas encheram-se de pessoas. O Padre Marcelo fala numa “multidão imensa”. “Às quatro horas da manhã havia já gente por todo o lado. Uma quantidade imensa de padres, de religiosas, de religiosos, de seminaristas, de povo.”
Numa mensagem enviada para a Fundação AIS em Lisboa, o Padre Marcelo – que é administrador principal da província dos Combonianos neste país de África – não esconde a alegria de ter participado também nesta celebração que mobilizou tantos fiéis logo no segundo dia da visita do Santo Padre e que, apesar disso, decorreu sem qualquer incidente. “Foi uma celebração vivida na tranquilidade, na serenidade, com muita solenidade e o Papa de novo trouxe palavras de paz”, explicou.
Depois de, logo no primeiro discurso à chegada à República Democrática do Congo, ter proferido um discurso muito veemente contra a exploração dos recursos naturais em todo o continente, o Papa levou para a celebração no Aeroporto de Ndolo o tema da paz e da reconciliação, que aliás, é o mote da própria viagem: “todos reconciliados em Jesus Cristo”.
“O Papa, na sua homilia – explica o Padre Marcelo – falou-nos de três nascentes de paz: a primeira, o perdão; a segunda, a comunidade; e a terceira, a missão. Perdão, comunidade e missão. O perdão começa as famílias, nas tribos. O perdão que leva a viver na harmonia e que gera a comunidade. A comunidade que é o povo, o povo de Deus atrás de Jesus Cristo.”
Foi uma mensagem importante num país, como a República Democrática do Congo, onde há tantos factores divisionistas, onde há tantos pretextos para a desunião, onde tantos vivem miseravelmente. “Comunidade unida em Jesus e não unida à tribo, à língua, à região, ao canto de onde eu venho, à língua que eu falo, aos meus interesses pessoais.”
Todos estão em missão
Só unidos, só em comunidade é que pode acontecer a missão, disse também o Santo Padre. Na Missa, como o Padre Marcelo fez questão de dizer, Francisco deixou um desafio a todos, padres, irmãs, catequistas, leigos. É que todos são enviados. Todos estão em missão. “E o Papa sublinhou que não são apenas os consagrados, não são apenas os sacerdotes que são chamados a fazer missão, mas todos, todos somos enviados, todos somos chamados a partir, a ir ao encontro do outro, a gerar e a transmitir a paz. As três nascentes das quais o Papa nos fala são para que a paz possa regressar e a paz que gera harmonia.”
O dia de ontem ficou ainda marcado com um encontro, a meio da tarde, entre o Santo Padre e vítimas da violência no leste do país e que decorreu nas instalações da Nunciatura. Um encontro que deu mais expressão ainda às primeiras palavras de Francisco logo à chegada ao país, de denúncia do colonialismo económico que explora os recursos naturais e subjuga as populações.
Frases como “tirem as mãos da República Democrática do Congo, tirem as mãos da África! Chega de sufocar a África!”, ou “o veneno da ganância tornou os vossos diamantes ensanguentados”, vão fazer-se ouvir por muito tempo sempre que se falar na República Democrática do Congo, sempre que se falar em ataques armados, em atentados bombistas, em populações em fuga. Palavras que também se dirigem à comunidade internacional, ao “mundo economicamente mais desenvolvido”, que, face a este drama, “muitas vezes fecha os olhos, os ouvidos e a boca”.