QUÉNIA: Violência e medo levam irmãs beneditinas a fechar convento e hospital no Kerio Valley

Irmãs beneditinas suspendem “por tempo indeterminado” a presença em Kerio Valley, e encerram convento e hospital por causa do ambiente de enorme intranquilidade e mesmo medo que se vive na região, após actos de violência e até a morte de dois sacerdotes. O Padre Filipe Resende um comboniano português que esteve em missão no Quénia e que conhece bem esta zona, acompanha preocupado o evoluir dos acontecimentos e diz, à Fundação AIS, que se vive por ali “uma tragédia silenciosa”. A proliferação de armas pelos habitantes locais e questões étnicas poderão ajudar a compreender o que se passa.

As irmãs Beneditinas Missionárias do Priorado do Sagrado Coração encerraram todas as suas instalações em Kerio Valley, no Quénia, em resultado do ambiente de enorme insegurança que se vive na região, especialmente após a morte de dois sacerdotes. A decisão do encerramento do convento e do hospital, que as irmãs geriam na zona, foi tomada por “tempo indeterminado” até que “a área esteja segura”, como as religiosas informaram em comunicado no dia 2 de Junho.

O Padre Filipe Resende, um comboniano português que trabalhou 16 anos como missionário neste país de África e que conhece bem o Kerio Valley, tem estado a acompanhar com preocupação o evoluir dos acontecimentos e confessa, à Fundação AIS, que se está a viver “uma tragédia silenciosa” no coração do Quénia.  O padre fala mesmo em “situação brutal”, que fez com que os espaços de fé, que foram sempre “refúgio”, tivessem deixado de “estar seguros”.

O sentimento de insegurança na região acentuou-se no passado mês de Maio com a morte de dois sacerdotes. O Padre John Maina, foi envenenado e acabou por falecer no hospital no dia 15, enquanto o Padre Alois Bet morreu a 22 de Maio, baleado depois da celebração da Eucaristia numa das pequenas comunidades locais. “Mortes que chocaram uma comunidade já marcada pelo medo”, explica o missionário português à AIS.

VIOLÊNCIA JÁ ANTIGA

Para se compreender o que está a acontecer, e o medo que levou as irmãs a fecharem o convento e o hospital em Kerio Valley, importa perceber que nesta região, algo remota, a violência entre as comunidades pastorícias é já antiga, mesmo ancestral. Além disso, tem-se vindo a registar uma proliferação de armas pelos habitantes locais, o que tem agravado tudo.

O presidente do Quénia, William Ruto, tem levado a cabo campanhas de desarmamento das populações, mas isso tem gerado alguma contestação e o facto de os dois sacerdotes pertencerem à mesma etnia do presidente – os Nandis – pode ser uma chave de leitura para estes acontecimentos. Mas há muitas interrogações sobre o que se está realmente a passar e como se chegou a isto. “Como é que pessoas tão pobres – pergunta o padre Filipe – conseguem ter acesso a armas de guerra?”

Após a morte violenta dos dois sacerdotes, o Arcebispo de Kisumu, D. Maurice Muhatia, que é também presidente da Conferência Episcopal do Quénia, pediu mesmo às autoridades “uma investigação completa” para se “esclarecer as circunstâncias reais” em que tudo aconteceu, “a fim de se garantir a segurança dos nossos padres e de todos os quenianos no futuro”.

Para já, a consequência imediata de toda a violência, do assassinato dos dois sacerdotes e do medo nas populações, foi o encerramento da missão das irmãs beneditinas em Kerio Valley, o que vai agravar bastante as precárias condições de acesso à saúde das populações locais.

“O POVO FICOU SEM VOZ…”

“Este é o único hospital distrital que serve de referência a uma população de milhares de pessoas, os habitantes daquela zona que já de si é muito remota e com um acesso muito escasso aos serviços públicos e também aos serviços de saúde”, explica o sacerdote português.

“As religiosas partiram não por medo, mas por segurança e sobretudo a segurança dos cerca de 100 colaboradores do hospital, que na sua maioria não são locais”, diz ainda o missionário comboniano à Fundação AIS, depois de ter contactado com algumas destas irmãs, que já conhecia desde o tempo em que trabalhou também neste país. Agora, acrescenta, “o povo ficou sem médicos, sem professores, sem protecção, mas também sem voz”.

O Kerio Valley precisa de paz, precisa de justiça, precisa de cada um de nós. E os cristãos, em todo o mundo, não podem continuar a ignorar conflitos escondidos como este. Há por aí muitas Ucrânias e muitas Faixas de Gaza, e silenciar estas mortes é permitir que elas se repitam.”

APOIO DA FUNDAÇÃO AIS

A Fundação AIS apoia a Igreja no Quénia através de vários projectos, nomeadamente a formação de sacerdotes, religiosas e leigos, mas também através de retiros, da publicação e distribuição de material catequético, como a Bíblia para Crianças, ou Catecismos para adultos e outras obras da Fundação YOUCAT.

Também têm sido apoiados diversos projectos nas áreas de pastoral familiar, medidas pró-vida e planeamento familiar. Além disso, a fundação pontifícia tem colaborado com a Igreja na organização de eventos como encontros de jovens e no apoio à mobilidade através, por exemplo, da distribuição de veículos para o trabalho missionário dos sacerdotes.

Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

Relatório da Liberdade Religiosa

As tensões no país resultantes do terrorismo al-Shabaab são motivo de preocupação, tal como o são também as tensões resultantes de incidentes de violação dos direitos humanos contra fiéis muçulmanos. No entanto, em geral, a liberdade religiosa é respeitada pelo Estado e vivida entre as várias comunidades, permanecendo positivas as perspectivas para a liberdade religiosa.

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