PORTUGAL: Perseguição aos cristãos está a acentuar-se em África, conclui relatório da Fundação AIS que vai ser apresentado hoje

Os Cristãos sofrem cada vez mais violência, discriminação e são vítimas de outras violações dos direitos humanos em vários países mas com um acentuado destaque em África, por causa da actuação de grupos terroristas ligados ao extremismo islâmico, de acordo com o relatório ‘Perseguidos e Esquecidos?’, produzido pela Fundação AIS e que vai ser divulgado oficialmente hoje em Lisboa.

O auditório do MUDE – Museu do Design, na Baixa lisboeta, vai ser o palco para a apresentação logo à tarde, pelas 17h30, do Relatório “Perseguidos e Esquecidos?”, produzido pela Fundação AIS e em que se faz um retrato do mundo no que diz respeito à perseguição aos Cristãos.

O documento, que diz respeito aos anos de 2022 a 2024, foi produzido por uma equipa internacional de especialistas e vai ser apresentado nas suas linhas mais significativas pelo professor Jorge Bacelar Gouveia e contará ainda com o testemunho de um sacerdote oriundo do Burquina Fasso, precisamente um dos países onde a perseguição aos cristãos se revelou mais acentuada no período em análise.

O relatório examina a situação em 18 países, considerados de maior preocupação, e permite concluir que, de facto, entre o Verão de 2022 e o Verão deste ano, a perseguição aos cristãos aumentou significativamente. Desde a Nicarágua, na América Latina, a Mianmar, no Extremo Oriente, passando pelo Burquina Fasso, país situado na África Ocidental, são inúmeros os relatos de que a situação da comunidade cristã se tornou mais difícil e que a opressão por causa da fé é uma constante na vida de milhões de pessoas.

JIHADISMO EM ÁFRICA

No período em análise, o epicentro da violência jihadista mudou do Médio Oriente para África e pode falar-se num movimento islamista transnacional que tem os cristãos como um dos alvos. “Embora o militantismo jihadista tenha persistido em [certas] zonas do Médio Oriente como Idlib, na Síria, as autoridades estatais da região fizeram progressos significativos na repressão dos grupos islamistas violentos. Em contrapartida, em regiões do Burquina Fasso, da Nigéria, de Moçambique e noutros locais, os Cristãos foram aterrorizados pela violência extremista”.

Esta situação, pode ler-se no trabalho da Fundação AIS, “foi um factor fundamental para explicar a prevalência de um aumento da perseguição que afectou os seis países analisados em África, com provas que sugerem o alcance crescente dos grupos jihadistas transnacionais”. Tudo isto permite inclusivamente lembrar que os “califados oportunistas”, que eram uma das inquietações emergentes no Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, publicado em 2023 pela Fundação AIS, são agora “uma grande preocupação” neste ano de 2024.

A migração em massa de comunidades cristãs, desencadeada por ataques de militantes islamistas, desestabilizou-as e privou-as de direitos, levantando questões sobre a sobrevivência a longo prazo da Igreja em regiões-chave.

REGIMES AUTORITÁRIOS

Além da questão do jihadismo em África, o relatório ‘Perseguidos e Esquecidos?’ identifica ainda outros agentes da violência contra as comunidades cristãs. É o caso dos regimes autoritários, incluindo os da China, Eritreia, Índia e Irão, que intensificaram as medidas repressivas contra esta comunidade religiosa.

Outros países, como a Nicarágua, são referenciados nomeadamente por causa da detenção e expulsão em massa do clero, incluindo todos os membros da Nunciatura Apostólica. O único país que contraria esta tendência é o Vietname, graças às medidas que têm vindo a ser tomadas para o restabelecimento das relações diplomáticas com o Vaticano e pela redução da carga burocrática para o registo de grupos religiosos.

O Relatório apresenta o perfil de alguns dos países onde as comunidades cristãs são mais ameaças, como é o caso do Burquina Fasso, Birmânia, China, Egipto ou Moçambique, e recorda histórias concretas de ajudam a compreender a violência que é exercida sobre as populações locais. O massacre de mais de 300 cristãos nigerianos no estado de Plateau, na véspera do Natal do ano passado, ou o tratamento desumano que é reservado para os desertores cristãos na Coreia do Norte, ou ainda a destruição pelas chamas de um bairro cristão paquistanês em Agosto de 2023, ilustram a insegurança total que os fiéis enfrentam em alguns países do mundo.

O Prefácio do Relatório é do Arcebispo de Erbil, no Iraque e D. Bashar Warda, que ainda recentemente esteve em Portugal a convite da Fundação AIS, recorda os tempos negros vividos pela comunidade cristã no seu país quando, há 10 anos,  as terras bíblicas da Planície de Nínive foram ocupadas por jihadistas do Daesh, grupo Estado Islâmico. E lança um desafio. “Rezemos para que aqueles que lêem este relatório, sejam eles governos ou outras pessoas com influência, façam mais do que apenas falar sobre os relatos de perseguição cristã; devem fazer corresponder as suas palavras a acções – compromissos políticos claros e decisivos –, para ajudar aqueles cujo único crime é a fé que professam.”

TESTEMUNHO DO PADRE SAWADOGO

O padre Jacques Sawadogo, do Burquina Fasso, vai participar no lançamento do Relatório da Fundação AIS precisamente para dar o seu testemunho de como se tem acentuado essa opressão também sobre a comunidade cristã no seu país ao longo dos últimos anos, com especial ênfase desde 2015.

O sacerdote, que vai acompanhar ao longo dos próximos dias a divulgação do relatório por outras dioceses portugueses, concedeu uma entrevista à Fundação AIS em que fala sobre as consequências dramáticas da violência terrorista, de matriz jihadista, no seu país. “Na minha diocese, por exemplo, o bispo foi obrigado a fechar algumas das paróquias, porque os cristãos e os sacerdotes estavam muitas vezes sob ataques terroristas. Os sacerdotes foram transferidos para outros lugares e os cristãos também foram obrigados a fugir das suas aldeias e das suas cidades, e a procurar refúgio noutros lugares”, relata o padre Arzouma.

A violência na região do Sahel, que inclui o Burquina Fasso e diversos outros países como o Mali, Níger ou, por exemplo, a Nigéria, afecta já milhões de pessoas. Só no Burquina Fasso, e desde há cerca de dois anos, calcula-se que mais de dois milhões de pessoas tenham sido forçadas a fugir, a abandonar as suas aldeias e vilas e cidades, vivendo agora como refugiados em campos de deslocados.

HISTÓRIAS DE CORAGEM NA FÉ

Neste país, os cristãos são um dos alvos dos terroristas, mas também os muçulmanos moderados, que rejeitam um Islão radical, sofrem as consequências dos ataques. “É verdade que no Burquina Faso e nos países vizinhos, como o Mali e a Nigéria, há insegurança, há esta situação de terrorismo. Deveríamos dizer que é uma perseguição sistemática aos Cristãos? É difícil dizer, porque entre aqueles que estão a morrer, também há muitos muçulmanos, há muitos não cristãos, porque também há ataques a mesquitas. Quando os terroristas vão a uma aldeia e matam pessoas, nem todos são cristãos. Penso que é muito importante referir isto”, explica o sacerdote.

Certo é que se do Burquina Fasso chegam histórias dramáticas de perseguição, também é possível escutar relatos eloquentes de coragem na fé. “Sim, apesar desta situação de perseguição e das dificuldades da Igreja no Burquina Faso, os Cristãos não deixam de ir à igreja. Continuam a fazê-lo, reunindo-se nas igrejas para rezar ou reunindo-se nas casas, onde também rezam. O que é que lhes dá essa força? Penso que é, em primeiro lugar e acima de tudo, a graça de Deus. E, em segundo lugar, sabemos que há muitas pessoas a rezar por nós. E é graças a esta vontade, a esta consciência de não estarem sozinhas no seu sofrimento, que continuam a ir à igreja, continuam a viver a sua fé”, afirma o padre Jacques à Fundação AIS.

Mais logo, na apresentação do Relatório “Perseguidos e Esquecidos”, o padre Jacques Arzouma vai seguramente testemunhar como é difícil a vida dos cristãos no seu país e como é importante também o apoio, a solidariedade para com esta Igreja que todos os dias vive o drama da perseguição religiosa.

LISBOA, SANTARÉM, AVEIRO E ÉVORA

O Relatório vai ser apresentado pelas 17h30 horas no MUDE – Museu do Design, na Rua Augusta, 24, em Lisboa, e contará ainda com a presença de Filipe Anacoreta Corrreia, vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa, entidade que dá apoio a esta iniciativa da Fundação AIS. No final do evento, o monumento a D. José, na icónica Praça do Comércio, será iluminado de vermelho, para lembrar a perseguição aos cristãos no mundo. Na mesma altura, no outro lado do Tejo, também o monumento do Cristo-Rei ficará iluminado da cor do sangue dos mártires, tal como várias igrejas e capelas e monumentos um pouco por todo o país.

No dia seguinte, quinta-feira, 21 de Novembro, Catarina Bettencourt, directora da Fundação AIS em Portugal, irá apresentar o Relatório “Perseguidos e Esquecidos?” também na Diocese de Santarém – na Sé Catedral, pelas 18h –, numa sessão que contará com o Bispo D. José Traquina e com o padre Jacques Sawadogo.

O sacerdote do Burquina Fasso vai também estar presente em Aveiro, no dia 22, sexta-feira, onde pelas 18h o Relatório da Fundação AIS vai ser apresentado na Paróquia de Vera-Cruz, sessão que terá também a presença da responsável do secretariado nacional da AIS e do padre João Miguel Alves.

Finalmente, o Relatório vai ser apresentado na Arquidiocese de Évora, na Igreja de Santa Clara, sábado, 23 de Novembro, às 16h.

Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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Relatório da Liberdade Religiosa

O relatório da Fundação AIS analisa a situação da liberdade religiosa em 196 países. É um dos quatro relatórios sobre a situação da liberdade religiosa a nível mundial, sendo o único relatório não governamental na Europa que tem em conta a doutrina social católica.

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