É já na próxima terça-feira, 6 de Agosto, que se assinalam os 10 anos da invasão das terras bíblicas da Planície de Nínive no Iraque pelo Daesh, o grupo jihadista ‘Estado Islâmico’. Os portugueses são convidados a transformar essa data num dia de oração pelos cristãos perseguidos. Um gesto que, sublinha a directora do secretariado português da Fundação AIS, tem uma enorme importância porque, “infelizmente, a perseguição religiosa é uma realidade cruel hoje em dia em inúmeros países”.
No dia 6 de Agosto de 2014, as populações que viviam nas terras bíblicas da Planície de Nínive, no Iraque, assistiam com medo e em sobressalto à aproximação dos terroristas do Daesh, o grupo jihadista ‘Estado Islâmico’. Num espaço de poucas horas, as aldeias e vilas cristãs esvaziaram-se numa fuga desordenada de mais de 100 mil pessoas rumo ao Curdistão iraquiano. Foi a primeira vez, desde o primeiro século, que a presença cristã desapareceu por completo da região. Foram tempos de medo e de angústia.
Recentemente, numa conferência realizada ‘on-line’ pela Fundação AIS Internacional, D. Nizar Semaan, arcebispo siro-católico de Adiabene, recordou esse episódio como uma das páginas mais negras da história do cristianismo no país e seguramente um dos momentos mais trágicos também da perseguição aos cristãos nos tempos modernos em todo o mundo.
Não há palavras para descrever o que vivemos há dez anos. O Estado Islâmico tentou erradicar-nos, mas falhou. As pessoas aqui são como oliveiras. Você pode podá-las e queimá-las, mas depois de 10 ou 20 anos elas ainda darão frutos. Eles (os terroristas) tentaram de tudo, mas ainda estamos aqui e, como Igreja, fazemos todo o possível para transmitir um raio de esperança.”
O que aconteceu nesses primeiros dias de Agosto de 2014 não pode ser esquecido. Por isso, a Fundação AIS quer transformar este dia 6 num memorial pelos cristãos perseguidos, apelando às orações de todos pelos que sofrem por causa da sua fé em tantos países do mundo.
“Infelizmente, a perseguição religiosa é uma realidade cruel hoje em dia em inúmeros países”, reconhece Catarina Martins de Bettencourt, directora do secretariado nacional da Fundação AIS. “Tal como aconteceu há 10 anos no Iraque, todos os dias recebemos notícias que nos falam disso, sabemos de histórias de cristãos que também tiveram de fugir para salvar as suas vidas, sabemos de histórias de cristãos que são ameaçados apenas por causa da religião que professam. E tal como aconteceu há 10 anos, hoje em dia em muitos países esses cristãos perseguidos estão sozinhos, estão como que abandonados à sua sorte. É preciso denunciar isto”, acrescenta a responsável da Ajuda à Igreja que Sofre.
“A melhor maneira de homenagearmos os cristãos perseguidos, a melhor maneira de dizermos também ao mundo que temos de defender a liberdade religiosa como um direito básico e inalienável do ser humano é rezando. E é isso que, uma vez mais, propomos a todos os portugueses que transformem, de alguma maneira, o próximo dia 6 de Agosto num tempo de oração e de memória por todos os que sofrem pela sua fé”, conclui Catarina Bettencourt.
UMA DÉCADA DE SOLIDARIEDADE
Em 2016, numa resolução histórica, o Parlamento Europeu reconheceu formalmente as contínuas atrocidades do Estado Islâmico contra as minorias religiosas no norte do Iraque como sendo genocídio e instou os estados membros da União Europeia a agirem. E a melhor forma de se defender os que viveram de perto a ameaça terrorista é criando as condições para o regresso a casa de todas essas famílias, de todas essas pessoas.
A Fundação AIS tem estado, desde a primeira hora, fortemente empenhada neste processo. Nos tempos de exílio dentro do próprio país, a que os cristãos foram forçados, a AIS colaborou activamente na criação de condições mínimas para a sobrevivência das famílias. Foram erguidas escolas temporárias, criados abrigos de emergência, fornecidas milhares de refeições, de alimentos, mas também de cobertores, roupa, medicamentos. Uma ajuda que nunca foi interrompida ao longo destes 10 anos.
O ano de 2017 marcou o fim da ameaça jihadista. Uma coligação militar internacional, que incluiu, entre outros países, os Estados Unidos da América, conseguiu derrotar o ‘Estado Islâmico’. Desde então, tem-se assistido ao regresso a casa dos cristãos. Um regresso que só foi possível depois da reconstrução das cerca de 13 mil casas e de mais de 360 Igrejas ou edifícios religiosos e outras infraestruturas que haviam sido destruídas ou danificadas pelos jihadistas nas vilas e aldeias da Planície de Nínive.
Ao longo destes dez anos, a Fundação AIS atribuiu cerca de 56 milhões de euros para a concretização de quase 500 projectos. Uma ajuda que vai continuar, como garante Regina Lynch, a presidente executiva internacional da fundação pontifícia: “Devemos continuar a ajudar os cristãos do Iraque, devemos continuar a ser a voz dos cristãos do Iraque. E, claro, devemos rezar pelos cristãos do Iraque”.
Sinal desta proximidade para com os cristãos iraquianos, no próximo dia 6 de Agosto, a Fundação AIS apela aos portugueses para um momento de oração. Apenas isso. Um momento de oração para que o mundo não se esqueça do que aconteceu. Para que nunca mais se repita também algo de semelhante… Na sede da Fundação AIS, em Telheiras, Lisboa, vai ser celebrada às 12 horas uma Eucaristia por esta intenção, que será presidida pelo Assistente Espiritual da instituição, e que será transmitida também em directo para todo o país pelas redes sociais. É já na próxima terça-feira…
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt