“Não é tolerável.” A frase, do Bispo de Leiria-Fátima, sobre o estado do mundo no que diz respeito à perseguição aos cristãos, marcou a sessão de apresentação do Relatório da Fundação AIS sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, que decorreu ontem na antiga Igreja da Misericórdia no centro histórico da cidade de Leiria. D. José Ornelas enfatizou ainda, por diversas vezes, a importância do trabalho da fundação pontifícia por falar desta realidade e deixou um apelo: “Não podemos resignar-nos”.
A belíssima antiga Igreja da Misericórdia, hoje o Centro do Diálogo Intercultural de Leiria, no centro histórico da cidade, foi o palco, ontem, ao fim da tarde, de mais uma sessão de apresentação pública do Relatório da Fundação AIS sobre a Liberdade Religiosa no Mundo. Uma sessão que ficou marcada pelas palavras de D. José Ornelas sobre a importância do documento mas também do trabalho que é desenvolvido pela fundação pontifícia de alerta para tudo o que diz respeito a esta liberdade fundamental.
“Quero deixar aqui uma saudação à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre que entre nós está bem activa em tornar-nos conscientes desta realidade dramática que se vive em todo o mundo. Os números que acabámos de ver são disso sintoma. E o facto de se dizer que os cristãos são os mais perseguidos não é de admirar. Isso significa também que há muitos, muitos cristãos que arriscam a sua vida em nome e em coerência com aquilo que pensam, com aquilo que creem e com o mundo que querem criar”, afirmou o Bispo de Leiria-Fátima.
“É muito comovente e chocante mesmo falar com pessoas destas”, acrescentou o prelado, recordando o encontro que teve recentemente em Roma, durante o Sínodo dos Bispos, com uma religiosa iraquiana. Os dois participavam na oração do Terço na Igreja de São Pedro, no Vaticano, e a irmã falou-lhe um pouco do que tem sido a vida dos cristãos no Iraque nos últimos anos. Na localidade onde vivia, havia cerca de 60 mil cristãos antes da invasão dos jihadistas do Estado Islâmico, em 2014. Hoje são pouco mais de 10 mil. O que aconteceu? Violência, muita violência.
“Muitos perderam a vida, é rara a família que não tenha mortos recentes, destes últimos anos”, contou o Bispo. “É preocupante perceber que a presença da Igreja nestes países esteja a diminuir radicalmente”, disse ainda D. José Ornelas.
O SANTUÁRIO DAS LIBERDADES
Na sua intervenção, de improviso, o Bispo fez questão de sublinhar a importância de se defender a liberdade religiosa como a mais significativa de todas as liberdades. “É muito importante a consciência que se faz, do ponto de vista religioso, falar de liberdade religiosa e falar de perseguição religiosa. Porque quando se chega à perseguição religiosa já pelo caminho ficaram muitos outros direitos humanos fundamentais… Porque esta é a mais íntima, a mais sagrada das fronteiras da liberdade, que é a liberdade de pensar, de acreditar, de sonhar um mundo novo, e portanto este é o santuário”, disse, acrescentando que, por tudo isto, o diálogo inter-religioso “é uma necessidade absoluta”.
Tal como denunciar o que acontece todos os dias no mundo quando esta liberdade é atropelada. E D. José Ornelas salientou a importância de haver uma instituição da Igreja, a Fundação AIS, que tem como missão precisamente a defesa da liberdade religiosa e o apoio aos cristãos que são a comunidade mais perseguida em todo o mundo.
Agradeço o trabalho que fazem de pôr [tudo isto] a nu, até por justiça para com estas pessoas, e de dizer que isto não é tolerável nesta humanidade. Que se justifique e se dê uma cobertura religiosa à violência, à guerra, à destruição, ao ódio, isso não pode ser chamado de religioso. E hoje, infelizmente, isto [é comum] em muitos países onde estive, onde a minha congregação está presente e a gente sente isso todos os dias.”
D. José Ornelas
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt