O rapto e assassinato no início do mês de Março, na Nigéria, do Pe. Sylvester Okechukwu deixou consternado o Pe Simon Ayogu, que vive em Portugal há muitos anos. Para o pároco de Nogueira e Lomar, na Arquidiocese de Braga, este não foi apenas mais um crime. Foi um crime que, embora sem estar relacionado com a perseguição religiosa aos Cristãos, deixou de luto também a sua própria família…
À mesma hora que a Fundação AIS estava a iniciar em Arouca a primeira conferência do Jubileu dos Cristãos Perseguidos, no sábado, 29 de Março, na Diocese de Enugu, na Nigéria, terminava a celebração da Missa em memória do Pe. Sylvester Okechukwu, raptado e assassinado 24 dias antes nesse país africano. Uma cerimónia religiosa que contou com a presença do Bispo, D. Callistus Onaga, e que estava a ser seguida, na medida do possível, através do telemóvel, pelo Pe. Simon Ayogu, nigeriano a viver em Portugal há mais de uma década. Habituado a denunciar situações de perseguição aos Cristãos na Nigéria, desta vez o Pe. Simon viu-se afectado directamente com um crime que abalou a sua própria família. Um crime não relacionado com a violência religiosa, mas que afectou fortemente todos os que conheceram e privaram de perto com o Pe. Sylvester.
Simon Ayogu foi uma dessas pessoas. “Falo com o coração nas mãos, porque quando falamos de uma pessoa que passou pela nossa vida, é outra coisa”, explica à Fundação AIS. O Pe. Sylvester Okechukwu foi raptado na Diocese de Kafanchan na noite de 4 de Março, e o seu corpo, já sem vida, foi encontrado horas depois, dia 5, ainda de madrugada. Independentemente dos motivos que estiveram na sua origem – tratou-se de um mero crime sem expressão de perseguição religiosa, em que os seus autores foram já detidos pelas autoridades –, este assassinato inscreve-se nos já muitos casos de violência contra a Igreja da Nigéria ocorridos desde o arranque deste ano, em que houve igualmente a morte de um seminarista, Andrew Peter, na sequência também de um rapto.
UMA FAMÍLIA ENLUTADA
Depois do funeral do Pe. Sylvester na Diocese de Kafanchan, também a Diocese de Enugu decidiu prestar uma homenagem ao filho da terra. Era essa a cerimónia que o Pe. Simon procurava seguir com atenção desde Arouca onde participou no Jubileu dos Cristãos Perseguidos. “O Pe. Sylvester foi enterrado em Kafanchan, estado de Kaduna, onde viveu, trabalhou e morreu, mas no nosso estado, que corresponde à Diocese de Enugu, na Paróquia de São Paulo, em Ozalla, que é a paróquia natal dele, houve também uma cerimónia fúnebre. Uma cerimónia em que o Bispo celebrou com centenas de padres que se juntaram aos fiéis para rezar pelo eterno descanso deste nosso irmão, e para dar coragem a esta família que está em luto, especialmente a mãe do Pe. Sylvester Okechukwu, que é meu cunhado”, explicou o Pe. Simon Okechukwu Ayogu.
O laço de parentesco entre os dois é por via da irmã do Pe. Simon. “A minha irmã é mulher do primo do Padre Sylvester. Na nossa cultura, a palavra primo não existe. Um primo é um irmão”, esclarece. Um laço familiar que deu um cunho muito especial a este caso que, embora não ilustre a perseguição aos Cristãos da Nigéria, vem reforçar os alertas constantes do Pe. Simon para o que se passa no seu país, onde a violência contra os fiéis faz parte do quotidiano de milhares de pessoas.
É por isso que estou a alertar da importância da vigilância, da oração e do apoio para que esta Igreja que sofre, esta Igreja que não tem voz, que até parece que não tem vez, para que comece a ter voz, e para acabar com este terrorismo que é feito à boleia, por assim dizer, das religiões”
diz o Pe. Simon, referindo-se nomeadamente à violência do grupo terrorista Boko Haram que, querendo implantar um califado na região norte da Nigéria, tem transformado a Igreja Católica e a comunidade cristã num dos seus principais alvos.
“O MUNDO PODE FAZER MUITO MAIS…”
Empenhado em denunciar todos os atropelos à liberdade religiosa e aos direitos humanos que têm acontecido com frequência assustadora no seu país, o Pe. Simon Ayogu participou no Jubileu dos Cristãos Perseguidos, que a Fundação AIS organizou pela primeira vez em Portugal, e que durante o último fim-de-semana de Março foi um palco de alerta para que os Portugueses compreendam como é difícil a vida dos Cristãos na Nigéria e em tantos e tantos países do mundo.
E o Pe. Simon fez questão de sublinhar a importância da missão da Fundação AIS também no que diz respeito à solidariedade activa para com as comunidades cristãs perseguidas. “A Fundação AIS existe para ser a voz daqueles que o mundo tirou voz, para ser a voz daqueles que, por muito que gritem, não são ouvidos. E quando são postos no palco desta Fundação são ouvidos. E o mundo consegue ouvi-los”, diz o sacerdote nigeriano, alertando que é necessária uma maior mobilização da sociedade para estas causas. “Acho que o mundo pode fazer muito mais do que faz em acudir este povo sofredor, este povo de quem somos família. Porque a família cristã é uma só, quer na América, quer em África, quer na Ásia, quer aqui na Europa”, concluiu.
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt