“O grito de socorro das pessoas de Cabo Delgado vítimas dos ataques terroristas comoveu-me”, diz Sílvia Duarte, uma cabeleireira que, desde a pandemia, tem participado em corridas de atletismo sempre por causas especiais. Desta vez, decidiu que era preciso fazer alguma coisa pela população de Moçambique, vítima de ataques terroristas cada vez mais intensos e cruéis. No próximo domingo, dia 26, ela vai participar numa prova difícil, o “green trail”, na zona de Monsanto, em Lisboa. São 22 quilómetros para ajudar a Fundação AIS a socorrer o povo mártir de Cabo Delgado.
Não gosta de falar, não gosta de aparecer, de ser filmada, de tirar fotografias. Mas gosta de correr. De correr por causas meritórias. Sílvia Duarte, 56 anos, casada, três filhos, é cabeleireira, tem um salão no Estoril, perto do Casino, e desde há alguns anos que se dedica a correr por causas, por instituições meritórias, por pessoas que precisam de ajuda.
Tudo começou durante a pandemia. Sílvia soube de um homem a quem tinha sido diagnosticado cancro e que precisava de fazer uns exames mas não tinha dinheiro. Naqueles dias, por causa do Covid19, as pessoas estavam praticamente todas fechadas em casa, mas isso não a demoveu. “Decidi arriscar fazer uma maratona ali mesmo numa estrada muito pequenina, às voltinhas, junto da minha casa. Decidi correr ali os 42 quilómetros.”
Sílvia pediu ajuda ao seu pároco, Nuno Westwood, de São Julião da Barra, em Oeiras, para mobilizar as pessoas. “Aos 25 quilómetros disseram-me que já podia parar de correr porque já se tinham reunido 4500 euros. Mas eu não parei, o padre Nuno continuava nos directos, nas redes sociais, a motivar as pessoas e eu cheguei aos 42 quilómetros e acabámos juntando 7 mil euros…” Foi assim que tudo começou.
“POR FAVOR, CORRA PELA AIS”
De então para cá, nunca mais parou. Já fez outras maratonas, já participou em corridas mais pequenas e agora está a preparar-se para uma mega-prova lá para Outubro. Mas, entretanto, Sílvia decidiu que era preciso, ainda antes do Verão, de fazer outra prova.
Havia um desafio que a interessava: o “green trail” de Monsanto, às portas de Lisboa. São 22 quilómetros muito exigentes com trilhos que vão até aos mil e cem metros de altitude. Uma prova dura que precisava de uma instituição especial.
Um dia, em conversa com uma cliente no seu salão de beleza, Sílvia Duarte falou disto e escutou logo a resposta que mais queria ouvir: “mas eu conheço uma instituição que merece ser ajudada.” Era a Fundação AIS. Sílvia nunca tinha ouvido falar da AIS e uma vez mais pediu ajuda ao padre Nuno. Ele respondeu de imediato. “Por favor, Sílvia, corra por essa associação!” Sílvia vai correr pela Fundação AIS, procurando com este gesto mobilizar a generosidade de muitas pessoas, até porque faz questão de associar a sua corrida à campanha “SOS Cabo Delgado”.
As notícias que chegam do norte de Moçambique não deixam ninguém indiferente e para Sílvia esta é uma oportunidade também de alertar o mundo para a tragédia humanitária que se está a viver nesta região.
O grito de socorro das pessoas de Cabo Delgado vítimas dos ataques terroristas comoveu-me.”
Sílvia Duarte
UM EXEMPLO INSPIRADOR
O padre Nuno Westwood, que acompanha estas aventuras de Sílvia desde há vários anos, aplaude esta iniciativa por Cabo Delgado e destaca a importância também da fundação pontifícia. “A corrida da Sílvia para a Fundação AIS é um exemplo inspirador do compromisso pessoal e da solidariedade em prol de uma causa nobre”, afirma. “Ao angariar fundos e sensibilizar sobre a missão da organização, Sílvia não apenas demonstra o seu apoio prático, mas também inspira outros a envolverem-se e a fazerem a diferença. A sua dedicação reflecte o valor inestimável do trabalho da AIS e destaca a importância de indivíduos comprometidos que se dedicam a causas humanitárias e de justiça social”, acrescenta o pároco de Nova Oeiras e São Julião da Barra, no Patriarcado de Lisboa.
Para este sacerdote, tudo o que se puder fazer para divulgar a missão da Ajuda à Igreja que Sofre merece aplauso. “A missão é de uma importância transcendental, especialmente num mundo onde a liberdade religiosa é frequentemente ameaçada e os fiéis sofrem perseguições por causa das suas crenças. A organização desempenha um papel crucial ao oferecer apoio prático, espiritual e financeiro às comunidades cristãs em todo o mundo que enfrentam discriminação, violência e privações por causa da sua fé”, diz Nuno Westwood, sublinhando também a importância da promoção da consciência das pessoas para as questões da perseguição religiosa e dos direitos humanos.
UMA CORRIDA POR CABO DELGADO
O padre Nuno Westwood só tem palavras de estímulo para com a sua paroquiana que se transformou numa atleta por boas causas e por isso é um exemplo também para a sociedade. “A corrida da Sílvia e o apoio à Fundação AIS têm um efeito multiplicador, gerando consciencialização e incentivando a acção num contexto mais amplo. Ao unir esforços para apoiar as comunidades cristãs perseguidas, estamos não apenas a oferecer assistência prática, mas também a construir pontes de solidariedade e a promover a paz e a compreensão entre os povos”, diz.
Sílvia não gosta de falar, muito menos de dar entrevistas ou de ser filmada. Para ela, o que interessa mesmo é correr. E rezar também. Muitas vezes, no trabalho, quando espera a chegada de alguma cliente, Sílvia Duarte aproveita o tempo para rezar o Terço.
Mas agora o desafio é outro. É correr 22 quilómetros por Cabo Delgado, para alertar o mundo para a tragédia que se está a viver no norte de Moçambique. São vinte e dois quilómetros de uma corrida dura mas por uma boa causa. A prova é difícil, mas Sílvia não está assustada. “Quando estou a correr e fico cansada e com dores, lembro-me sempre da Cruz que Jesus Cristo levou às costas e a dor física que passou… E por alguma razão, que não consigo explicar, quando quero desistir, vou sempre buscar uma força que me leva mais adiante, que me leva até à meta.”
Seguramente é o que vai acontecer neste domingo, dia 26 em Monsanto, às portas de Lisboa. A corrida começa às nove horas da manhã. É uma corrida em socorro de um povo que nos pede ajuda.
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt