O cardeal Joseph Coutts vai ser galardoado pelo governo do Paquistão com o prémio Tamgha-i-Imtiaz pelos seus esforços na promoção da paz e da concórdia entre religiões. O arcebispo emérito de Karachi está muito ligado à Fundação AIS. Já esteve em Portugal e sistematicamente tem elogiado o trabalho da Ajuda à Igreja que Sofre no apoio aos cristãos perseguidos no seu país e em todo o mundo…
O arcebispo emérito de Karachi vai ser agraciado em Março do próximo ano com o prémio Tamgha-i-Imtiaz pelo seu trabalho incansável em defesa da paz e da harmonia inter-religiosa. Além do cardeal Joseph Coutts, afirma o Vatican News, o governo vai premiar outras 103 personalidades – paquistaneses e estrangeiros – devido às suas contribuições excepcionais para com o país.
O prémio foi anunciado pelo presidente do Paquistão, Asif Ali Zardari, que não regateou elogios ao purpurado. “O seu serviço à humanidade e o seu papel em unir diferentes religiões são uma inspiração para todos os paquistaneses”, disse o responsável.
O Cardeal Coutts é uma figura de enorme prestígio no Paquistão e está desde há muitos anos ligado à Fundação AIS, nomeadamente a Portugal, país que visitou em 2015 a convite do secretariado nacional da instituição, e que o levou a visitar o Santuário de Fátima e a presidir à “Ronda da Lapinha”, uma procissão muito popular em Guimarães que, nesse ano, teve como propósito a intercessão de Nossa Senhora pelos Cristãos perseguidos no mundo.
Ainda no final do ano passado, no contexto do Sínodo dos Bispos, que decorria no Vaticano, Coutts recordava, em declarações à Agência Ecclesia, essa viagem.
Lembro-me de quando vim a Portugal há alguns anos. As pessoas são tão boas e a Fundação AIS tem-nos ajudado de várias formas, por isso precisamos também das vossas orações. Por favor, lembrem-se de nós nas vossas orações e nós rezaremos por vós. Deus vos abençoe”
Cardeal Joseph Coutts
ASSOCIADO À FUNDAÇÃO AIS
Já depois dessa viagem a Portugal, o arcebispo emérito de Karachi escreveu o prefácio para o Relatório “Perseguidos e Esquecidos?”, que a Fundação AIS editou, a nível internacional, em 2019. Nesse documento, o prelado fez questão de sublinhar a proximidade para com a fundação pontifícia e o seu papel na defesa não só dos cristãos perseguidos mas também na promoção da liberdade religiosa em todo o mundo.
“Ao longo de vários anos, a Fundação AIS, com secretariados em muitos países, tem trabalhado para dar voz a estes Cristãos sem voz”, escreveu nesse texto em que assumiu a sua ligação à instituição. “Estou associado à Fundação AIS e tenho testemunhado o bom trabalho feito ao longo de mais de duas décadas”, disse, considerando ser “uma honra” ser o autor do prefácio do referido relatório. “Na República Islâmica do Paquistão – escreve o Cardeal – onde os Cristãos são uma pequena minoria numa grande população de mais de 200 milhões de pessoas, enfrentámos todas as formas de perseguição ao longo dos anos, e nos momentos mais difíceis, encontrámos força no encorajamento e apoio recebidos pela Fundação AIS.”
ATAQUES AOS CRISTÃOS
O anúncio, agora, pelo presidente do Paquistão da atribuição do prémio Tamgha-i-Imtiaz ao Cardeal Joseph Coutts é também relevante para a comunidade cristã que tem vivido tempos muito atribulados ao longo dos últimos anos.
Há precisamente um ano, a 16 de Agosto, ocorreram gravíssimos incidentes em Jaranwala motivados por uma falsa acusação de blasfémia e que provocaram a destruição de 26 igrejas e capelas e de numerosas casas de habitação. Mais recentemente, a 25 de Maio, em Sargodha, uma multidão enfurecida, instigada também por um falso caso de blasfémia, espancou brutalmente um cristão, Nazir Masih, que acabaria por falecer dias mais tarde, já em Junho, no hospital.
Ambos os casos, a que se juntam inúmeros episódios também de rapto de raparigas e jovens mulheres que são forçadas a converterem-se ao Islão e a casar com os raptores, ajudam a perceber o ambiente de violência em que se encontra a comunidade cristã, assim como de outras minorias religiosas neste país asiático. É neste contexto que ganha relevo o prémio agora atribuído ao arcebispo emérito de Karachi.
No prefácio para o Relatório de 2019, o prelado traça um retrato breve mas poderoso do que significa viver a fé num país onde a perseguição religiosa é uma constante no dia-a-dia. “Nos últimos anos tem havido um crescimento da intolerância na sociedade, agravado pelo crescimento de grupos islâmicos militantes e extremistas como os talibãs e outros grupos filiados na Al-Qaeda e no Daesh. Em 2001, vivemos a experiência traumática de dois jovens extremistas, armados com armas automáticas, que irromperam por uma igreja em Bahawalpur e mataram 15 crentes, tendo ferido dezenas de outras pessoas. Foi a primeira vez que tivemos um ataque deste tipo a uma igreja.”
E o relato prossegue. “O pior ataque até à data foi o de um bombista suicida a uma missa dominical, quando as pessoas estavam a sair da Igreja de Todos os Santos, em Peshawar, em 2014. Foram mortos cerca de 150 fiéis e 300 ficaram feridos.” E o Cardeal Coutts continua a falar do que significa ser Cristão no seu país, transformando este texto, o prefácio do relatório da Fundação AIS de 2019 num testemunho significativo. “Sim, é verdade que temos liberdade de crença e liberdade para praticar a nossa fé, mas temos de estar preparados para enfrentar a ira daqueles que, no nosso país, têm uma mentalidade diferente…”
A atribuição agora do prémio Tamgha-i-Imtiaz pelo governo do Paquistão irá certamente dar ainda mais peso às palavras e às denúncias que D. Joseph Coutts não se tem cansado de pronunciar como alerta para a situação trágica em que vivem os Cristãos no seu país…
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt