O Papa Francisco fará hoje a sua primeira visita à Papua-Nova Guiné, um país que só conheceu o Cristianismo há cerca de 70 anos. Neste canto do mundo, os Cristãos prepararam com entusiasmo a sua chegada com a ajuda de missionários como o Padre Martín Prado, do Instituto do Verbo Encarnado. Este missionário vive há 10 anos em Vanimo, cidade costeira que o Papa visitará, e partilhou o seu testemunho com a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (Fundação AIS), explicando como é viver a fé num país de selvas tropicais e paisagens deslumbrantes.
A visita do Papa estava prevista há alguns anos, mas a viagem foi adiada devido à COVID. Quais são as expectativas dos Cristãos agora que o Papa Francisco está finalmente a chegar?
A visita do Santo Padre à Papua-Nova Guiné, e em particular a Vanimo, foi recebida com grande surpresa e alegria por toda a gente. Devido ao acesso limitado às notícias e às redes sociais, poucas pessoas sabiam que ele estava em viagem. Estamos todos muito entusiasmados e a trabalhar arduamente para podermos acolher o Papa da melhor forma possível, apesar da simplicidade e pobreza em que vivemos. A única maneira de ir e vir de Vanimo é de avião ou de barco.
Que frutos esperam da visita do Papa para a comunidade católica do país?
Acreditamos que a visita do Papa irá reforçar a nossa fé e a nossa vida espiritual. Improvisámos um espaço no campo de futebol local e todas as noites rezamos o terço. Organizámos palestras, cânticos e algumas danças, tudo aquilo de que os Papuas gostam muito. Além disso, tivemos confissões, com a participação de pessoas de todas as paróquias, que vieram a pé ou em camiões. Foi muito comovente. Nalgumas das noites mais concorridas, tivemos 3000 a 4000 pessoas a participar. As pessoas aguardam com entusiasmo e emoção a chegada do Santo Padre, e esperam o encontro com o Senhor que tanto desejam.
A fé chegou à Papua-Nova Guiné há muito pouco tempo. Como é que os Cristãos vivem? O que é que aprendemos com a sua fé?
A fé dos Cristãos aqui é muito viva e muito simples, é uma fé jovem, com a qual aprendo muito. Os primeiros missionários só chegaram aqui há 70 anos e muitos ainda interpretam o Cristianismo através do quadro das suas crenças ancestrais, uma vez que a espiritualidade indígena ainda é muito influente, o que lhes dificulta a compreensão total do Cristianismo. Apesar disso, muitas pessoas estão muito abertas à fé, e vemos conversões através de coisas muito simples, o que mostra que Deus está realmente por detrás de tudo e que o Espírito Santo está a trabalhar nelas. Na selva, por exemplo, tivemos a oportunidade de baptizar famílias inteiras, de as ensinar a fazer o sinal da cruz e de pregar o Evangelho pela primeira vez. Há pessoas que têm verdadeiramente sede de Deus, de vida espiritual. Ainda recentemente, por exemplo, uma criança veio ter comigo e disse-me: “Padre, eu quero comungar, quero receber a Eucaristia. Por favor, ajude-me.”
Mas a evangelização não pode ser fácil…
Há aqui um forte compromisso com as tradições ancestrais e culturais que não são compatíveis com o Evangelho. As crenças espirituais e as superstições são persistentes e, por vezes, confundem-se com a fé católica. O nosso trabalho, enquanto missionários, consiste em ajudar os Cristãos a compreenderem que estas coisas não combinam e a tentarem mudar. Por vezes, são eles os primeiros a tomar consciência disso. Muitas pessoas são capazes de discernir o que é verdadeiro do que é falso, apesar de não saberem ler nem terem tido qualquer tipo de formação sofisticada. No entanto, quando não cuidamos da nossa vida espiritual ou não vivemos para os outros, é muito fácil deixarmo-nos influenciar por superstições e elementos superficiais.
E os jovens? Que dificuldades enfrentam?
Um dos maiores desafios que os jovens da Papua-Nova Guiné enfrentam é o casamento e a constituição de uma família. Ao contrário da cultura ocidental, aqui existe apenas uma ideia geral do casamento. Os jovens não têm modelos a seguir ou que sirvam de inspiração, e só alguns têm o apoio e o acompanhamento dos pais para se comprometerem com os seus cônjuges para toda a vida. Formar boas famílias é um desafio, mas vemos que, pouco a pouco, as coisas começam a mudar.
Como é que podemos ajudar os Cristãos na Papua-Nova Guiné?
A primeira coisa é a oração: rezar pelos nossos irmãos, pelas almas que ainda não conhecem Cristo e por todos os lugares onde a mensagem do Evangelho ainda não chegou. Rezar também pelos missionários e pelas vocações, que é o que pode realmente levar à mudança. Em 2019, iniciámos um grupo de oração pelas vocações e, desde então, o número de padres duplicou. Começámos a ter vocações locais, que nunca tínhamos tido antes. Já temos três seminaristas e dois noviços.
Precisamos também de ajuda material. As pessoas vivem em condições muito precárias e quase não têm medicamentos; estamos a tentar construir um lar para crianças deficientes, uma escola e um lar para raparigas órfãs que foram vítimas de violência. Precisamos sempre de ajuda para isso, mas sabemos que Deus providenciará sempre, a Sua ajuda virá através dos corações de benfeitores generosos. Graças à Fundação AIS, à qual estamos muito gratos, pudemos levar a cabo muitos projectos diferentes e ajudar a apresentar o amor de Cristo a mais pessoas.
Maria Lozano e Teresa Fontes
Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt